XX DOMINGO DO TEMPO COMUM B. SANTUÁRIO DO DIVINO SENHOR DA SERRA – SEMIDE

XX DOMINGO DO TEMPO COMUM B

SANTUÁRIO DO DIVINO SENHOR DA SERRA – SEMIDE

 

Celebramos a peregrinação anual ao Divino Senhor da Serra, da paróquia de Semide. Diante da imagem do Crucificado compreendemos a centralidade de Cristo na vida da Igreja e na vida do cristão; compreendemos a centralidade do mistério pascal, paixão, morte e ressurreição do Senhor, fonte da vida eterna.

Damos graças a Deus pela existência deste Santuário dedicado a Jesus Cristo, o Filho de Deus e o Divino Senhor, por ser um farol que constantemente recorda à Igreja que ela nasceu da cruz de Cristo, que ela há-de seguir sempre a cruz de Cristo como caminho de eternidade e que ela a há-de aceitar como parte integrante da peregrinação dos seus fiéis.

Em todos os momentos, mas sobretudo nos de maior sofrimento e solidão, o silêncio orante deste e outros lugares semelhantes, é a melhor terapia para o nosso corpo e para o nosso espírito. Nesses momentos, pode entrar-se em profundidade no sentido da morte e ressurreição do Senhor enquanto centro da fé cristã.

Na contemplação do mistério de Cristo na cruz, caminho de ressurreição e de glória, alia-se a força de vontade dos homens, desejosos de ultrapassar as situações mais dolorosas, ao poder de Deus, que tem as chaves da morte e o abismo, que pode e quer defender-nos de toda a dor e desespero.

Na contemplação de Cristo nas cruz saímos para fora de nós mesmos e depositamos a nossa confiança no Rei dos Céus e da Terra; não nos sentimos sós, mas na presença do Deus que mais do que ninguém nos ampara, nos protege e nos ama.

Na contemplação de Cristo na cruz sentimos a proximidade e a solidariedade dos irmãos, que, depositam no mesmo Deus a sua confiança e lhe entregam as suas e as nossas dores.

Na contemplação de Cristo na cruz abrem-se todas as portas da esperança: em primeiro lugar, a esperança de que é possível a evolução positiva das mais duras situações; em segundo lugar, a esperança de que é possível aceitar na paz de coração as situações irreversíveis em que nos vemos envolvidos; em terceiro lugar, a esperança de que, após a nossa peregrinação sobre esta terra, o Senhor nos concede a salvação e a glória eternas do Céu.

 

Na Sua bondade e sabedoria, o Senhor convida constantemente todos os seus filhos a aproximarem-se das fontes da salvação, do banquete onde se podem nutrir do alimento que os fortalece na caminhada terrena em direção à Sua glória.

O Livro dos Provérbios, numa linguagem figurada, apresentava a sabedoria personificada a convidar os homens: “Vinde comer do meu pão e beber do vinho que vos preparei”. Preparava assim as realidades definitivas do banquete realizado por Jesus, em que oferece o Seu Corpo e Sangue, o Pão e Vinho da Eucaristia, como alimento de vida eterna. No texto do Evangelho de S. João, Jesus apresentava-se ao mundo como o Pão da Vida, que nos alimenta no tempo e nos conduz à eternidade.

Os cristãos são os primeiros a sentir-se convidados a participar neste banquete de vida eterna, semana a semana, dia após dia, tanto pela celebração da Eucaristia, como pela comunhão de vida com Cristo nas mais variadas situações da vida. Todos os outros homens e mulheres são convidados no mais íntimo do seu ser para este encontro com Cristo, para este banquete de felicidade que mais ninguém pode conceder.

A Epístola aos Efésios, fazendo-se eco dos mais veementes apelos do coração de Deus, dava-nos conta de que a humanidade, na pessoa de todos nós, vive frequentemente na insensatez de não querer conhecer os caminhos da vida: “Vede bem como procedeis. Não vivais como insensatos... procurai compreender qual é a vontade do Senhor”.

O mundo em que nos encontramos parece, de fato, estar embriagado com o vinho da luxúria, como dizia a Epístola. De tal modo que, cego com as suas ocupações imediatas, com os seus haveres, com os seus problemas e com as suas ânsias de apanhar e consumir tudo, não vê mais longe, nem em maior profundidade.

O homem bíblico, de que nos falam os textos escutados, via no pão e no vinho símbolos de outras realidades, de tudo aquilo que preenche o ser humano, o material e o espiritual, o sentido e a alegria de viver, os objetivos mais elevados, a fé a esperança e o amor. Era, por isso, um homem aberto aos outros, à novidade e à esperança que não está nas coisas materiais, mas vem de Deus.

Por sua vez, o homem moderno tende a fechar-se sobre si mesmo e a esperar tudo das suas capacidades e forças. Quando elas falham, sente-se o mais infeliz de todos e, ou se resigna à sua sorte ou cai no mais fundo desespero.

 

A Igreja, todos nós, os cristãos marcados pela fé do homem bíblico, temos uma grande missão a realizar nestas circunstâncias e neste mundo: sermos sinal de outro modo de encarar a realidade e a vida, na fidelidade à fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado.

A participação no banquete da Eucaristia, participação sacramental na paixão, morte e ressurreição do Senhor, confere-nos a possibilidade de encarar a vida com o olhar, o pensamento e o coração de Cristo, isto é, com a esperança e a confiança que nascem da certeza do amor de Deus Pai. Assim como Jesus nunca se sentiu só, mesmo nos momentos mais terríveis, por confiar sempre no amor do Pai, também nós, na comunhão com Ele, nunca nos sentiremos sós, mas sempre amparados pelo mesmo Deus-Amor, que não pode esquecer nenhum dos seus filhos.

A missão dos cristãos no mundo consiste, por isso, em ser testemunhas desta certeza que preenche as suas vidas, mesmo nas situações humanamente mais frágeis, dolorosas e difíceis de transformar. Ali, com Cristo, podem testemunhar a confiança que vem d’Aquele que tudo pode, que não quer que se perca nenhum daqueles que criou e que preparou um banquete de felicidade para todos.

Que cada um de nós, devoto do Divino Senhor da Serra, possa assumir a sua vida com a esperança própria que nasce de Cristo na cruz. Possamos, neste lugar ou em nossa casa fazer diariamente alguns momentos de contemplação de Cristo Crucificado, pois n’Ele encontraremos o suporte indispensável para a felicidade que desejamos.

Ampare-nos com a sua proteção, Maria, que junto à cruz de seu Filho, conheceu o amor de Deus, o único capaz de dar esperança ao seu coração de Mãe.

 

Divino Senhor da Serra, Semide, 19 de Agosto de 2012

Virgílio do Nascimento Antunes

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