Homilia de Dom Virgílio na Peregrinação Diocesana a Fátima

PEREGRINAÇÃO DA DIOCESE DE COIMBRA AO SANTUÁRIO DE FÁTIMA

CENTENÁRIO DAS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA

LEITURAS: Ap, 21, 1-5a; Jo 19, 25-27

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

 

Maria veio ao nosso encontro.

Viemos em peregrinação ao Santuário de Fátima porque a Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe aqui apareceu há cem anos como mensageira, com as mãos abertas para nos envolver na graça celeste e com o coração imaculado cercado de espinhos para nos chamar à penitência e à conversão.

Ao ver os caminhos errados que percorremos e o mundo sem esperança em que nos encontramos por estarmos longe de Deus e afastados do amor aos irmãos, Maria veio ao nosso encontro para proclamar que Jesus é a morada de Deus com os homens, Aquele que enxuga todas as lágrimas e rompe com as cadeias do luto e da morte.

Como Mensageira de Deus que proclama a força da fé e a possibilidade da esperança, a Virgem Mãe visita os seus filhos, qual cidade santa e nova Jerusalém, portadora de Jesus, o Filho de Deus que habita no meio dos homens.

Como filhos, queremos acolher as palavras da Mãe, que nos convida a acolher a Deus no coração e na vida. Estes cem anos, que agora se completam, constituíram um verdadeiro tempo de graça para a Igreja e para o mundo, trouxeram novo alento e nova esperança a todos os que percorreram a via da conversão e deixaram Deus entrar na sua vida, em resposta aso apelos do acontecimento sobrenatural de Fátima.

Vimos, por isso, em peregrinação de gratidão a Deus pelo dom que nos concedeu por meio de Maria e que tivemos a graça de receber pessoalmente, nas nossas famílias, na nossa diocese e na Igreja. Vimos em peregrinação de louvor, pois sentimo-nos demasiado pequenos diante dos prodígios do seu amor e da sua misericórdia. Vimos em peregrinação de súplica porque, humildemente, nos reconhecemos entre os pecadores que precisam de conversão.

 

Maria permanece junto a nós.

Nas aparições de Fátima, a Virgem Maria anuncia a presença de Jesus no meio dos homens como Aquele que renova todas as coisas. E Ela mesma, enquanto Mãe dada ao discípulo, à Igreja e a todos nós, acompanha-nos nesse processo de renovação realizado por Jesus, o único Salvador.

Quem peregrina a Fátima não faz somente uma caminhada física em direção a um lugar sagrado, não percorre simplesmente quilómetros de estrada, nem se desloca só do ponto de vista geográfico de um lugar para o outro. A peregrinação a Fátima é sempre sinal de uma peregrinação interior, de um desejo de progredir espiritualmente no amor a Deus e ao próximo, de uma decisão no sentido da conversão à fé, da vontade de caminhar com a Igreja, da abertura ao testemunho feliz no meio do mundo.

Vir a Fátima em peregrinação é um sinal de que acreditamos que Jesus é Aquele que renova todas as coisas e de que sentimos bem como é urgente essa renovação.

Interiormente sentimos necessidade de nos deixarmos reconstruir e modelar pelas mãos misericordiosas de Deus; as nossas famílias precisam de se deixar renovar pelo amor de Deus, pois frequentemente se sentem vazias, carecidas de laços fortes que as possam unir; a sociedade precisa de valores humanos e divinos que deem sentido aos seus anseios e sonhos, por vezes, desorientados e cheios de desalento; a Igreja precisa de viver da fé e da esperança em Deus como o único caminho da sua renovação.

Como aqui proclamou o papa Francisco no dia 13 de maio “temos Mãe”. Temos Mãe em Maria e temos Mãe na Igreja, um coração e uma comunidade que continuamente nos apoia e fortalece nos caminhos da renovação fundada em Jesus Cristo, Aquele que renova todas as coisas. Já Jesus o dissera no momento mais solene da sua vida sobre a terra, quando na cruz disse ao discípulo “eis a tua Mãe” e disse a Maria “eis o teu filho”.

Enquanto discípulos e filhos, somos testemunhas vivas dessa presença materna de Maria e da Igreja que nos acolhe, nos encoraja, nos incute esperança e nos acompanha em todos os momentos do nosso peregrinar sobre a terra. Maria e a Igreja permanece sempre junto à cruz do Senhor, de onde recebe toda a graça e toda a esperança; Maria e a Igreja permanece sempre junto às nossas cruzes para que nunca nos falte a fé em Deus e o amor à humanidade, tanto no meio das nossas alegrias como no meio das nossas dores.

 

Maria caminha connosco.

“E a partir daquela hora o discípulo recebeu-a em sua casa”. Com estas palavras o Evangelho de João indica-nos que havemos de ser uma Igreja centrada em Cristo e de rosto verdadeiramente mariano, o que nos traz alguns grandes desafios.

Primeiro, o desafio de nos abrirmos ao Espírito Santo, fonte de todo o crescimento e renovação interior. Maria ficou cheia do Espírito Santo e Ele moldou a totalidade do seu ser para acolher Jesus, o Verbo de Deus. Cada um de nós e toda a Igreja há de deixar-se transformar pelo Espírito Santo para ser verdadeiramente templo de Deus, onde Cristo habita e se encontra com os homens.

Depois, o desafio de acolher e anunciar a alegria do Evangelho, que é o próprio Cristo, a feliz notícia de Deus dada aos homens. Como entrou no coração e na vida da Virgem Maria, o Evangelho de Deus há de entrar em nós; como Ela se alegrou e exultou em Deus seu Salvador, a ponto de se tornar a Estrela da Igreja que anuncia, havemos nós também de fazê-lo transbordar em gestos e palavras de evangelização.

E ainda, o desafio de estarmos junto dos homens e mulheres nossos irmãos como Maria está junto de nós, sem olhar às nossas virtudes ou defeitos, mas olhando-nos apenas como filhos muito queridos. Pessoalmente ou como comunidade cristã mostraremos ao mundo o rosto mariano da Igreja quando saímos de nós e da nossa casa para ir ao encontro dos outros, particularmente dos que se encontram feridos pela vida ou marcados pelas suas muitas debilidades. Na vida pessoal ou comunitária, na liturgia ou na ação pastoral, evangelização ou na caridade, nas instituições eclesiais ou sociais, nas paróquias ou nas dioceses, é urgente incarnar o rosto mariano da Igreja, tornar mais palpáveis as suas mãos disponíveis para o serviço e fazer sentir mais fortemente o calor do seu coração.

Irmãos e irmãs, ponhamos nas mãos da Virgem Maria toda a nossa vida, as nossas famílias, as nossas comunidades e a nossa Igreja. Peçamos-lhe que continue a vir ao nosso encontro, que permaneça sempre junto a nós e que caminhe connosco para que mostremos ao mundo o rosto materno da Igreja e brilhe para todos a luz de Jesus Cristo, o Salvador. Ámen.

 

Basílica da Santíssima Trindade, Fátima, 8 de julho de 2017

Virgílio do Nascimento Antunes

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