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ARTIGO
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Feminismo de género e
promoção da mulher |
Dale O’LEARY
in «L'Osservatore Romano», 13 de Novembro, 2004 |
A recente Carta da Congregação para a Doutrina da Fé sobre
a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo
começa com uma breve análise de «algumas correntes de
pensamento, cujas teses muitas vezes não coincidem com as
finalidades genuínas da promoção da mulher».
Ao longo dos últimos cinquenta anos, a
sociedade tem-se esforçado por encontrar o modo de reconciliar
a igualdade fundamental dos homens e das mulheres com as suas
inegáveis diferenças biológicas. Durante os anos 60, as
mulheres protestavam contra leis e costumes que lhes
reservavam um tratamento discriminatório. Os governos
respondiam emanando normas que garantissem às mulheres iguais
direitos legais, igual acesso à educação e iguais
oportunidades económicas, de que as mulheres se apressaram a
aproveitar. Aumentou o número daquelas que continuaram os seus
estudos, chegando até à educação superior, inclusivamente o
número de mulheres comprometidas em actividades profissionais
e em cargos públicos eleitos ou por nomeação.
Durante os anos 70 o movimento feminista,
que tinha encorajado estas transformações, foi capturado pelos
radicais, que viam nas mulheres o protótipo da classe oprimida
e indicavam como mecanismos de opressão o matrimónio e a «heterossexualidade
obrigatória». Esta corrente de pensamento hauria da análise
das origens da família feita por Frederick Engels. Em 1884, Engels
escreveu: «O primeiro antagonismo de classe da história
coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e
a mulher no âmbito do matrimónio monogâmico, e a primeira
opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino
por parte do sexo masculino». [1]
No seu livro The Dialectic of Sex,
escrito em 1970, Shulamith Firestone modificou a análise da
luta de classe levada a cabo por Frederick Engels,
indicando como necessária uma revolução das
classes sexuais: «Para garantir a eliminação das classes
sexuais, é necessário que a classe oprimida (as mulheres) se
revolte e assuma o controle da função reprodutiva: … pelo que,
a finalidade final da revolução feminina deve ser diversa do
objetivo do primeiro movimento feminista, não exclusivamente a
eliminação do privilégio masculino, mas sim da própria
distinção entre os sexos; as diferenças genitais entre os
seres humanos já não teriam qualquer importância».[2]
Segundo Shulamith Firestone, «o núcleo da
opressão das mulheres encontra-se precisamente no seu papel de
gestação e de educação dos filhos».[ 3]
Os promotores desta análise consideravam o aborto livre, a
contracepção, a completa liberdade sexual, o trabalho feminino
e a presença de estruturas públicas diurnas a que confiar os
seus filhos, como condições necessárias para a libertação da
mulher.
No seu livro
The Reproduction of Mothering,
Nancy Chodorow afirmava que, enquanto o papel de cuidar dos
filhos permanecer uma prerrogativa da mulher, as crianças
crescerão considerando a humanidade dividida em duas classes
diferentes e desiguais e, na opinião dessa mesma autora, esta
visão é a causa da aceitação da opressão «de classe».[4]
No contexto de um manual para os programas
de estudos sobre a questão feminina, Alison Jagger expôs os
resultados desejados pela revolução das classes sexuais: «O
desaparecimento da família biológica terminará por eliminar
também a exigência da repressão sexual. A homossexualidade
masculina, o lesbianismo e os relacionamentos extraconjugais
já não serão considerados de forma liberal, como opções
alternativas… desaparecerá precisamente a "instituição do
relacionamento sexual", em que o homem e a mulher desempenham,
cada qual à sua maneira, um papel bem definido. Em última
análise, a humanidade poderia voltar a apropriar-se da sua
sexualidade natural, caracterizada por uma diversidade polimorfa».[ 5]
Porém, um ataque frontal à família
comportava certos riscos. Na opinião de Christine Riddiough,
«a cultura "gay"/lésbica pode ser também considerada como uma
força subversiva, capaz de desafiar a hegemonia do conceito de
família. Todavia, esta interpretação pode adquirir formas, por
si só, como contrapostas à família… A fim de que a índole
subversiva da cultura "gay" seja utilizada de maneira eficaz,
devemos ser capazes de apresentar modalidades alternativas de
interpretação dos relacionamentos humanos».[ 8]
Sexo ou género?
