Abertura Solene do Ano Pastoral 2020-2021, Homilia de Dom Virgílio

ABERTURA SOLENE DO ANO PASTORAL DE 2020-2021
XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM (A)

Caríssimos irmãos e irmãs!

Abrimos hoje solenemente o ano pastoral de 2020-2021 animados pela esperança de poder continuar a edificar a Igreja Diocesana de Coimbra iluminados pelo Espírito Santo, conduzidos pela Palavra Viva do Evangelho de Jesus Cristo e com um olhar simples e fraterno dirigido a toda a humanidade que Deus ama.

Ontem realizámos uma jornada intitulada: “Formamos um só corpo em Cristo” (Rm 12, 5), dirigida aos conselhos pastorais e às equipas de animação pastoral das unidades pastorais, dois órgãos de participação e corresponsabilidade que manifestam o caminho sinodal proposto a toda a Igreja e oficialmente acolhido pela nossa Diocese.

Ficámos felizes por saber que leigos, consagrados e diáconos, conduzidos pelos párocos como legítimos pastores das comunidades cristãs, estão já a sentir-se membros vivos deste Corpo Vivo, que é a Igreja. Sentimos de forma mais clara que Cristo é o nosso caminho, o nosso método, o conteúdo e a razão de ser de toda a nossa ação e da organização em curso na nossa Diocese e nas suas unidades pastorais.

Neste início de ano manifestamos a nossa alegria e disponibilidade para continuar, porventura ainda com mais entusiasmo e esperança, a percorrer os caminhos da renovação, tão desejada como urgente, da nossa fé e da vida da nossa Igreja.

Hoje, somos confrontados com a Palavra de Deus que nos fala da vinha do Senhor, tanto na primeira leitura como no Evangelho. É uma imagem cheia de significado, que nos recorda o amor universal de Deus a toda a humanidade, a toda a criação e que tem na Igreja, Seu Povo, o sinal ou sacramento desse cuidado divino.

Na celebração de S. Francisco de Assis, o Papa Francisco oferece-nos, neste mesmo dia uma Carta Encíclica intitulada “Fratelli Tutti”, todos irmãos, que, além de proclamar a universalidade do amor de Deus, afirma igualmente que a urgência do amor humano, caraterística da nossa condição de Filhos do mesmo Pai e irmãos em Jesus Cristo, o Filho.

Estamos diante da revelação bíblica, por um lado, e do Magistério Pontifício, por outro, que a atualiza para os tempos hodiernos, dentro da grande Tradição da Igreja. Temos, agora, a graça de concretizar tudo isso na vida pessoal, familiar e eclesial, sentindo que é verdadeiro caminho de evangelização do mundo em que vivemos.

A vinha do Senhor é toda a humanidade que o Pai criou e pela qual Jesus Cristo ofereceu a Sua vida. O Evangelho falava-nos do filho do dono da vinha, no qual podemos entender a pessoa de Jesus, Aquele que não se serve da humanidade, mas serve a humanidade, Aquele que não explora, mas potencia e faz crescer, Aquele que não tira a vida a ninguém, mas dá a vida para que todos vivam.

A revelação do amor universal de Deus constitui o princípio fundamental do anúncio da Boa Nova, pois nele todos se podem sentir incluídos, ninguém fica de fora se humildemente acolher o dom que lhe é oferecido.

Quando na Oração Eucarística fazemos memorial do sacrifício de Jesus Cristo e oferecemos o Pão, repetimos as palavras de Jesus “isto é o Meu Corpo, que será entregue por vós”. Trata-se de palavras que resumem a entrega do Filho para salvação da humanidade. Depois, oferecemos o vinho e pronunciamos as palavras de Jesus “Este é o cálice do Meu Sangue... derramado por vós e por todos”. Trata-se da declaração de Jesus e, agora, da Sua Igreja, que revela em palavras e gestos sacramentais o amor único de Deus por todos os seus filhos, no sinal do sangue derramado por todos.

A vinha do Senhor é a humanidade que Ele ama com o Seu amor divino, pela qual entrega o Filho à morte e pela qual abre as portas da ressurreição. Eis o âmago da nossa fé renovada em cada Eucaristia e proclamada solenemente quando a assembleia em uníssono aclama: “Anunciamos, Senhor, a Vossa morte, proclamamos a Vossa Ressurreição, vinde, Senhor Jesus!”

A Igreja não realiza a sua condição de sinal ou sacramento da salvação se não manifesta quotidianamente o amor de Deus por toda a humanidade, enquanto Sua vinha eleita escolhida e cuidada. Deste modo, toda a ação da Igreja, sacramental, litúrgica, pastoral, evangelizadora, caritativa, têm como única motivação levar a humanidade a acolher o amor de Deus e a sentir-se um povo de filhos.

Convido-vos, caríssimos irmãos e irmãs, a renovar constantemente este sentido teológico e espiritual no momento de programar ou executar sejam quais forem as ações próprias da vida das comunidades cristãs.

A vinha do Senhor é a Igreja, o Povo de Deus, constituído pelos que foram chamados ao batismo e à participação no Corpo de Cristo. O Profeta Isaías referira-se à casa de Israel e à casa de Judá, aludindo ao antigo Povo de Deus, chamado a ser depositário da revelação do Antigo Testamento. O Evangelho, que é presença de Jesus Cristo nas palavras e gestos para os tempos novos, anuncia o Novo Povo de Deus de que somos membros e em cuja edificação colaboramos com o auxílio do Espírito Santo.

Cristo amou a Igreja, esta nova vinha escolhida, e por ela deu a Sua vida, a fim de a apresentar ao Pai, santa e imaculada. É uma graça inexcedível poder entrar na Sua missão e dar continuidade ao Seu projeto, apesar das nossas fragilidades e pecados.

Convido-vos, caríssimos irmãos e irmãs, a amar a Igreja de Cristo, com o mesmo amor com que procuramos amar a Deus. Sendo a nossa Diocese, porção desse Novo Povo de Deus e cada uma das nossas comunidades lugar da sua realização na unidade e na comunhão, amá-la é caminho de fé e é sinal de esperança para todo o corpo.

Não nos fiquemos por um amor em geral ou abstrato, mas procuremos que seja minucioso, concreto e real no modo como tratamos cada pessoa, cada instituição, cada comunidade, cada grupo ou cada atividade. Comecemos por uma atitude construtiva, mesmo que algumas vezes seja crítica; continuemos pela via da comunhão de sentimentos e pela unidade da ação; selemos tudo com a disponibilidade para a servir, mesmo com o sacrifício das nossas ideias, dos nossos planos e da organização das nossas prioridades e tempos.

No início de um novo ano pastoral, cheio de esperanças, mas também perpassado pelas apreensões próprias do momento que vivemos, renovemos a certeza de que amar a Igreja e dar por ela a sua vida é a nossa vocação de filhos, de discípulos, de servos de Deus e de servos da humanidade.

Na programação como na ação, tanto os pastores como os outros fiéis, façamos da caridade pastoral o nosso mote fundamental, para que tudo concorra para fazer crescer em nós o amor a toda a humanidade e o amor à Igreja, vinha pela qual Jesus Cristo, o Bom Pastor, deu a Sua vida.

Coimbra, 04 de outubro de 2020
Virgílio do nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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