Clausura do Jubileu dos Mártires de Marrocos e de Santo António - Homilia de Dom Virgílio

CLAUSURA DO JUBILEU DOS MÁRTIRES DE MARROCOS E DE SANTO ANTÓNIO
IGREJA DE SANTA CRUZ DE COIMBRA

Caríssimos irmãos e irmãs!

O Evangelho de hoje oferece-nos o paradigma do processo habitual de anúncio da fé em Cristo, de encontro com Ele e de saída para evangelizar.

João Batista anuncia a passagem de Jesus aos dois discípulos que estão com ele: “Eis o Cordeiro de Deus”. Eram apenas dois discípulos e um só a anunciar. A palavra carregada de força interior e de convicção despertou nos dois discípulos um desejo de conhecer Jesus e de O ir ver. Foram ver e ficaram com Jesus nesse dia.

Neste momento revela-se para nós a importância daquele que anuncia e da Igreja nas suas variadas comunidades, em cada um dos seus membros, de acordo com os dons que recebidos e com a sua vocação assumida. Pensamos nos sacerdotes, nos catequistas, nos pais, nos professores e outros educadores, em cada um dos que sentem o apelo a anunciar Jesus ao seu próximo, seja em ações de primeiro anúncio, seja em palavras ou no testemunho quotidiano de fé cristã.

O impacto do anúncio de Jesus tem muito a ver com o impacto real de Jesus na vida daquele que O anuncia. João Batista, atraía pelo seu modo de vida e pela sua palavra de verdade, atraía porque manifestava de forma visível que o Messias era a razão de ser da sua vida e que a sua missão de pessoa e de profeta consistia em mostrá-lo presente no meio do povo.

“Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia”.

A curiosidade motivada pelo anúncio firme e sentido leva a querer conhecer Jesus, o Messias, que na sua condição de Deus e Homem mostra as outras faces da vida frequentemente ocultas nas situações diárias em que nos encontramos. Todos sentimos sede de mais verdade, desejo de infinito, ânsias de amor eterno, respostas para as perguntas que nos atormentam.

Todos queremos ver Jesus, saber onde mora e permanecer na sua casa, mesmo que estes desejos calem simplesmente no silêncio interior e raramente sejam expressos por meio de palavras. Ninguém encontra em si, nos outros, no mundo, na humanidade, respostas completas e motivadoras para a alegria de viver ou para acolher com confiança as tribulações que ocorrem. Precisamos de respostas profundas, espirituais, que iluminem todos os recantos do nosso ser.

Faz parte da longa e contínua experiência da fé que encontrar-se com Jesus e permanecer na sua companhia, partilhar a sua vida, escutar as suas palavras, entrar no coração de Deus por meio d’Ele, fortalece a esperança, potencia o amor, dá razões fortes à inteligência e ao coração.

Com humildade, os discípulos deixaram-se tocar pelo anúncio, tiveram a grande curiosidade que os levou a ir ver onde Jesus morava, tiveram a coragem de acolher e exprimir as questões fundamentais que albergavam no seu interior. O encontro com Jesus mudou-os e nunca mais foram como eram, nunca mais enfrentaram tudo da mesma maneira, pois aquele encontro foi verdadeiramente transformador.

“«Encontrámos o Messias» – que quer dizer ‘Cristo’ -; e levou-o a Jesus”.

Estas são palavras centrais no Evangelho, que fundam a vocação evangelizadora da Igreja e de cada cristão. “Encontrámos o Messias” é uma afirmação em primeira pessoa, cheia de ardor, marcante para o coração, transformadora da vida.

Tal como o Heli no Antigo Testamento é o intermediário humano para o encontro com Deus do jovem Samuel, André, no Novo Testamento, é o intermediário para o encontro de Pedro com Jesus Cristo. Abrem assim o caminho à vocação da Igreja e de cada cristão para ser sacramento do encontro da humanidade com o Senhor.

A humanidade espera de nós a realização dessa missão por meio da evangelização, em gestos e palavras que calem fundo no coração de cada pessoa que deseja e espera esse momento, mesmo que ainda o não tenha assumido consciente e explicitamente.

A situação de pandemia que nos assola encerra em si muitas facetas dramáticas, que causam sofrimento a todos e fazem abalar a muitos os alicerces da confiança, da esperança, das motivações para testemunhar a esperança e põem em risco a alegria que tem de fazer parte integrante de nós para sermos felizes sobre a terra que pisamos. Estão, de facto, em crise muitas das condições importantes de que precisamos para permanecermos na tranquilidade e na paz de espírito para que fomos criados. O trabalho, a economia, a proximidade, o convívio familiar, a doença e o contacto diário com tão elevado número de mortes entre os amigos e conhecidos tornaram-se uma carga difícil de suportar.

A partir da fé enraizada em nós pela graça de Deus, temos diante dois caminhos convergentes a seguir. Em primeiro lugar, o acolhimento e o anúncio de Jesus Cristo como a nossa vida, a nossa companhia, a nossa alegria e a nossa esperança. Em segundo lugar a saída ao encontro de todos os que Jesus quer acolher na sua casa, ao encontro dos que Jesus convida a ir para conhecerem onde mora e como é de paz e de amor a sua morada.

Conforta a todos a certeza de que Jesus tem nesta humanidade em estado de pandemia a sua própria casa, a fé na sua presença entre nós como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, a certeza de que o Messias veio para nos salvar das nossas angústias, da tristeza e da morte que nos envolvem.

Todo aquele que dá um passo, por pequeno que seja, para anunciar Cristo Salvador aos outros, para os acompanhar na sua morada de dor, para partilhar com eles a sua esperança, está a dar um passo gigante e que faz a diferença, está a realizar a sua missão de pessoa e de cristão, está a ajudar os outros a encontrarem o caminho para a casa de Deus, que é a casa da humanidade.

Hoje encerramos a porta do Jubileu dos Mártires de Marrocos e de Santo António, que foi ao longo deste ano o sinal visível entre nós da porta da casa de Deus, amigo da humanidade, que convida a todos a entrarem para saborearem a alegria de estar com Ele e com os irmãos.

Movidos pelo testemunho fiel destes Mártires e Santos queremos ajudar a manter as portas da casa de Deus sempre abertas a todo aquele que desejar entrar por elas. Facilitaremos o caminho, falando ao coração, testemunhando com as obras, dando a vida, como fez Jesus, como fizeram os Mártires e como fez Santo António.

Coimbra, 17 de janeiro de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 


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