Os tempos que vivemos exigem caridade e verdade
Liliana Marques Pimentel
Num sentido cristão, à luz da doutrina social da Igreja, os tempos que vivemos exigem caridade e verdade. Tal como nos apresentou o Papa Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritate. Muito se tem falado e escrito sobre os acontecimentos dos últimos dias, mas quando a governação dá sinais de exaustão e de insustentabilidade com o caos na Saúde, na Educação e na Justiça, com uma inflação que teima em manter-se e os juros a dificultarem os orçamentos das famílias e das empresas, fomos surpreendidos por buscas da polícia ao Palácio de São Bento, onde foram encontradas avultadas somas de dinheiro vivo escondido em gabinetes, algo nunca visto!
O comportamento e as escutas que, entretanto, se conhecem retratam uma ligeireza ímpar no tratamento de assuntos de Estado. O cenário é escuro, muito escuro, todavia julgo serem prematuras as notícias que dão conta de uma morte do regime democrático no qual vivemos há quase 50 anos. É sempre oportuno voltar à velha e tão batida citação de Winston Churchill sobre os méritos deste sistema segundo a qual a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras. Não podemos, nem devemos, tal como no passado, deixar que algumas maçãs podres possam contaminar as restantes.
O acenar com extremismo tanto à direita, como à esquerda, como começamos a ver na estruturação das mensagens políticas dos principais partidos, afeta aquilo que deve estar no centro do debate político: as pessoas e a visão de país. Mas afinal que visão têm para o País estes candidatos? Que sociedade queremos construir dos escombros de onde partimos? Como vamos atingir esses objetivos?
Em tempos manchados pela mediocridade, tanto de políticos como de políticas públicas, o que se exige é moderação e ponderação e não a radicalização e a conjetura de cenários de medo. Caso contrário, apenas estaremos a capitalizar o voto de protesto e a inflamar o discurso populista que divide, que subtrai e que não promove aquilo que deve ser a construção de uma sociedade solidária e pluralista onde as famílias e as comunidades sejam valorizadas.
Não nos podemos resignar ao estado a que chegamos. E há um caminho a percorrer. Por um lado, pelo maior escrutínio dos titulares de cargos políticos, por uma cultura de discussão pública da sua visão e do respetivo posicionamento e, por outro lado, pela constituição de um corpo sólido de quadros na Administração pública que não sejam permeáveis à pressão política. Por uma verdadeira cultura de transparência.
O caminho é longo e estreito mas os tempos que vivemos exigem-nos seriedade, sensibilidade e bom senso. Num sentido cristão, à luz da doutrina social da Igreja, os tempos que vivemos exigem caridade e verdade. Tal como nos apresentou o Papa Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritate, sobre a importância de integrar os valores da caridade e da verdade em todas as dimensões da vida, incluindo nas questões sociais. Onde nos faz acreditar numa sociedade, “onde cada um possa encontrar o bem próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 32). Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade.” “Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade.”