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DOCUMENTOS OFICIAIS
DA IGREJA
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O acompanhamento dos
casais novos |
Conferência
Episcopal Portuguesa
Instrução Pastoral
11 de Novembro de 1992 |
INTRODUÇÃO
1. A
pastoral da família tem merecido da parte da Igreja, sobretudo após o Concílio
Vaticano II, particular atenção e solicitude. Na Igreja é hoje mais nítida a
consciência de que «o bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está
intimamente ligado a uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar»
(GS 47) e de que «a futura evangelização depende em grande parte da Igreja
doméstica» (FC – Familiaris Consortio – 52).
2.
Também em Portugal a Igreja tem estado atenta aos problemas que afligem a
família e à necessidade de contribuir para a sua boa solução através de uma
adequada Pastoral da Família. Entre outras intervenções da Conferência Episcopal,
podemos citar a Carta Pastoral sobre a Família e Natalidade (12.2.1975),
a Nota Pastoral sobre as modificações do Direito da Família (6.4.1978,
aquando da publicação do DL n. 496/77 de 25 de Nov.) e a Instrução sobre
Pastoral Familiar à Luz do Sínodo (28.12.1980).
Sem
esquecer as inúmeras realizações de âmbito nacional, diocesano e local, é de
referir que a Comissão Episcopal da Família tem vindo a organizar, desde 1988,
com interesse crescente, jornadas anuais sobre a família e a pastoral familiar.
Estas jornadas focaram sucessivamente a problemática geral da pastoral da
família, a preparação remota e próxima para o matrimónio, a digna celebração
deste sacramento, o acompanhamento dos casais novos e, na previsão do Ano
Internacional da Família (1994), os desafios lançados à família pela nossa
sociedade em mutação.
3. A
presente Instrução Pastoral, dando resposta a pedido formulado nas
jornadas de 1991, centra-se na pastoral dos casais novos. Na conjuntura actual
da sociedade, estes casais, mesmo quando a preparação para o matrimónio foi
feita de modo sério e cuidado, vêem-se confrontados com graves dificuldades, que
dificilmente podem vencer, se não tiverem da Sociedade, do Estado e da Igreja
apoios específicos.
I – DIFICULDADES MAIS
COMUNS DOS CASAIS NOVOS
4.
Não basta conhecer e proclamar o pensamento da Igreja sobre o matrimónio e a
família, pensamento que é expressão autêntica dos desígnios de Deus a respeito
destas duas fundamentais instituições, indissoluvelmente ligadas entre si. É
necessário também ter em conta as situações sócio-culturais concretas em que
elas se encontram (cf. FC 4) e as dificuldades que têm de enfrentar.
Sem
a pretensão de sermos exaustivos, enumeramos seguidamente algumas destas
situações e dificuldades que hoje mais agridem os casais novos, apontando, ainda
que brevemente, algumas linhas de acção para superá-las.
5.
A adaptação mútua entre os cônjuges, no actual clima de hedonismo e afirmação
pessoal, nem sempre se realiza com a naturalidade desejável. Surgem assim
desentendimentos e conflitos que podem levar à rotura. O divórcio, proposto por fortes
correntes de opinião como solução fácil, é grande tentação, sobretudo para os cônjuges com menor resistência
crítica às ideias e modelos que os meios de comunicação social largamente
difundem.
Resposta,
ao menos parcial, a situações destas, tem-se manifestado útil a associação dos
casais novos em grupos de partilha de experiências de vida, ajuda mútua e
procura duma espiritualidade conjugal e familiar.
6.
A deficiente preparação para o casamento está na origem ou contribui para o
agravamento da situação familiar e é causa de outras dificuldades e sofrimentos
para muitos casais novos. São poucos os jovens cônjuges que receberam da família
que os criou uma educação capaz de os sensibilizar para a problemática
vocacional e de os preparar para a vida, nomeadamente para a vida de casados.
