Dedicação da Catedral - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DA DEDICAÇÃO DA CATEDRAL
Igreja da Sé Velha

Ez 47, 1-2.8-9.12; Ef 2, 19-22; Lc 19, 1-10

Caríssimos irmãos e irmãs!

Ao longo de muitos séculos que a nossa catedral se encontra edificada no centro da cidade como verdadeira “domus ecclesiae”, como a casa da Igreja, sinal visível de Deus, que habita no meio do  seu Povo. Neste lugar, Deus continua a manifestar o Seu desejo de acolher a todos na sua morada santa, pois no Seu coração há lugar para cada pessoa que se decide a entrar à procura do repouso e da paz que só ali se encontra. Ouvir o convite para entrar é sinal de disponibilidade para escutar a voz amorosa do Senhor da Casa, e cruzar o limiar da porta é fruto da decisão de se abrir à fé, a única resposta adequada ao convite para o encontro.

Em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homem, abriu-se para nós a possibilidade de entrar no coração de Deus, a alegria de partilhar o seu amor, na Sua Casa. Estamos diante do dom do acolhimento gratuito, que Deus nos oferece, pois a sua alegria é estar com os seus filhos e encher a casa de irmãos, que festejam a vida e a salvação.

Este convite de Deus, quando é sentido e experimentado na relação íntima e pessoal, gera sempre o desejo de O acolhermos também na nossa própria casa. “Zaqueu, desce depressa, que eu hoje preciso de ficar em tua casa” – palavras de Jesus que não espera pelo convite, mas se oferece para entrar e permanecer connosco. Quando se cruzam estas duas vontades e se conhece em profundidade a amizade d’Aquele que se aproxima de nós, abrem-se as portas da casa, do coração e da vida.

A nova situação daquele que entra na casa de Deus e acolhe a Deus na sua própria casa marca-nos de tal modo que não permanecemos exatamente como éramos antes. Não significa que passemos a ser perfeitos de um momento para o outro, mas esse convívio é como uma nova luz que se acende a alumiar todas as penumbras do nosso ser.

Não admira que Zaqueu tenha posto em causa o seu modo de ser, o seu código de valores e as suas ações. Aquele diálogo e aquela proximidade na intimidade do lar, despertam tudo o que de bom estava atrofiado nele e abrem os novos horizontes dos caminhos da conversão em ordem à santidade. O convívio com Deus, na Sua casa, e a amizade com Deus na nossa casa é sempre transformador, gera sempre uma realidade nova, que não valorizávamos, porque não a conhecíamos.

A Igreja, povo de Deus, foi instituída por Jesus Cristo para ser sinal da salvação de Deus e para ser a casa em que este diálogo, esta relação, esta amizade e este encontro se dão. Agradecemos a Deus por no-la ter dado e por fazer de nós seus filhos, pedindo-Lhe a graça de tudo fazermos para continuarmos a aceitar o convite de entrar na Sua casa e a disponibilidade para O acolhermos na nossa própria casa.

A epístola aos Efésios ajudava-nos a tomar consciência da missão que nos foi confiada, a nós, que já fomos integrados nesta construção e nos sentimos chamados a ser templo santo e morada de Deus por meio do Espírito Santo.

Se o fogo da pertença a Cristo e à Sua Igreja arde dentro de nós, ficamos inquietos e motivados para darmos o nosso contributo em ordem à edificação deste Povo. Os caminho são os de sempre: a fidelidade a Cristo na procura da santidade de vida, o amor à Igreja como nossa casa e nossa mãe, e o sentido da missão, para que outros possam experimentar a mesma graça.

Ao utilizar a imagem do templo situado no alto do monte e da água viva que sai da parte inferior do limiar da sua porta para irrigar todas as regiões da terra a fim de as tornar verdejantes e cheias de vida, o Profeta Ezequiel fala-nos da torrente de graça que, saindo de Deus, revitaliza a humanidade. Podemos ver ali uma alusão profética à Igreja, sinal e sacramento da vida de Deus, que cura e salva o mundo.

Sentimo-nos imensamente gratos por fazermos parte deste templo santo e por sermos regenerados pela torrente das águas que nos dão a verdadeira vida; sentimo-nos igualmente gratos por nos sentirmos envolvidos nesta missão da Igreja, Corpo de Cristo e templo de Deus, situada no alto do monte que leva a água da vida ao nosso mundo sequioso do Deus Vivo.

Hoje, dois dos nossos seminaristas, serão instituídos, respectivamente, no ministério dos leitores e dos acólitos. Sentimo-nos muito felizes pelo caminho que estão a fazer como pessoas e como cristãos, pois vemo-los como um sinal de Deus enviado á nossa Igreja Diocesana. Neles, saudamos os outros seminaristas, gratos pelo seu sim à vocação sacerdotal.

A nossa Igreja Diocesana precisa de mais jovens para o seu serviço, de acordo com o dom da vocação que receberam. O sacerdócio é, sem dúvida, uma grande e bela vocação, sem a qual a Igreja não pode realizar a sua missão de ser sinal eloquente da salvação de Deus. É, ao mesmo tempo, um caminho de realização pessoal e um serviço incomparável à humanidade, pois nasce da comunhão íntima com Cristo, que nos associa à missão da Igreja.

Neste dia da Dedicação da Catedral, dirijo aos jovens da nossa Diocese um fraterno e amigo convite em nome do Senhor: deixem que Cristo entre na vossa casa, continuem a transpor a porta da Igreja para a escuta da Palavra, para a celebração da Eucaristia, para experimentar a alegria da intimidade orante com Deus, para o crescimento na fé e para o fortalecimento da esperança.

Que as pequenas gotas de água que são a vossa fé e o vosso testemunho se unam à torrente das águas que brota desta Igreja Diocesana de Coimbra, simbolizada nesta “casa de Deus” em que nos encontramos, e se transformem numa grande onda de evangelização, de graça e de vocações.

Santa Maria de Coimbra, a Virgem Mãe, que Deus acolheu em sua casa como Filha e que recebeu na sua morada o Filho de Deus como Mãe, interceda por todos nós e nos alcance a graça de sermos Igreja geradora da vida de Deus no coração deste Povo que Ele ama, Igreja geradora de vocações para a sua missão.

Coimbra, 16 de novembro de 2020
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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