Homilia Solenidade do Natal - Missa da Meia Noite - Sé Nova - 24-12-2014

O natal de há dois mil anos constituiu uma visita de Deus ao seu povo, já esperada por alguns, os chamados pobres do Senhor. Mesmo assim, apesar de muitas vezes ouvirem citar as profecias acerca da vinda do Messias e Salvador, foram apanhados desprevenidos, a ponto de poucos acreditarem que, n’Aquele Menino e naquelas circunstâncias estava presente o Filho de Deus.
O natal de há dois mil anos foi uma visita totalmente inesperada para muitos outros, preocupados com outras coisas, incluídas as questões religiosas, tão variadas nas suas formas. Também estes foram apanhados desprevenidos. Alguns acreditaram, apesar da pouca abertura e de se manifestarem plenamente convencidos pelas ideologias reinantes; alguns acreditaram, apesar de obcecados com a vida, a subsistência, o trabalho, o pão de cada dia.
Quando o profeta diz: “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz” ou “para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar”, ele desenha o grande ideal que o faz falar e o faz viver: anunciar a visita que o Senhor faz ao seu povo e que o não pode deixar indiferente, pois esse anúncio é portador da força de Deus que o faz alegrar-se, aumentar o seu contentamento, rejubilar; ou então, obscurecer as trevas da sua vida e fazer brilhar nela uma grande luz.
Quando o Menino nasceu, cumpriu-se a profecia, os Anjos alegraram-se e cantaram, os pastores foram ao presépio, José e Maria contemplaram o grande mistério. Ali, naquela hora e naquele lugar, Deus visitou o seu povo. A visita obedecia a um plano: dar a conhecer o amor de Deus pelo seu povo; incluía um sinal: a morte e ressurreição do enviado de Deus;  tinha uma finalidade: salvar a humanidade perdida nas trevas da morte. Muitos dos desprevenidos, acolheram-na de forma mais uma vez inesperada e sentiram-se interior e exteriormente transformados: aquele encontro realizado na fé deu origem a uma nova vida de irmãos e filhos de Deus, de discípulos missionários, disponíveis para anunciar a alegria do Evangelho acolhido. Todos se alegraram e a luz brilhou, de facto nas suas vidas.
Essa visita de Deus ao seu povo nunca mais terminou. Continuamos a ter a possibilidade e a graça de nos deixar visitar pelo Filho de Deus, que persiste em querer entrar no coração, em casa, na família, nos nossos pequenos ou grandes mundos. Esta é a proposta que o natal nos faz: abrir o coração à visita de Jesus Cristo, pois não nos faltam trevas e sombrias regiões onde é necessária a sua luz, nem tristezas e desânimos onde é urgente o seu contentamento e a sua alegria, nem situações de conflitos e guerras onde é precisa a sua paz, nem situações de injustiça onde é necessária a sua justiça.
No meio da confusão de sentidos que o natal adquiriu, somos chamados a ir com autenticidade à sua única fonte, para anunciar ao mundo que o Senhor visita o seu povo.
O encontro pessoal com Cristo marca para cada cristão o momento decisivo do acolhimento dessa visita e, ao mesmo tempo, o momento do nosso anúncio missionário, que só será credível se pudermos dizer com palavras e com a vida: o Senhor visitou-me no meio das minhas inquietudes e serenou-me; visitou-me nos meus sofrimentos interiores e deu-me a paz; visitou-me na minha doença e ofereceu-me razões inabaláveis para continuar; visitou-me quando estava mergulhado em problemas familiares, como a incompreensão, a proximidade da separação, e fez-me ver a outra face do amor; visitou-me quando estava a cair nos bárbaros atentados contra a vida, na injustiça ou na violência, e levou-me a contemplar a grandeza inviolável de toda a pessoa humana, em todas as fases da sua existência.
O mesmo encontro pessoal com Cristo funda a vida da Igreja, comunidade cristã, garantia perene de que Deus visita o seu povo. Do mesmo modo, a Igreja que nós constituímos só pode ter credibilidade no seu anúncio missionário, se viver a alegria de ter Cristo no seu seio; se der sinais de disponibilidade para servir a humanidade em todas as suas debilidades; se acolher a todos com os braços abertos de Jesus na alegria do presépio ou no sofrimento da cruz; se se preocupar menos consigo do que com os homens que Deus quer salvar.
Continuam a ser inesperadas e imprevisíveis as circunstâncias em que Deus visita o seu povo. De algum modo todos estamos desprevenidos, apesar das ideias, dos preconceitos, das defesas e seguranças meticulosamente construídas. Quando menos se espera, o Senhor visita o seu povo e cumpre-se, de novo, a promessa: “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz”.
A partir da fé procuremos estar disponíveis para O acolher nesta visita que nos faz e que, connosco, quer fazer a muitos outros.
Um  santo e feliz natal!

Coimbra, Sé Nova, 24 de dezembro de 2014

 

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