Dia mundial da Justiça Social
No dia 20 do corrente mês de fevereiro celebrámos o Dia Mundial da Justiça Social. Foi, este dia, proclamado como dia da Justiça Social através da Resolução 62/10 da Assembleia Geral das Nações Unidas em 26 de novembro de 2007.
Foi criado como uma grande oportunidade para que, a nível mundial, haja um diálogo não só entre as diferentes organizações da sociedade civil mas também entre os diferentes poderes para colocarem diante de si o longo caminho da construção de uma sociedade justa onde todos vejam respeitados os seus direitos a uma vida digna. Este ano, sob o tema, “Reforçar uma transição justa para um futuro sustentável” coloca a urgência de integrar a justiça social nas políticas de ação climática e desenvolvimento económico.
As alterações climáticas aí estão a colocar como urgente a mudança de políticas ambientais para todos os países. Como é possível negar a urgência climática?
A recente saída dos Estados Unido do acordo de Paris é um mau presságio para este projeto de alterar políticas e comportamentos. A «Laudato Si» e a «Laudate Deum» do Papa Francisco são documentos que desafiam a mudança de comportamentos perante a destruição da Mãe Terra e convidam todos os homens de boa vontade a recuperar o tempo perdido e as políticas de destruição da vida e do seu espaço.
A pergunta inquietante é: ainda vamos a tempo?
Os diretores da Rede Internacional de Organizações Católicas para o desenvolvimento apelam “aos líderes políticos, económicos e sociais” que “tomem medidas imediatas e corajosas. Os desafios globais persistem, com sistemas económicos que continuam a dar prioridade ao lucro em detrimento das pessoas, perpetuando ciclos de conflito, colonialismo, violações dos direitos humanos e dívida injusta”,
A este grito inquietante juntam-se as diferentes vozes de organismos internacionais que, como a OIT, vem lembrar os «elevados níveis de desigualdade: “4 mil milhões de pessoas estão privadas de proteção social, 453 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar não conseguem encontrar emprego, e 214 milhões de trabalhadores vivem com menos de 1,90 dólares por dia”.
Num tempo de «pluri-crise», afirma Josaine Gautier, secretária geral da CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Sociedade), “os principais desafios são: a perturbação climática, a extrema pobreza, a violência, a guerra e os conflitos por recursos, género, desigualdade social e racial”, acrescentando que tudo é desencadeado «por desequilíbrios de poder e uma cultura de desperdício. Estamos a reconhecer que na verdade é apenas uma crise interconectada, na relação entre humanos e todo o resto da criação».
Entre nós é de salientar o alto nível de racismo e xenofobia ressaltado pelo resultado do Inquérito às condições de cida, origens e trajetórias da copulação residente, publicado pelo INE em dezembro de 2023: “mais de 1,2 milhões de pessoas (16,1%)já sofreram discriminação em Portugal, mais sentida por pessoas que se identificam como ciganas (51,3%), negras (44,2%) ou com pertença mista (40,4%), assim como as mulheres (17,5%), as pessoas mais jovens (18,9%), escolarizadas (18,9%) e desempregadas (24,9%). Mais de 4,9 milhões de pessoas (65,1%) consideram existir discriminação em Portugal e 2,7 milhões (35,9%) já testemunharam esse tipo de situações”.
Não estão fáceis os caminhos da justiça e muito mais os caminhos da justiça social. Confiemos que os fermentos de paz e de bom senso não estejam corrompidos nem se deixem corromper para que possamos, com Thiago de Melo afirmar: “faz escuro mas eu canto porque a manhã vai chegar”. Todo o poder tem pés de barro… mas entretanto há homens, mulheres e crianças esmagados, reduzidos a escombros.
Termino com o grito de Josaine Gautier no seu comentário ao dia Mundial da Justiça Social: «Como podemos permitir que outros seres humanos fujam de suas casas devido às nossas próprias escolha políticas e económicas que os afetam e depois os rejeitamos quando atravessam a fronteira e precisam da nossa solidariedade?”.
Idalino
