Dia de Páscoa - Homilia de Dom Virgílio

MISSA NO DIA DE PÁSCOA
SÉ NOVA

Caríssimos irmãos e irmãs!

A notícia da ressurreição de Jesus, hoje proclamada como na manhã daquele primeiro dia da semana, traz uma nova resposta às nossas perguntas e inquietações, às que surgem na mente ávida de sentido e às que chegam da tarefa que temos de fazer progredir e aperfeiçoar-se o nosso mundo.

Nem a nossa razão fica tranquila com a definição de um sistema de pensamento organizado e harmónico, que integre todo o nosso percurso do nascimento até à morte; nem o nosso coração se contenta com um horizonte de relações com os outros e com o mundo, que agora floresce e depois fenece.

De facto, somos mais do que isso. A ressurreição de Jesus, a grande novidade que irrompe na história da humanidade, trouxe essa nova luz de que precisamos para enquadrar adequadamente o conhecimento do percurso da nossa vida, o seu sentido, e os anseios do nosso coração, que são de superação e de eternidade.

O Livro dos Atos dos Apóstolos enfrenta de forma direta o embate da notícia da ressurreição de Jesus na vida das comunidades cristãs nascentes e conhece a dificuldade sentida de a acolher. Começa por referir-se a alguns aspetos biográficos de Jesus, à sua passagem pelos diversos lugares do seu percurso e aos sinais de libertação que marcaram toda a sua ação: “passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio”. Sabemos pelas narrações evangélicas que, nessas alturas, apenas um pequeno grupo das muitas pessoas que acompanhavam, acreditaram n’Ele; todas as outras viam os sinais, ouviam as palavras, mas continuavam na sua incredulidade.

Não bastou àquela gente saber o que aconteceu ou ter acesso à informação sobre os acontecimentos históricos da vida de Jesus. Os Apóstolos, como refere o Livro dos Atos, são testemunhas de tudo isso, ou seja, atestam com o conhecimento, com a vida e com o seguimento, a verdade da realidade que experimentaram, a alegria sentida após a desilusão por ocasião da paixão e da morte. Além disso, uma vez que tiveram a graça de estar entre as testemunhas designadas e a quem Jesus se manifestou, a graça de comer e beber com Ele depois de ter ressuscitado dos mortos, puseram-se a caminho para a pregação ao povo, como lhes fora mandado.

Por meio das Sagradas Escrituras, nós temos acesso à informação essencial e necessária acerca da vida e obra de Jesus, lida a partir da sua Páscoa; conhecemos o testemunho dos Apóstolos que acompanharam o Senhor, acreditaram n’Ele e O seguiram; ouvimos a palavra de pregação dos que comeram e beberam com Ele. O nosso caminho de fé passa agora pelo encontro interior e pela decisão de nos pormos a caminho para O seguir em todos os detalhes da nossa vida.

A nossa história mais recente tem sido pródiga em acontecimentos que são portadores de interrogações, dúvidas e notícias de derrocadas de esperanças e seguranças, bem como de falências de objetivos sociais, económicos ou políticos. Temos vivido atormentados pela crise sanitária que se abateu sobre nós e sofremos todos com ela na nossa própria carne, ao vermos desagregar-se um tecido organizado de relações e equilíbrios que, não sendo perfeito, nos dava alguma segurança e garantias de futuro.

Agora temos mais interrogações do que certezas acerca do percurso que havemos de fazer para sair desta situação. Repetimos à saciedade que é preciso resiliência, solidariedade, sentido do bem comum, defesa da dignidade da vida humana, amor nas relações pessoais, instaurar mais justiça e equidade, respeito pela Criação. São pilares essenciais do nosso caminho de renovação, tão urgentes à escala local e à escala global. A páscoa de Jesus e a sua mensagem de novidade e renovação inclui tudo isso, pois nada do que diz respeito à humanidade e à sua salvação fica de fora do plano amoroso de Deus, que libertou o seu Filho da morte e nos abriu o caminho da ressurreição.

No entanto, a nossa história recente e história de todos os tempos não encontra os seus caminhos de renovação somente a partir de meia dúzia de ideias, que podem ter a sua quota parte de realização a par com os seus limites. Todos esses esforços e ideários são imprescindíveis ao progresso da comunidade humana. Têm, como sabemos, pés de barro, e a maldade e o pecado humanos interferem facilmente no meio das boas intenções, fazendo cair por terra os melhores projetos.

A nossa história recente e os tempos de pandemia trazem-nos muitas interrogações: os sinais de sofrimento e de morte são sempre acompanhados por clamores de vida, de superação, de libertação. Estamos diante de uma tremenda oportunidade para toda a humanidade, apesar de sabermos que oportunidades de renovação a humanidade tem perdido constantemente, como nos mostra a história tão recente de guerras, violências, massacres, perseguições, atropelos da liberdade e destruição da nossa casa comum.

Acreditamos, mesmo assim, na possibilidade de que temos enquanto humanidade de refazer o nosso trajeto, de nos deixar recriar e renovar, pois, ressuscitados com Cristo podemos aspirar às coisas do alto, isto é, mudar de direção e de rumo: plenamente comprometidos com as realidades humanas e terrenas onde se decide o presente e o futuro, mas com um coração novo, com um espírito novo, com um sentido novo, na certeza de que a nossa vida está escondida com Cristo em Deus, como referia Epístola aos Colossenses.

A ressurreição de Jesus, o Senhor, constitui a notícia de Deus, a revelação do sentido último da nossa existência e que, a partir da fé, nos há de levar a um compromisso cada vez mais forte com a edificação do mundo em que vivemos.

Se na manhã do primeiro dia da semana se refez a alegria e a esperança dos discípulos destroçados pela morte de Jesus, também, pela sua ressurreição gloriosa, se abrem para nós, pessoas, famílias e comunidades, porventura desanimadas e abatidas, as portas da alegria e da esperança.

Coimbra, 4 de Abril de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

 

 

Oral

Genç

Milf

Masaj

Film

xhamster