Além disso, os jovens vêem-se hoje absorvidos pelo estudo, pelo trabalho e pelas
diversões, faltando-lhes tempo e ambiente para o diálogo a dois, condição
indispensável a um sério projecto conjugal e familiar. Não raro, ainda, o namoro
é afectado pela superficialidade e pelo envolvimento sensual, que atrasam o
amadurecimento psicológico e afectivo.
Como
orientação pastoral apelamos a que se preste maior atenção ao tempo de namoro
tanto da parte dos jovens como das famílias e das comunidades. A preparação
remota, próxima e imediata para o matrimónio é condição indispensável para o bom
começo e prosseguimento da vida de casados (cf. FC 66). Para ela devem
concorrer, em colaboração harmónica, as estruturas paroquiais e inter-paroquiais
juntamente com os serviços e movimentos de pastoral juvenil.
7.
A precária situação económica, profissional e de habitação em que muitos jovens
se encontram ao casar dificulta-lhes a adaptação ao novo modo de viver e a
estabilização numa vida de casados equilibrada, confiante e feliz. Muitas vezes
os jovens casam endividados, sem emprego seguro, sem casa própria ou com
habitação inadequada ou distante dos lugares de trabalho, vendo-se compelidos a
privações, horários desencontrados e promiscuidades que se reflectem
negativamente na sua vida de casados e lhes tolhem as forças indispensáveis ao
cultivo dos valores mais altos.
Muitos
destes problemas esperam a solução de adequadas políticas económicas, sociais e
de crédito, de formação profissional, de emprego e de habitação, que ao Estado
pertence definir e executar, com a audiência e participação dos interessados.
Mas também estes devem cultivar o equilíbrio nos gastos o sentido de poupança,
as renúncias ao consumismo, bem como um ideal de felicidade que está mais nos
valores morais, afectivos e espirituais do que nas comodidades, prazeres e
seguranças meramente humanas.
Por
sua vez, as famílias de origem devem contribuir o mais que puderem para que os
filhos, ao casar, estejam em condições de adquirir a autonomia financeira,
psicológica e social indispensável à normal construção dum novo lar em casa
própria.
8.
A mentalidade anti-natalista que nestes últimos anos se generalizou entre nós, é
dos mais perniciosos obstáculos ao equilíbrio e à felicidade de muitos jovens
casais. Se estes, afogados na onda de egoísmo que invade a nossa sociedade, se
recusam a um generoso serviço à vida, privam o seu lar do mais precioso dos bens
do matrimónio, que é o dos filhos (GS 50), e tornam-se coniventes no suicídio
demográfico e espiritual da sociedade de quem têm o direito de receber e a quem
têm o dever de dar o melhor contributo.
Além
das políticas acima referidas, sem as quais se torna aos jovens casais muito
difícil um generoso serviço à vida, urge que tanto os
organismos públicos como os de índole particular, e especialmente os
eclesiais, contribuam para o correcto posicionamento dos jovens casais perante o
delicado problema da natalidade. É aos casais novos que pertence tomar, em boa
consciência, isto é, no recto discernimento das motivações e meios de regulação
dos nascimentos, as decisões quanto ao número de filhos. Ninguém os pode
substituir nestas decisões, e todos têm o dever de lhes proporcionar os meios
para agirem com plena liberdade e responsabilidade. Nem sempre os serviços
oficiais lhes oferecem, sobre a matéria, uma informação correcta. Muito
desejaríamos que os serviços eclesiais e os movimentos familiares cristãos a
proporcionem, denunciando ao mesmo tempo as desinformações que sobre o assunto
correm.
9.
As situações que acabamos de apresentar não esgotam os problemas com que se
debatem os casais novos. Dão, no entanto, ideia do que é necessário ter em conta
na análise dos problemas e na organização dos apoios a proporcionar aos jovens
casais, para que tenham um bom começo de vida familiar.
