"Os Jovens, a fé e a vocação - que caminhos na Igreja?" - Nota Pastoral para o ano 2020-2021

NOTA PASTORAL DO BISPO DE COIMBRA
ANO PASTORAL 2020-2021

 

"Os Jovens, a fé e a vocação - que caminhos na Igreja?"

 

I
“APROXIMAI-VOS DO SENHOR”
AVALIAÇÃO

Damos graças a Deus pelo Plano Pastoral que acabamos de viver na Diocese de Coimbra, um triénio subordinado ao lema: “Aproximai-vos do Senhor” (1 Pd 2, 4). A Diocese, as comunidades paroquiais, os secretariados, serviços e movimentos foram iluminados pela Palavra do Senhor, procurando elaborar e concretizar caminhos de encontro com o Senhor e de missão junto da humanidade. Os três objetivos, evangelização, espiritualidade e organização, foram campo aberto para uma renovação da Igreja Diocesana em todas as suas estruturas, mas sobretudo nos seus membros, muitas pessoas disponíveis para acolher as propostas e progredir na fé e no serviço.

Houve, ao longo destes anos, muito caminho feito, tanto dando continuidade a projetos que já vêm de longe, como ensaiando perspetivas e intuições novas, na esperança de que correspondam ao discernimento feito pela comunidade cristã e sempre na obediência à voz do Espírito que renova todas as coisas.

A Exortação Apostólica do Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, foi o documento de base, na procura da fidelidade à Igreja, que sempre nos oferece a possibilidade de estarmos atentos aos sinais dos tempos em que vivemos, sob a iluminação da Palavra Deus e do Magistério Pontifício. A Carta Pastoral escrita para a totalidade do triénio e a Nota Pastoral oferecida em cada um dos anos procuraram iluminar as estratégias definidas e os dinamismos concretos mais urgentes para a nossa realidade diocesana.

Não se ofereceu às comunidades um Plano Pastoral acabado, pois sempre quisemos fazer apelo ao trabalho desenvolvido pelos órgãos de corresponsabilidade e participação, cuja missão é definir com o pároco ou com o coordenador, conforme os casos, as linhas de ação, estratégias e atividades locais. Os Conselhos Pastorais foram chamados a dar esse contributo no que se refere à elaboração do Plano Pastoral de cada unidade pastoral; as Equipas de Animação Pastoral foram incentivadas a liderar a programação e execução, sob a condução dos sacerdotes, que presidem à comunhão das comunidades cristãs.

Não me cabe, nesta altura, fazer a avaliação dos frutos alcançados, pois essa será tarefa do Povo de Deus, especialmente representado nos referidos órgãos de corresponsabilidade e participação, nomeadamente nos Conselhos Pastorais e assembleias gerais dos secretariados e  movimentos presentes na Diocese.

Proponho, por isso, à Diocese que se detenha sobre os objetivos do Plano Pastoral que agora terminámos e faça a sua avaliação. Não se pretende ficar a olhar para o passado que correu bem ou correu mal, mas repassar com olhar crítico e objetivo estes três anos e perceber quais foram os sucessos e as falhas, quais as suas causas e o que se pode fazer melhor no futuro.

Segundo o plano apresentado pelo Secretariado da Coordenação Pastoral, esse trabalho de avaliação deverá estar concluído no final do mês de outubro e seguindo a grelha que se encontra disponível neste mesmo opúsculo.

 

Seria um erro pensar que o anterior plano pastoral ou os outros que o precederam são coisas a arrumar no passado ou nos anais da história da diocese ou da paróquia. Os seus objetivos continuam presentes, pois fazem parte da vida da Igreja e estamos muito longe de os alcançar.

A evangelização é a grande prioridade de todos os tempos, mas especialmente na situação em que hoje vivemos. Sem ela a Igreja não cresce e a humanidade, em cada pessoa da nossa terra, não tem  possibilidade do encontro pessoal com Cristo.

A espiritualidade é caminho de todos os dias e leva ao enraizamento no Espírito Santo, que conduz a nossa vida. O vazio de espiritualidade que se sente hoje e a confusão instalada no que se refere às “espiritualidades” exigem uma opção clara da nossa parte.

A organização, nos moldes concretos em que temos vindo a progredir, constitui uma mudança tão relevante na vida da nossa Diocese que necessita de longos anos de consolidação. A Unidade Pastoral enquanto modelo organizativo da pastoral territorial está na sua fase inicial, apesar de, nalguns casos, ser já uma realidade implantada e a produzir bons frutos.

