Ordenação 2019 - Homilia de Dom Virgílio

MISSA RITUAL DA SAGRADA ORDEM DO PRESBITERADO
ORDENAÇÃO DE PRESBÍTERO DE JOÃO NUNO FRADE MARQUES CASTELHANO
SÉ NOVA DE COIMBRA – 2019.06.30

Caríssimos irmãos e irmãs!

As palavras de Jesus pronunciadas no Evangelho de João, agora escutadas, surpreendem-nos sempre, pois unem a beleza da expressão “Eu sou o bom pastor”, à dureza da outra “Eu dou a vida pelas minhas ovelhas”. 

Para Jesus seria fácil apresentar-se como o Bom Pastor, pois teria um acolhimento imediato e favorável, encontraria imediatamente uma multidão de homens disponíveis para se identificarem com Ele e para o seguir.

Ao afirmar que é o Bom Pastor porque dá a vida pelas suas ovelhas, mostra a diferença que o separa de muitos outros que se apresentaram com uma missão junto do povo; diz que a especificidade da sua condição consiste em dar a vida por aqueles que ama. Com um Jesus assim poucos estão disponíveis para se identificar e nessa altura começa o percurso duro das dificuldades para o seguir, começam as desistências, o abandono e até a perseguição.

Conhecemos Jesus como Bom Pastor quando Ele se oferece ao Pai, quando Ele dá a vida na ação misericordiosa junto dos homens, quando sofre a paixão, a cruz e a morte por amor a cada pessoa e a toda a humanidade. A vocação de Jesus nasce da sua comunhão com o Pai, do amor infinito que recebe e que dá, na sua fidelidade Àquele que o enviou ao mundo para salvar. Segundo o evangelista João, Jesus manifesta ao mundo a sua condição de Bom Pastor e a sua realeza quando é elevado na cruz, o seu verdadeiro trono de glória e o lugar da sua vocação.

O sacerdote tem por vocação dar continuidade à missão de Jesus, no reconhecimento do mesmo amor do Pai, na fidelidade ao chamamento que recebe para dar a vida em favor dos homens. Para se configurar com Jesus, o Bom Pastor, também o sacerdote tem de dar a vida por aqueles que o Pai quer salvar. O selo da sua condição de pastor encontra-se na identificação com Jesus, que sofre a paixão, a cruz e a morte por amor a toda a humanidade. O sacerdote não tem outra glória senão a de se identificar com Jesus que é rei na cruz, na oferta da sua vida para salvação dos homens.

A vocação do sacerdote nasce do chamamento amoroso de Deus, leva à identificação com Jesus, o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, tem como único apoio a força do Espírito Santo e realiza-se na Igreja como missão ao serviço da salvação de todos. A sua configuração com Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja, não é, por isso, uma realidade teórica nem uma ideia vaga, mas tem contornos bem definidos na pessoa e no estilo de vida de Jesus.

A verdadeira chave de uma frutuosa pastoral das vocações sacerdotais é aquela que leva os jovens a construírem-se num contínuo desejo de darem a vida pelos irmãos. Quem aprende a orientar a sua vida na perspetiva da amizade, da solidariedade e do amor por cada pessoa, nos gestos pequenos de cada dia ou nas grandes opções que tem de tomar, está a configurar-se com Jesus, o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas.

Para que se aprenda a dar a vida na vocação e no ministério sacerdotal é preciso que se aprenda a dá-la quotidianamente e que essa seja a orientação global da própria existência.

“Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, do mesmo modo que eu conheço o Pai e o Pai me conhece”.

A vocação sacerdotal nasce sempre num cristão que tem a graça de conhecer em profundidade e em proximidade aqueles que Deus criou. Trata-se de um conhecimento que é mais do que uma questão racional para ser uma questão de comunhão.

Quando alguém conhece a humanidade com um coração semelhante ao de Deus, isto é com verdadeiro amor, está a construir a possibilidade de acolher a vocação sacerdotal, pois está a edificar uma vida capaz de se tornar dom para os outros, está a incarnar um coração como o de Jesus, que veio para se entregar totalmente pelos irmãos.

Jesus conhece a humanidade em cada uma das suas pessoas, com a sua grandeza de criaturas, mas também com as suas misérias e pecados, conhece a humanidade necessitada de um Pastor e de um salvador. Por sua vez, Jesus revela-se como enviado de Deus, como Filho amado e como salvador, dando assim a possibilidade de nos encontrarmos com Ele, o Deus amor, totalmente voltado para nós sem deixar de estar voltado para o Pai em comunhão de amor.

O encontro pessoal com Jesus Cristo constitui o lugar revelador de Deus e o lugar de conhecimento da humanidade. No encontro com Cristo dá-se o conhecimento de Deus e conhecimento dos homens, pois ninguém conhece o Pai como Ele e ninguém conhece os homens como Ele.

A confiança no Deus fiel e no Deus amor, condição para a vocação sacerdotal, dá-se no encontro confiante com Jesus Cristo. Ninguém vai ao Pai senão por Ele e ninguém entrega a sua vida plenamente em favor dos homens, a ponto de dar por eles a sua vida, senão por Ele.

Uma autêntica pastoral das vocações sacerdotais tem de ser sempre um auxílio para que o jovem realize um íntimo encontro com Deus e chegue ao conhecimento de Deus por meio de Jesus Cristo, no contexto da comunidade cristã animada pelo Espírito Santo.

Quem conhece e ama a humanidade com a paixão de Deus à maneira de Jesus, abre-se ao dom da vocação e manifesta disponibilidade interior para que o Espírito realize a sua ação.

Na Epístola aos Efésios, Paulo dizia a todos os que já receberam a sua vocação: “recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes chamados”.

Esta recomendação contempla duas dimensões. Em primeiro lugar, a da fidelidade ao dom recebido por cada um ao serviço da santificação pessoal e da edificação do Corpo de Cristo na unidade do espírito. Em segundo lugar, a do testemunho, que cada cristão é chamado a dar para que outros descubram o dom de Deus que há em si.

A vocação sacerdotal é um dom pessoal de Deus, mas constrói-se nas circunstâncias humanas e eclesiais em que as crianças e os jovens crescem. O testemunho de fidelidade, de alegria e de amor das famílias, dos consagrados e dos sacerdotes são elemento de grande importância para o desabrochar da vocação sacerdotal.

Se o contexto familiar é de fundamental importância para muitos aspetos do futuro da humanidade, é, de modo particular determinante para o desabrochar e crescer das vocações sacerdotais.

Por sua vez, a comunidade cristã em que se celebra e vive a fé, em que se progride na catequese e em que se partilham carismas e serviços oferece a envolvência adequada para o discernimento vocacional. De modo especial, os sacerdotes felizes, verdadeiramente seduzidos por Cristo e radicalmente entregues à Igreja, recebem a graça do testemunho que arrasta e realizam a mais autêntica pastoral das vocações sacerdotais.

Enquanto agradecemos a Deus o dom do sacerdócio e de cada vocação, confiemos a pastoral das vocações sacerdotais da nossa Diocese à proteção da Virgem Santa Maria.

Coimbra, 30 de junho de 2019
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

Leituras:
Num 11, 11b-12.14-17.24-25a
Ef 4, 1-7.11-13
Jo 10, 11-16

 

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