Com
satisfação temos de reconhecer que, apesar das dificuldades reais
experimentadas, não faltam jovens casais que enfrentam corajosa e alegremente os
desafios que o mundo moderno e a sua consciência cristã lhes lançam. Acreditando
firmemente na graça do sacramento e vivendo nela apoiados, são um belo
testemunho, no seio da Igreja e da Sociedade, da riqueza do matrimónio cristão
como vocação pessoal, caminho de perfeição e serviço da Humanidade e do Reino de
Deus.
II - À DESCOBERTA DA VOCAÇÃO MATRIMONIAL
10.
A descoberta do que é o matrimónio como vocação e missão, quando feita pelos
casais novos ao longo duma iniciação conjugal e familiar vivida na fé e na graça
do sacramento, é, para eles, poderosa força para vencerem as dificuldades atrás
enumeradas e para encontrarem na vida de casados uma via autêntica de plena
realização e de felicidade.
Na
visão cristã, o matrimónio, para além da feliz aventura dum amor que gera
comunhão e vida, é sinal sacramental que anuncia, com a força do testemunho, o
amor de Deus pelos homens revelado no amor esponsal de Cristo pela Igreja.
A
pastoral familiar destina-se primordialmente a ajudar os casais a fazerem a
exaltante descoberta do que é o matrimónio, seu significado, seus dons e seu
contributo para o desenvolvimento da Sociedade e da Igreja.
11.
Como sacramento ou sinal eficaz da graça, o matrimónio garante aos esposos uma
especial presença salvífica de Jesus Cristo na sua vida de casados,
especialmente nos seus momentos mais difíceis. De facto, a graça do matrimónio
não se esgota no momento da sua celebração, mas acompanha os esposos ao longo da
vida, para que dêem testemunho de fidelidade à sua vocação e missão.
A
catequese matrimonial não deixará de inculcar esta consoladora realidade aos
noivos e aos esposos, ajudando-os a permanecerem nas disposições espirituais
necessárias para que a graça matrimonial projecte toda a sua potencial eficácia
na sua vida conjugal e familiar. A fé, a confiança e o amor sobrenaturais estão
no cerne destas disposições. Os casais deverão pedir e agradecer estas virtudes,
nomeadamente na oração em comum e na eucaristia dominical.
12.
O aprofundamento da vida conjugal fará ver que ela é essencialmente uma
experiência de amor que, à semelhança do amor de Deus, leva à comunhão e dela
brota. No casal, esta comunhão abrange todas as dimensões do ser humano – criado
por Deus na complementaridade dos sexos –, exprimindo-se na união carnal
afectiva, psicológica e espiritual, com a força da frase bíblica: «Serão os
dois uma só carne»
(Gén. 2, 24).
Aqui
radica a vocação do amor conjugal à unidade, no duplo sentido de tornar o casal
sempre uno e cada vez mais unido, e de o tornar factor de unidade na Sociedade e
na Igreja.
Neste
aspecto, a pastoral familiar deverá defender os casais novos das ameaças à sua
unidade e imunizá-los contra os fermentos internos e externos de desagregação.
Para isso, ajudá-los-á na procura de tudo o que fortaleça e aprofunde a comunhão
conjugal e familiar: diálogo e outras formas de comunicação e de conhecimento
mútuo, partilha de vidas, recurso à oração e aos sacramentos.
13.
Para o aprofundamento da comunhão conjugal, é imprescindível que marido e mulher
tenham da sexualidade humana uma visão correcta e profunda, que raramente
recebem das famílias de origem, da escola, da catequese, da comunicação social e
dos outros agentes culturais.