A missão da Igreja diocesana é muito vasta e tem muitas faces. Que não percamos o impulso iniciado com a definição dos objetivos referidos, mas avancemos para outras áreas que sentimos serem urgentes para a Igreja que somos.

 

II
DINAMISMO SINODAL
MÉTODO E CAMINHO

Nos últimos anos, a par com a eclesiologia expressa nos documentos do Concílio Vaticano II e com o Magistério dos últimos pontífices, tomámos o dinamismo da sinodalidade como método e caminho da vida da Diocese. Nem o bispo nem os presbíteros, enquanto verdadeiros pastores da Igreja, renunciaram a nenhuma das prerrogativas que lhes vêm do sacramento da Ordem em virtude da sua vocação e missão, mas antes se sentem mais membros da Igreja, Povo de Deus e Mistério de Comunhão.

O Povo Santo de Deus exprime melhor essa sua condição querida por Jesus Cristo, Seu Fundador, quando todos e cada um segundo a sua vocação e o dom que recebeu, partilha a responsabilidade de edificação da Igreja. Sinodalidade significa caminharmos juntos enquanto Igreja, sempre na escuta da voz do Espírito, que fala de modo supremo por meio da Palavra de Deus, mas também dando lugar à nossa capacidade de ler o que se passa à nossa volta.

Os leigos, os consagrados, os diáconos, são chamados a cooperar com os seus pastores em todas as fases da definição de objetivos e estratégias, assim como a dar o seu contributo na realização da missão da Igreja, que tem muitas faces e precisa da fé e do serviço de todos.

A nossa Diocese de Coimbra tem já uma grande tradição de busca da sinodalidade. Realizou ao longo da sua história vários momentos fortes aquando dos sínodos diocesanos, mas entende que a sinodalidade não se esgota na realização de um sínodo. Quer, agora, que o seu percurso seja todo ele de matriz sinodal, o que implica o desenvolvimento das formas de participação e corresponsabilidade previstas e propostas pela Igreja Universal. Quer também que a avaliação periódica da sua vida e a elaboração de um novo Plano Pastoral dê voz aos seus membros, a todos os que movidos pelo desejo salvífico de Deus, possam oferecer elementos para corrigir as debilidades e potenciar os desafios do presente e do futuro.

Neste ano pastoral, para além de avaliarmos o último triénio, queremos retomar o dinamismo sinodal em ordem à construção de um novo Plano Pastoral que nos orientará de 2021 a 2024.

Peço a todos os organismos da Diocese que acolham com entusiasmo a possibilidade de fazerem parte ativa da edificação do Povo de Deus e que até ao final de janeiro de 2021 reflitam, dialoguem e rezem, procurando perscrutar o que o Espírito diz à nossa Igreja de Coimbra.

O Secretariado da Coordenação Pastoral preparou os instrumentos necessários para orientar este dinamismo sinodal, com linhas orientadoras dirigidas aos organismos eclesiais e aos jovens, tanto aos que estão mais integrados na Igreja e nos seus grupos como aos que estão mais distantes ou mesmo totalmente desintegrados.

 

III
PRÓXIMO PLANO PASTORAL:
OS JOVENS, A FÉ E O DISCERNIMENTO VOCACIONAL

1. Tema do Plano Pastoral 2021-2024

Anuncio com muita alegria e esperança que o próximo Plano Pastoral da nossa Diocese será dedicado aos jovens. Esta decisão tem vindo a ser amadurecida há vários anos nas várias instâncias da Diocese, nomeadamente no Conselho Presbiteral, no Conselho Pastoral, no Secretariado da Coordenação Pastoral e em tantas reflexões ocasionais de sacerdotes, consagrados e leigos. Queremos fazer da pastoral dos jovens a prioridade central da vida da nossa Diocese, pois acreditamos que deles, da sua integração, da sua fé e do seu dinamismo evangelizador depende o presente da Igreja.

Reconhecemos que os jovens são uma força da sociedade e da Igreja, que ainda não valorizámos adequadamente. A Igreja tem uma imensa missão junto deles e eles têm muito para dar. Precisamos de descobrir quais os caminhos a percorrer para que isso aconteça; precisamos de mudar de atitude na relação com os jovens e de os considerar protagonistas na ação eclesial, uma vez que são portadores de grandes capacidades e de uma grande vontade de mudar o mundo.

