Professor Canha

Professor Canha

26 mar 2024

Há Pessoas de P grande. Há Pessoas que são Pais de toda uma humanidade.

O médico Norberto Canha foi este Pai.

Foi por volta dos meus 10 anos que tive o privilégio de conhecer este pai. A minha vida cruzou a vida deste grande pai pelas mãos de uma das suas filhas, que passou a ser uma irmã para mim.

O professor Norberto Canha deve ter sonhado a paternidade de um mundo inteiro que precisava de ser cuidado, desde os tempos em que guardava cabras e vitelos pelos montes de Alfândega da Fé. Ainda bem cedo, este olhar autêntico e apaixonado pela natureza ampliou-se com as paisagens de Angola; onde permaneceu enquanto fez a primária e os estudos do liceu. Nesta imensidão da terra africana, quantos devem ter sido os instintos de paternidade a despontar, nesta contemplação e reflexão sobre a belíssima criação, sobre a terra e os seus presentes. Aliás, as dádivas da terra e do mar permanecerão sempre na sua conduta como merecedores de um olhar prioritário. É o pulsar do meio ambiente que lhe merece uma atitude de profundo respeito, mantendo, ao longo dos tempos, uma decisão de prática firme e destemida.

Este sentimento de cuidado do bem comum e da humanidade desemboca na escolha do estudo da medicina, onde esta aptidão paternal atinge cumes sublimes, e tão reais e incarnados. E a sua paternidade nos caminhos da medicina não mais parou. Foi, pois, Pai de tantos alunos e médicos, tornando-se uma referência maior entre os cirurgiões ortopedistas. Sim, habituei-me a ouvir médicos ortopedistas confessarem o quanto deviam a este médico. E a admiração por este pai crescia quando a sua ação energética e rigorosa permitiu a mudança dos hospitais da universidade de Coimbra para as novas e atuais instalações.

A sua paixão por África, e o cuidado prático face aos mais necessitados e frágeis, fez com que tantas vezes rumasse até à Guiné. Não me admirava qua por ali se encontrem hoje rapazes ‘Norbertos’, numa gratidão óbvia por esta paternidade médica tão expressiva.

É um pai de causas. Da causa da ‘nossa’ África; da causa das doenças esquecidas, pois estas maleitas ‘simplesmente’ não se manifestarem nos países onde a medicação e tratamentos podem ser pagos com prontidão. Da causa dos cuidados médicos onde estes não encontram espaço, materiais e pessoas, afinal para os levar a quem mais precisa. Da causa do estudo e investigação das razões e curas das doenças que ceifam vidas ou atiram os mais pobres para situações de menoridade e dependência,

Ainda nestes últimos anos o pai Norberto me ‘deitou a mão’ a propósito dos assuntos da autarquia. Pois sabia que eu estava um pouco perdida, e sem auxílio de quem sabe destas coisas e ‘já cá anda’ há muito tempo. Invariavelmente, as suas palavras e ensinamentos eram sempre certeiros, reveladores de uma realidade mais vasta, e sempre polvilhados de um grande sentido prático e de premência. Os seus ensinamentos e apontamentos preciosos também apontavam o partido social-democrata, e o tanto que faltava erguer e o que poderíamos nós começar e fazer crescer. O quanto sentia um pai que me convidada, estimulava e apoiava para eu agir. Aliás, a preocupação sempre atenta do Pai Canha ao bem comum, incluindo a cidade e o campo, a educação e a agricultura, desaguavam sempre em ensinamentos e sugestões muito concretas para uma comunidade mais proativa e justa.

E também é notável a família do Pai Canha. O homem médico, professor, amigo (também do meu papá), empreendedor, homem de causas, homem fazedor, investigador e visionário, cuidava ‘ainda’ das ‘ovelhas do seu aprisco’; com infindável ternura por cada um, com uma propriedade de quem segue ao leme da maior obra de sempre.

A família criada e amada pelo Pai Canha foi e é, também para mim, um ninho de calor, encontros e criatividade. Uma família de referência para tantas pessoas que ali se refugiaram na necessidade de um lar que acolhe e ouve. Nesta família, o Pai Canha estava presente também na atenção, no cuidado, na proteção, na ajuda ou na palavra que alguém procurava.

Sim, há gente que é um legado de mãos abertas à humanidade. E somos todos convidados a personificar o dom que recebemos enquanto criaturas sonhadas, criadas e amadas por Deus. Mas na história concreta de cada um, pessoas há que assinalam indelevelmente o curso da história da comunidade, que deixam a sua marca muito para além da azáfama diária comum.

Nestas linhas está o meu profundo agradecimento e sentimento de saudade do nosso querido Médico Professor Norberto Jaime Rego Canha. Um pai com P grande.

Uma muito santa e feliz Páscoa!

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