Abertura Ano Pastoral 2019-2020 - Homilia de Dom Virgílio

ABERTURA SOLENE DO ANO PASTORAL 2019-2020
MISSA DO XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM C

Caríssimos irmãos e irmãs!
A Abertura Solene do Ano Pastoral constitui um momento de fortalecimento da comunhão da Igreja Diocesana de Coimbra, que é verdadeira Igreja de Deus e quer caminhar na unidade e no amor para melhor manifestar que está alicerçada em Cristo e disponível para a anunciar o Evangelho da salvação.
A parábola do homem rico e do pobre Lázaro centra-se na questão da salvação eterna e na necessidade que temos de escutar o anúncio da Boa Nova do Salvador, por um lado, e de realizarmos a missão profética de evangelizar, por outro.
Do meio dos tormentos e ao contemplar o pobre Lázaro no seio de Abraão, o homem rico pede-lhe que envie alguém a anunciar a Boa Nova para que todos sejam salvos. “Têm Moisés e os profetas: que os oiçam”, é a resposta que, põe toda a responsabilidade sobre aqueles que, estando neste mundo, podem escutar e anunciar o Evangelho da salvação.
Deus enviou o Seu Filho como Salvador, manifestou o seu desejo de salvar por meio d’Ele toda a humanidade e Ele deixou à Igreja a missão de acolher e anunciar. Jesus é o profeta que havia de vir ao mundo e a Igreja, Seu Povo Santo, recebeu a missão de dar continuidade a essa mesma missão profética para que em todos os tempos da história não falte a Palavra e os gestos sempre novos e cheios do Espírito que atualiza e renova todas as coisas.
A Igreja de Coimbra é chamada pelo Senhor a acolher a salvação realizada por Jesus Cristo como um dom e a proclamá-l’O corajosamente como o Salvador no tempo em que vivemos, no hoje da nossa história. A Igreja de Coimbra é chamada a ser esse povo de profetas referidos no Evangelho que escutámos e não pode deixar que se perca nenhum daqueles por quem Jesus ofereceu a Sua vida na cruz, ao Pai. Acolher e anunciar a salvação eterna é a nossa vocação e a nossa missão de Povo de Deus.
Acontece que a linguagem da fé que hoje utilizamos se tornou uma linguagem muito débil e o seu conteúdo exprime frequentemente apenas uma parte do que significou na tradição doutrinal da Igreja. A salvação quando se reduz a uma dimensão terrena e intramundana fica reduzida à busca do bem estar temporal e perde a sua força bíblica, que aponta sempre para a dimensão eterna, como mostra o texto do Evangelho de Lucas que ouvimos.
Pelo seu mistério pascal, Jesus oferece-nos a esperança terrena para vivermos intensamente a vida que agora temos, e oferece-nos a esperança da vida eterna na comunhão com o Deus Trindade que nos criou para a glória. Quando a palavra salvação perde parte do seu conteúdo, esvazia-se a fé em Cristo, desvaloriza-se o Seu sacrifício na cruz, a sua ressurreição torna-se dispensável e o anúncio do Evangelho fica refém da edificação da sociedade terrena.
Ao mesmo tempo que acolhemos o dom de Deus que nos salva por meio de Jesus Cristo, manifestamos a nossa disponibilidade para anunciar o Evangelho da salvação a todos os povos da terra, como nos foi pedido pelo Senhor.
Tanto a leitura da profecia de Amós, com a sua dura linguagem, como a parábola do Evangelho do rico e do pobre nos fazem um forte apelo à responsabilidade que temos em relação à nossa salvação e à salvação do nosso próximo. Viver na justiça e na caridade constitui, segundo os referidos textos bíblicos, o sinal que havemos de dar ao Senhor, a resposta à graça que nos oferece, a da vida eterna. E nós queremos assumir essa responsabilidade no tempo em que agora vivemos sem desperdiçar a graça recebida e aguardamos na esperança a comunhão com Deus na eternidade.