A
pastoral familiar deve propor aos noivos e aos casais novos tal visão, que
sublinha a complementaridade dos sexos não somente na dimensão orgânica e
fisiológica, mas também na ordem psicológica, afectiva e espiritual. Terá de
corrigir a mentalidade dominante, que reduz a sexualidade à genitalidade e a
gratificação sexual ao prazer físico. Para além da visão correcta, a pastoral
familiar deverá despertar um sentido de amor aberto à doação generosa e liberto
da tendência concupiscente para se apropriar do outro. Este sentido de amor
pressupõe uma ascese que, desde a mais tenra infância, vença o egoísmo nato. Sem
esta ascese dificilmente os casais suportam as renúncias da castidade conjugal,
exigidas pelo uso digno do matrimónio, pelo respeito e amor do outro e, não
raro, pelas formas legítimas de regulação dos nascimentos.
14.
Entramos aqui num dos mais delicados aspectos da vida dos casais: a passagem da
comunidade conjugal à comunidade familiar pela entrada na sua vida do precioso
fruto do amor: os filhos. Neles se projectam e revêem, por acto procriador, os
próprios pais. Por eles se fortalece e aprofunda a própria comunhão conjugal,
agora alargada às dimensões da comunhão familiar.
Porém,
toda a beleza desta visão dos filhos como o mais precioso dos dons do matrimónio
(GS 50) vê-se toldada, não só pelo ambiente anti-natalista já referido, mas
também pelas reais dificuldades de ordem económica e social que os casais novos
experimentam perante as exigências da paternidade e maternidade
responsáveis.
A
superação destas dificuldades exige da Pastoral da Família, em primeiro lugar, uma
proposição clara, segura e completa da doutrina sobre tal matéria, o que
infelizmente nem sempre acontece por ignorância, timidez ou comodismo de quem
tem o dever de iluminar as consciências, gerando assim confusão pastoral e
perplexidade nos casais. A pastoral familiar, que não é domínio somente do clero
mas também e largamente de leigos, nomeadamente casados, deve seguidamente
oferecer aos casais oportunas ajudas para cumprirem, tantas vezes em penosa
marcha progressiva, as exigências duma esclarecida procriação responsável.
15.
Outra preocupação séria para os pais é a educação humana e cristã dos filhos A
tarefa educativa é cheia de dificuldades, mas também dá grandes alegrias. O
êxito da educação dos filhos requer que ela comece desde os primeiros dias de
vida, que se faça num clima de verdade, respeito, liberdade, justiça e amor, que
se enquadre num estilo de vida simples, feliz e austero e de abertura aos
outros, nomeadamente aos mais pobres. Requer, depois, quando chegar o tempo,
presença activa dos pais na escola e cuidados com o mundo. Requer ainda abertura
à fé e às práticas da vida cristã e eclesial.
Em
todos estes aspectos, a pastoral familiar deve oferecer aos casais luzes e
apoios, mediante as mais variadas estruturas eclesiais, como são as paróquias,
catequese, escolas católicas ou presença da Igreja nos estabelecimentos de
ensino público, grupos de casais, movimentos de jovens, pastoral juvenil,
etc.
16.
Finalmente, os casais novos devem ter consciência da vocação social e eclesial
da família cristã. Não podem ceder à tentação do intimismo, que transforma a
comunidade familiar num grupo fechado. Seria privar a Sociedade e a Igreja duma
participação nas responsabilidades e tarefas que lhes são específicas; seria
privar os próprios casais dos benefícios que lhes advêm dessa participação;
seria mergulhar os lares num egoísmo empobrecedor da capacidade familiar de
educar as novas gerações para a vida social e eclesial, para a procura e
seguimento de vocações específicas, para o cumprimento generoso das missões para
que sejam vocacionadas.
Em
particular, a pastoral familiar deve sensibilizar os casais jovens à vocação de
construírem a «Igreja doméstica e, através dela, a «grande Igreja» pela
solidariedade cristã com os outros, pela participação em serviços eclesiais e
actividades apostólicas, pela intervenção evangélica nas realidades
temporais.
III – ESTRUTURAS E ESTRATÉGIAS da Pastoral da Família
17.