O problema que encontram aqueles que
encorajam a revolução no que se refere à família é a
modalidade de eliminação da
classes sexuais, dado que
estas mergulham as suas raízes nas diferenças biológicas entre
o homem e a mulher. Uma solução vem da actividade do Dr. John
Money, da Universidade «John Hopkins» de Baltimore, nos
Estados Unidos da América. Até aos anos 50, a palavra
género
era um termo gramatical, usado
para indicar se uma palavra era masculina, feminina ou neutra.
O Dr. John Money começou a utilizar esta palavra num contexto
novo, cunhando assim a expressão «identidade de
género», para descrever a
consciência individual dele mesmo ou dela mesma como homem ou
como mulher.[7] Na opinião de John Money, a identidade do
género de uma determinada pessoa dependia do modo como a
criança tinha sido educada e podia resultar diferente do seu
sexo biológico. John Money afirmava que seria possível mudar o
sexo de uma pessoa e que as crianças nascidas com órgãos
genitais ambíguos poderiam ser modificadas cirurgicamente e
ser atribuídas a um sexo diferente do genético.
As teorias de John Money alcançaram muito
êxito e, em 1972, ele apresentou aquela que parecia ser uma
prova irrefutável do facto de que a identidade de
género dependia da
educação recebida. No seu livro Man & Woman, Boy & Girl,
John Money explicou o caso de um gémeo monozigoto, cujo pénis
tinha sido destruído durante uma operação de circuncisão.[8]
Os pais do menino pediram ajuda ao Dr. John Money, que lhes
aconselhou que castrassem a criança e a educassem como se
fosse uma menina. A existência do gémeo monozigótico permitiu
ao Dr. John Money comparar o gémeo educado como menina com o
outro, educado como menino. O autor dessa investigação afirmou
que a mudança de sexo tinha obtido bom êxito e explicou que o
menino se adaptou perfeitamente a uma identidade feminina. O
caso parecia resolver a questão da «natureza versus educação»,
em favor da educação.
Ainda antes de anunciar o seu famoso caso,
as teorias do Dr. John Money já encontravam o apoio das
feministas. No seu livro
Sexual Politics, escrito
em 1969, Kate Millet, comentando o referido trabalho do Dr.
John Money, escreveu: «… no instante do nascimento não há
qualquer diferenciação entre os sexos. Por conseguinte, a
personalidade psicossexual forma-se numa fase pós-natal e
constitui um fruto da aprendizagem».[9]
O conceito de
género como um produto
social começou a fazer parte da teoria feminista, Susan Moller
Okin, autora do livro Justice, Gender and the Family
(1989), formulava votos de «um futuro desprovido de género.
Não haveria nada pré-definido nas funções masculinas e
femininas; a gravidez seria tão conceitualmente separada da
educação, que causaria admiração se os homens e as mulheres
não fossem igualmente responsáveis pelas incumbências
domésticas».[10]
Ao longo dos anos 80, o termo género
tornou-se omnipresente no âmbito dos programas de estudos da
questão feminina. Com a introdução do conceito de género
como um produto social, o interesse do movimento feminista
passou da eliminação das políticas desvantajosas para a
mulher, à atenção a tudo aquilo que admitia a existência de
diferenças entre o homem e a mulher, de forma particular tudo
aquilo que se realizava em benefício da mulher, enquanto
principal fonte de assistência no âmbito doméstico. Um futuro
desprovido de género pressupunha uma sociedade que
examinasse de maneira meticulosa todos os aspectos da cultura,
para assim relevar provas da socialização de género.