Incluímos na Liturgia da Palavra desta missa solene o texto da Primeira Epístola de S. João, donde retirámos a frase chave que orienta o nosso ano pastoral: “O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos” (1 Jo 1, 3).
É bem claro para João que nós vimos e ouvimos o Verbo da Vida, Jesus, o Cristo, o Filho de Deus incarnado. É também claro para João que anunciamos a Vida eterna, pois Jesus Cristo é a Vida que estava junto de Deus e se manifestou aos homens.
Jesus Cristo é o conteúdo do anúncio profético que somos convidados a fazer. Se não O vimos, O não ouvimos e O não tocámos com as nossas mãos, não podemos anunciá-l’O.
Ao mesmo tempo que fazemos a profissão de fé em Jesus Cristo, que é a Salvação e a Vida Eterna, aprendemos que o único método válido para a evangelização é o encontro com Cristo, que nos leva a permanecermos n’Ele, a estarmos com Ele, a experimentarmos a sua presença salvadora nas nossas vidas.
Falar da ação pastoral da Igreja é o mesmo que falar da ação conducente a proporcionar às pessoas o encontro salvífico com Cristo; falar de comunicação da fé é, do mesmo modo, falar da comunicação da experiência de vida de pessoas que se sentem salvas por Cristo. Os Apóstolos comunicaram o que viram, ouviram e tocaram acerca do Verbo da Vida; a Igreja só pode comunicar o mesmo Senhor Jesus que a habita, a renova, a santifica e faz dela testemunha da salvação eterna.
A linguagem e os meios de comunicação, a ação pastoral, as estruturas organizativas que propomos na nossa Diocese são úteis e válidas se prestam um verdadeiro serviço ao encontro com o Verbo da Vida, se ajudam a entrar com comunhão com Cristo e abrem as portas da Vida Eterna.
Interrogamo-nos frequentemente acerca das razões que dificultam ou impedem maior sucesso no crescimento da fé e da vida cristã. Sabemos que se trata de uma questão muito complexa, que tem a ver com a mentalidade do mundo, mas que tem também a ver com o que se vive na Igreja. Não podendo nós mudar o mundo de um momento para o outro, havemos de procurar em primeiro lugar trabalhar em ordem à mudança de nós mesmos e da comunidade eclesial que formamos.

Podemos identificar duas grandes debilidades da Igreja que somos e que dificultam a comunicação da fé.
A primeira debilidade é a falta de fundamentos teológicos e de profundidade doutrinal e catequética dos cristãos e das comunidades. O pensamento débil também entrou na Igreja e os cristãos vivem na ignorância e na insegurança acerca do conteúdo da fé, desconhecem a Sagrada Escritura e têm muita dificuldade de dar as razões da sua esperança. Abre-se, assim, um imenso campo de ação para a nossa Igreja Diocesana, que há de desenvolver formas adequadas de levar ao encontro com a Bíblia, ao conhecimento da doutrina e ao encontro com Cristo por meio da catequese.
A segunda debilidade tem a ver com a falta de meios atualizados para comunicar a fé no mundo atual. Sofremos da falta de criatividade e da pouca capacidade de inovação; usamos linguagens e métodos que já não produzem adesão à fé e não têm capacidade para a apresentar de forma atrativa e vital. Também neste capítulo se abre um mundo novo de propostas que o Espírito tem vindo a suscitar e que havemos de usar adequadamente na fidelidade à Tradição viva de uma Igreja sempre aberta à renovação.

“O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos”. Que este ano pastoral seja rico no enraizamento em Cristo por meio da liturgia, da evangelização e da catequese, do encontro com a Palavra de Deus, da espiritualidade e da oração; que sejamos ousados na renovação da linguagem e na utilização dos meios adequados para comunicar Jesus Cristo e a fé que nos salva.
Acompanhe-nos a Virgem Maria, que viu, ouviu, tocou o Verbo da Vida com amor. Seja Ela a acompanhar-nos na missão de O anunciar.

Coimbra, 29 de setembro de 2019
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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