Em matéria de pastoral da família, a Igreja em Portugal não tem de partir do
zero. Já ao princípio referimos, ainda que brevemente, a actuação da Conferência
Episcopal e da Comissão Episcopal da Família com o seu Secretariado Nacional. Em
todas as dioceses existe um secretariado ou serviço equivalente de pastoral
familiar; em quase todas elas já foi consagrado um ou mais anos pastorais aos
problemas da família. São vários os movimentos de casais, os serviços de
preparação para o matrimónio e os organismos de defesa e apoio às famílias.
No
entanto, verificamos com apreensão que, em Portugal, a opinião pública,
fortemente influenciada pelos grandes meios de comunicação social, pela
legislação e pela degradação da moral pública, se afasta progressivamente da
visão cristã do matrimónio e da família e que o comportamento prático da maioria
dos casais reflecte tal perda dos verdadeiros critérios, valores e modelos da
vida familiar.
Daí
a urgência duma pastoral familiar mais atenta às realidades, mais bem
estruturada e mais dinâmica. Sem prejuízo das actividades que lhe são próprias
nos campos da doutrinação e sensibilização, da preparação para o matrimónio e do
apoio aos casais, deverá intensificar a sua acção junto dos casais novos pela
acuidade dos problemas que os afligem e pela projecção que tal acção terá ao
longo da sua vida e na sua actuação presente e futura na Sociedade e da
Igreja.
Para
isso, propomos as seguintes orientações:
18.
Nas dioceses, os Secretariados de Pastoral Familiar ou serviços equivalentes
devem esforçar-se por criar ou dinamizar o departamento ou sector da pastoral
dos casais novos. É sua função: manter as estruturas pastorais da Igreja
diocesana atentas aos problemas e necessidades das
novas famílias; organizar esquemas de trabalho para o estudo e acção das equipas
que se dedicam a este sector; mover encontros e acções formativas quer para
casais novos quer para as pessoas e grupos que os apoiam.
É
de toda a conveniência recorrer ao contributo de peritos nas várias ciências
humanas e sociais, a profissionais de saúde, e a técnicos em questões jurídicas,
financeiras e outras, visto serem variados e complexos os problemas dos casais
novos que importa ajudar.
Fazemos
apelo aos serviços de preparação para o matrimónio e aos grupos ou movimentos
que lhes prestam colaboração, para que dêem a sua ajuda indo ao encontro dos
casais novos.
19.
As paróquias e outras comunidades locais, pela relação mais directa que podem
estabelecer com as jovens famílias formadas ou a viver na sua área, prestem-lhes
particular atenção, proporcionando-lhes tempos celebrativos de convívio e de
formação. Procurem cativá-las, integrá-las e ajudá-las na superação das
dificuldades e no feliz cumprimento da sua vocação e missão. Tratem com
solicitude da preparação dos pais e padrinhos para o baptismo das crianças e da
festiva celebração deste sacramento. Na catequese das crianças, procurem a
participação interessada e comprometida dos pais.
Nos
campos da pastoral juvenil e da preparação remota para o casamento, têm as
paróquias tarefa importante a cumprir. Para o seu mais cabal desempenho, deverão
associar-se para maior eficiência, nomeadamente para a constituição dum CPM
(Centro de Preparação para o Matrimónio) ou dum CPB (Centro de
Preparação para o Baptismo).
É
preciso vencer a tentação de reduzir quase a formalidade burocrática os
contactos com os noivos que aparecem para marcar o casamento ou com os jovens
pais que pedem o baptismo ou a catequese para os filhos. São ocasiões
privilegiadas dum diálogo de grande importância na perspectiva da pastoral dos
casais novos.
20.