Reconhecemos também que os jovens são um dos sectores humanos mais ausentes da vida das comunidades cristãs. Os motivos são muito diversos e vão desde as próprias dificuldades de integração, passando por alguns problemas de aceitação do seu modo de ser por parte das mesmas comunidades, até às dramáticas questões de fé ou à debilidade do percurso catequético.

 

2. Sínodo sobre os jovens e Jornada Mundial da Juventude

Dois grandes acontecimentos reforçam esta escolha do tema dos jovens e criam o contexto próximo, que potencia uma maior envolvência dos jovens e da comunidade cristã em geral.

Em primeiro lugar o Sínodo dos Bispos sobre “Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”, que conduziu à Exortação Apostólica do Papa Francisco, “Cristo Vive”, publicada a 25 de março de 2019. Convido-vos a lê-la com muita atenção ao longo deste ano e a tomá-la como base de uma reflexão tão necessária como urgente entre nós.

As muitas sugestões resultantes do Sínodo ajudarão a quebrar rotinas e a abrir novos caminhos de pastoral juvenil a comunidades demasiado acomodadas e envelhecidas, como são muitas das nossas.

 

Em segundo lugar, a Jornada Mundial da Juventude marcada para Lisboa, no Verão de 2023. O anúncio feito pelo Papa Francisco, no Panamá, encheu de alegria os jovens de Portugal e do Mundo, e já deu origem a um percurso de renovação catequética e espiritual de adolescentes e jovens, que trará grandes mudanças à vida da Igreja. Este acontecimento ímpar precisa de ser bem aproveitado para que dê um novo impulso à pastoral dos jovens na nossa Diocese de Coimbra.

Já se iniciou o trabalho de sensibilização e formação com os adolescentes dos últimos anos da catequese, tendo em conta que serão os jovens de amanhã e os primeiros protagonistas da Jornada Mundial da Juventude de 2023. Neste ano pastoral estará também disponível um percurso formativo para os grupos de jovens das nossas comunidades, que constituirá a preparação remota para a Jornada Mundial. Estas propostas, que esperamos sejam largamente acolhidas, dotadas de uma metodologia de trabalho mais ativo e proporcionando maior participação e diversidade de ação, constituem já o início de um novo modo de abordar a catequese e a pastoral juvenil.

 

3. A fé e o discernimento vocacional

O Sínodo dos Bispos e a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Cristo Vive” centraram-nos nas questões fundamentais que movem a Igreja no trabalho pastoral com os jovens. Trata-se do crescimento da fé e da progressão no caminho da vocação cristã, que nos pedem três atitudes: acolhimento, acompanhamento e discernimento.

O crescimento na fé situa-se no âmago da ação da Igreja, que tem por missão proporcionar-lhes caminhos de encontro com Cristo vivo e com a sua Igreja. Os jovens são naturalmente pessoas inquietas e desejosas de respostas para as muitas questões que povoam a sua vida e são, por isso, pessoas abertas à busca de Deus. Precisam de se deparar com pessoas, comunidades, experiências fortes e testemunhas convincentes para, na força do Espírito Santo, experimentarem a alegria da descoberta de Deus em e por Jesus de Nazaré.

Enquanto Igreja temos a missão e a responsabilidade de lhes proporcionar os meios adequados, que sejam verdadeiramente significativos para eles, o mesmo é dizer, que sejam sérios, profundos, exigentes e portadores de desafios mais elevados do que todos os que a sociedade normalmente lhes apresenta.

A outra parte da missão cabe aos próprios jovens, protagonistas como hão de ser da construção de si mesmos e de influenciar os que partilham a mesma fase etária, as mesmas instituições laborais, culturais, educativas, desportivas, sociais, os que levam dentro as mesmas esperanças e as mesmas perplexidades. Se os jovens são o presente da Igreja e, dentro dela, pelo seu estilo de vida, particularmente evangelizadores dos outros jovens, não podem ficar de fora deste processo de renovação, nem à espera que outros façam o que lhes compete a eles mesmos fazer.

