Natal do Senhor, missa da Noite - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR  - 2019
MISSA DA MEIA NOITE, NA SÉ NOVA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Chegamos à Solenidade do Natal do Senhor e vemos no nascimento do Menino Jesus do Presépio a realização do sinal de Deus dado à humanidade, como realização das antigas profecias. Ao povo que andava nas trevas e carregava com o jugo da opressão e da guerra, foi dada uma luz, que fez vislumbrar a possibilidade de encarar a vida com esperança. O mundo não tem de resignar-se a viver imerso em trevas nem pode resignar-se a continuar a ser lugar de infelicidade para muitos.

O presépio que o Papa Francisco nos repropõe como figuração da possibilidade de mudança de atitude e como símbolo capaz de contrariar a cultura que entre nós se instalou, é simples representação do sinal admirável dado por Deus à humanidade. O presépio é, já por si mesmo, uma amostra da simplicidade, do amor e do carinho, que hão de marcar as pessoas na sua convivência, mas é, mais ainda, uma forma de mostrarmos a centralidade e a presença de Deus no meio do seu povo, por meio de uma criança, Jesus, o Seu Filho Primogénito e o nosso Irmão.

Ao oferecer-nos a realidade familiar como lugar da simplicidade, das relações sem protocolo, da amizade sem interesses, do amor sem desejo de retribuição, o presépio protagoniza um mundo bem diferente daquele que se tornou complexo, uma sociedade menos marcada pelos formalismos, uma cultura mais centrada na pessoa do que nas coisas. O presépio contraria tudo o que são esquemas de vida assentes na autossuficiência, no egoísmo, nas estratégias de poder, nas futilidades que se procuram como forma de preencher a vida.

A representação do Natal de Jesus, ocorrido nas circunstâncias narradas pelo Evangelho, em Belém da Judeia, há pouco mais de dois mil anos, fala a toda a humanidade, crente e não crente. Aos crentes ajuda a centrarem-se na Pessoa de Jesus, a realização de todas as promessas de salvação de Deus, a verem na família unida o lugar da vida, do amor e da paz, a sentirem toda a humanidade como um povo de irmãos e como fruto do amor criador de Deus, a renovar a esperança de uma humanidade e de um mundo melhores. Aos não crentes, o Presépio sugere igualmente tudo o que há de bom inscrito no coração de toda a pessoa e apresenta os grandes desafios de construção de um mundo mais fraterno e cheio de paz.

Na sua simplicidade e na criatividade das suas formas quase ingénuas, o presépio contrasta radicalmente com muitas outras representações que a pouco e pouco se foram instalando entre nós e que falam sobretudo ao comércio, ao consumismo, à avidez de possuir, à confiança na humanidade e à superficialidade da vida, mais do que à profundidade da existência na relação com os outros, com Deus e com o mundo.

Como cristãos, somos convidados a voltar sem complexos às representações do Natal que favoreçam o encontro feliz com a beleza da fé e que ajudem a humanidade a rejeitar as propostas efémeras de felicidade para ancorar a sua vida no amor e na ternura que originam a fraternidade e a partilha com todos, independentemente da condição em que se encontrem.

Mas, mais do que as representações do Natal de Jesus, importa que as famílias cristãs se centrem no processo de educação da fé de todos os seus membros. A única forma que temos de ajudar a transformar a humanidade passa pela comunicação da fé e dos valores que lhe estão indelevelmente ligados.

O Papa Francisco, consciente desta missão recorda a todos os que celebram o Natal cristão, que “o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé”. E, logo a seguir, acrescenta: “A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, (o Presépio) educa-nos para contemplarmos Jesus, sentirmos o amor de Deus por nós, sentirmos e acreditarmos que Deus está connosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças Àquele Menino, Filho de Deus e da Virgem Maria”  (O Admirável Sinal, 10).

Enquanto festa vivida no seio familiar, o Natal oferece um enorme potencial no que se refere à comunicação da fé entre todos os membros da família, tanto às crianças, como aos jovens e aos adultos. Diante do fenómeno da deficiente formação da fé das últimas gerações de cristãos, sentimos todos um desafio maior no sentido de cristianizar as famílias, os seus valores, as suas vivências e festividades, as suas motivações.

É evidente para nós, cristãos, que não basta ter um presépio em casa para que nela entre o espírito do Natal. Há que fazer da sua celebração uma autêntica pedagogia ou um processo educativo no sentido do reconhecimento do valor de toda a pessoa humana, no sentido do respeito pela casa comum em que habitamos e com a qual partilhamos a condição de criação, no sentido do reconhecimento do lugar de Deus na vida de cada um e de cada a família. O Natal é ainda um tempo privilegiado para se comunicar dentro da família a importância da amizade, da solidariedade, da partilha do que temos e somos com os outros, da participação na edificação da comunidade humana, do valor do amor e da urgência da paz.

O futuro da Igreja depende em grande parte do modo como assumimos o processo de transmissão da fé às novas gerações. O modo como celebramos e vivemos o Natal encontra-se entre os melhores meios que temos à disposição para realizar esta missão evangelizadora, pois constitui uma catequese enquadrada no seio da própria vida familiar e evita que seja um momento estranho à realidade da casa em que estamos juntos.

Quando os sinais celebrativos do Natal estão bem unidos ao espírito e aos sentimentos da família, e o coração dos membros da família está em sintonia com o espírito do Natal, o processo de comunicação da fé torna-se real e natural, fazendo parte integrante da vida familiar. Nessa altura, a fé vive-se e comunica-se ao mesmo tempo, mais como uma experiência do que como uma teoria ou um ensinamento.

Irmãos e irmãs, somos convidados a pôr os olhos no Presépio, onde se encontra a figura de Jesus, o Sinal Admirável prometido pelos profetas e enviado por Deus à nossa terra, à nossa casa e a cada um de nós.

Que este Natal avive a força do Sinal Admirável, a luz de Jesus, que, porventura, está frequentemente obscurecida em nós e na nossa casa. Que Ele nos abra novos horizontes e novos caminhos de vida pessoal, familiar, eclesial e social.

Que este Natal seja para nós uma oportunidade de comunicação da alegria da fé em Jesus, o Filho de Deus e o nosso Salvador.

Coimbra, 24 de dezembro de 2019
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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