Os movimentos familiares que integram grupos de casais ou de famílias são de
grande importância para a pastoral familiar, e nomeadamente para a pastoral dos
casais novos. O contacto directo frequente e vivo em clima de
fraterna solidariedade permite a estes movimentos proporcionar aos casais ajudas
psicológicas, morais, espirituais e outras, que se têm revelado de grande
valor
Estas
ajudas são hoje particularmente necessárias, porquanto os casais se vêem a
braços com situações novas, originadas pelas profundas e rápidas mutações
sócio-culturais, e se vêem perplexos perante os mais díspares critérios em
matéria de unidade, fidelidade, indissolubilidade, fecundidade e santidade da
condição matrimonial.
Compete
aos movimentos familiares não só ajudar os casais, mas ainda intervir junto das
instâncias competentes em defesa das verdades e dos direitos fundamentais do
matrimónio e da família. Queremos significar o nosso apreço pelo trabalho que já
vêm realizando e formulamos o duplo voto de que alarguem a sua implantação nas
dioceses ou regiões mais carenciadas e de que os vários movimentos se dêem as
mãos uns com os outros e com as restantes estruturas da Pastoral da Família, para
mais forte intervenção social e eclesial.
CONCLUSÃO
21.
A pastoral dos casais novos enquadra-se perfeitamente no grande esforço de
aprofundamento e dinamização da acção apostólica da Igreja, a que João Paulo II
tem vindo a chamar «Nova Evangelização» Uma das linhas de força deste novo
dinamismo apostólico é a cristianização da cultura, com o que isso implica de
insuflação do espírito evangélico nas estruturas e meios sociais. E, entre
estes, não há outro mais importante do que a família. Realmente, como escreveu o
mesmo Pontífice, «o futuro da humanidade passa pela família» (FC 85). O futuro
cristão de Portugal depende da vitalidade cristã das jovens famílias de hoje. A
pastoral dos casais novos está assim entre as primeiras urgências da Igreja
entre nós.
A
proclamação de 1994 como Ano Internacional da Família, sinal de que nas mais
altas instâncias internacionais se está a tomar consciência dos riscos para a
grande Família Humana da degradação da vida familiar, não nos pode passar
despercebida. Pelo contrário, devemos ver nela excelente oportunidade para
revitalizar na Igreja entre nós a pastoral familiar e dar ao mundo português as
razões da nossa esperança nas virtualidades da instituição familiar para
resistir aos efeitos negativos das mutações culturais em curso e para injectar
na nova Sociedade em gestação os valores de que tradicionalmente a família é
portadora.
22.
A hora tem de ser de lucidez e de conjugação de esforços. Urge encarar com
realismo e confiança a situação da família e em particular dos casais novos, e
mobilizar quantos directa ou indirectamente trabalham nos campos da pastoral
familiar, para uma melhor estruturação e dinamização desta pastoral,
privilegiando o sector dos casais novos.
A
estes casais novos, que de modo consciente e livre optaram pela sua união à luz
de Deus e da Igreja pelo sacramento do matrimónio e para ele se prepararam de
forma responsável, queremos dizer:
–
Com simplicidade e coragem, dai testemunho vivo do vosso empenho em
realizar o exaltante projecto a que Cristo vos chamou: de serdes casais
cristãos, fundadores de famílias movidas pelo ideal evangélico, de comunidades
que vivem e irradiam verdade, justiça, liberdade, amor e alegria.
–
Resisti com tranquila confiança aos desvios doutrinais e comportamentais que
brotam como sub-produto da moderna cultura em crise; e contribuí para o seu saneamento e valorização, projectando
nela os critérios, valores e dinamismos verdadeiramente humanos e cristãos que
norteiam e animam a vossa vida conjugal e familiar.
–
Procurai, na oração a dois e em família, na meditação da Palavra de Deus,
na liturgia, na contemplação e imitação da Sagrada Família de Nazaré e nos
ensinamentos e apelos da Igreja, as luzes e forças para realizardes com
felicidade o ideal de família cristã.
Assim
cumprireis a vossa vocação e a vossa missão. Assim será grande a vossa e a nossa
alegria.
Fátima, 11 de Novembro de 1992 Os Bispos de
Portugal |
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