Quando um jovem partilha a sua fé com outros jovens e com toda a comunidade, partilha ao mesmo tempo a sua visão do mundo e da vida, os seus valores, os seus ideais, os seus fracassos e as suas vitórias. Mais do que nunca, o testemunho de uma vida com sentido e com o entusiasmo próprio de quem encontrou o Senhor é o mais poderoso meio de comunicar a fé entre os jovens. Este testemunho de fé dos jovens na relação com outros jovens supera mesmo o bom trabalho da comunicação da fé na família, na catequese da infância e da adolescência ou da comunidade cristã, que é essencial. E, para toda a comunidade cristã, este testemunho é húmus vital.

 

Convido os jovens a não ficarem à espera da iniciativa da Igreja, da sua comunidade ou dos outros, mas a porem-se eles mesmos a caminho e a serem protagonistas da busca dos caminhos do acolhimento e da comunicação da fé, como experiência pessoal.

 

O discernimento vocacional constitui a outra dimensão essencial do caminho dos jovens em Igreja.  O jovem, por estar numa fase da vida em que, naturalmente, olha para o futuro, além de equacionar as questões centrais, que são a família e o trabalho ou a profissão, tem de equacionar também a questão da sua vocação na Igreja, pois a fé traz sempre consigo o chamamento concreto a um estado de vida cristã.

Fé e vocação são duas realidades de tal modo interligadas que não podem ser caminhos paralelos: a fé conduz ao conhecimento do chamamento de Deus e a vocação supõe e alimenta a fé. Muitos jovens correm o sério risco de pretender viver a fé sem uma definição amadurecida da vocação e outros pretendem seguir uma vocação sem o suporte de uma fé comprometida.

A Igreja tem a missão de proporcionar um percurso de fé sólido que desemboque no discernimento vocacional dos jovens. Precisamos de refletir seriamente acerca dos meios e das experiências a oferecer-lhes para que não cheguem à idade adulta sem se terem interrogado sobre esta dimensão da sua vida humana e cristã. Sendo esta, teoricamente uma convicção de todos, é necessário transformá-la em propostas concretas e assumidas pela Diocese e pelos seus organismos, bem como pela comunidades variadas que a constituem.

 

IV
CRIANDO UMA ONDA

A construção do Plano Pastoral pede, para além da definição de objetivos gerais, a proposta de estratégias e de ações que levem à sua concretização. Podemos fazer muito mais e com melhor qualidade, desde que tenhamos clareza nos objetivos e entusiasmo na ação.

Acreditamos na possibilidade de uma pastoral dos jovens mais atual e adequada à situação que vivemos, contando com todas as dificuldades, mas acima de tudo com o dinamismo evangelizador da fé que professamos.

A definição da pastoral dos jovens como a nossa prioridade diocesana constitui o ponto de partida para virarmos a página e passarmos das lamentações, muitas delas justas, para a paixão por Cristo, pela sua Igreja e pelos jovens que Ele ama e quer agregar ao seu Povo como irmãos e como amigos.

Precisamos de uma onda de entusiasmo que envolva as comunidades e que envolva os jovens, a fim de quebrarmos um certo comodismo instalado. Contamos com a colaboração e a criatividade de todos: a nível diocesano, contamos especialmente com o Secretariado da Pastoral Juvenil, o Secretariado da Pastoral das Vocações, o Secretariado da Pastoral do Ensino Superior e a Coordenação Diocesana da Jornada Mundial da Juventude (COD); a nível local, contamos com os párocos, os grupos de jovens, os catequistas de adolescentes, os movimentos de pastoral juvenil.

A fim de lançar este movimento e de incentivar todos os seus protagonistas, passarei pessoalmente pelos nossos dez arciprestados para um encontro com os jovens que já concluíram a catequese. Espero, por isso, encontrá-los para um tempo de catequese, de oração e de diálogo, de acordo com um plano já agendado no Calendário Diocesano.

Queremos também celebrar a Jornada Mundial da Juventude de 2021, a nível diocesano, no sábado que antecede o Domingo de Ramos, o dia 27 de março, com um programa a anunciar oportunamente.

Ainda em ano jubilar, confiamos os caminhos da nossa Diocese à intercessão de Santo António, o jovem que, movido pela fé e pelo Evangelho, gastou a vida a comunicá-lo com ardor e com amor.

Invocamos a Virgem Maria, a Imaculada Conceição, na celebração dos 700 anos do seu culto em Coimbra,  e pedimos-lhe que continue a ser modelo e imagem da Igreja sempre jovem que queremos ser.

Coimbra, 11 de agosto de 2020
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 


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