Antes de 1990, os documentos publicados
pela Organização das Nações Unidas tinham ressaltado a
eliminação da discriminação em relação às mulheres, mas por
volta do ano de 1990 o género tornou-se um fulcral
ponto de interesse. Um opúsculo da agência INSTRAW, da
Organização das Nações Unidas, intitulado Gender Concepts
in Development and Planning: A Basic Approach, definia o
género com as seguintes expressões: «É um sistema de funções e
relações entre homens e mulheres, determinado não pela
biologia, mas pelo contexto social, político e económico. O
sexo biológico constitui um dado natural: o género é construído». [11]
Todavia, a linha de separação entre sexo e
género permanecia incerta. Muitos daqueles que
adoptavam o termo género não tinham ideia das suas
raízes ideológicas. Não obstante, a Conferência da Organização
das Nações Unidas sobre a Mulher, realizada em 1995 em Pequim
(China), convidou as nações do mundo a «adoptar uma
perspectiva de género». Como recita o texto definitivo
da sua Plataforma de Acção: «Em muitos países, as diferenças
entre as actividades e os resultados alcançados pela mulher e
pelo homem ainda não são reconhecidas como consequências de
funções de género, socialmente construídos, mas sim
como diferenças biológicas imutáveis». [12]
O problema levantado
por esta declaração é que algumas das diferenças entre as
actividades desempenhadas pela mulher e as que são levadas a
cabo pelo homem estão claramente vinculadas a diferenças
biológicas imutáveis, que a mencionada Plataforma de Acção não
tem em consideração. Por exemplo, somente as mulheres podem
trazer um filho no seu seio e amamentá-lo. Enquanto uma
elevada percentagem de mulheres fizer da maternidade a sua
própria vocação primária, decidindo não trabalhar fora do
âmbito doméstico, deixando o trabalho por períodos
prolongados, de modo a ir ao encontro das exigências
familiares, e escolhendo ocupações com horários ou funções que
sejam compatíveis com as suas responsabilidades familiares, as
actividades e os resultados alcançados pelo homem e pela
mulher serão notavelmente diferentes. [13]
A perspectiva de género não apoiava as mulheres que
escolhiam a maternidade como a vocação primordial. Durante uma
entrevista realizada em 1975, com Betty Friedan, Simone de
Beauvoir resumia esta orientação. À pergunta se as mulheres
deviam ser livres de decidir se queriam permanecer em casa e
educar os seus filhos, ela respondeu: «As mulheres não
deveriam ter esta possibilidade de escolha, precisamente por
se tal opção existisse, demasiadas mulheres a adoptariam».[14]
Não se tratava simplesmente do facto de que
o género era construído, mas de que, segundo esta
perspectiva, a construção do género era realizada pelo
homem, em detrimento da mulher. A própria palavra «mulher» era
vista como uma etiqueta que criava «um ser fictício» e
«perpetuava a desigualdade». [15]
A unidade do ser humano
Enquanto se revigorava a perspectiva do
género, o seu fundamento teórico ia-se debilitando. Em 1997,
um artigo do Dr. Milton Diamond, perito em efeitos pré-natais
da testosterona sobre a organização cerebral, revelou que o
Dr. John Money não tinha divulgado fielmente o resultado do
caso dos gémeos.[16] O Dr. Milton Diamond nunca tinha aceite a
teoria do Dr. John Money, segundo a qual a socialização podia
prevalecer sobre a identidade biológica. Ao longo dos anos, o
Dr. Milton Diamond realizou diversas tentativas para localizar
o gémeo citado como exemplo pelo Dr. John Money, para
verificar como foi que o menino enfrentou a sua adolescência.
Por fim, o Dr. Milton Diamond conseguiu entrar em contacto com
um terapeuta do lugar, que tinha acompanhado o gémeo, e
descobriu que a experiência se revelara um falhanço completo.
O gémeo nunca aceitou ser uma mulher e jamais se adaptou ao
seu papel feminino. Com a idade de 14 anos, começou a ter
tendências suicidas. Um dos numerosos terapeutas destinados à
sua assistência psicológica encorajou os pais do menino a
revelar-lhe a sua verdadeira identidade. No momento em que
soube que era um menino, decidiu levar uma vida de homem.
Submeteu-se a algumas intervenções cirúrgicas reconstrutivas,
extremamente complicadas e casou. Sucessivamente, toda a
história do caso dos gémeos foi documentada no livro, escrito
por John Colapinto, As Nature Made Him.
As teorias do Dr. John Money foram
ulteriormente desacreditadas pelas sucessivas investigações
sobre o desenvolvimento cerebral. A pesquisa acerca da
exposição pré-natal das hormonas demonstrou que, já antes do
nascimento, os cérebros masculinos e femininos são
notavelmente diferentes, o que influi, entre outras coisas,
sobre o modo em que o recém-nascido compreende visivelmente os
movimentos, as cores e as formas. O resultado é uma
«predisposição biológica» dos meninos para brinquedos
tipicamente masculinos e das meninas para brinquedos
tipicamente femininos.[18] Já no seio materno, as mulheres são
dotadas da sensibilidades pelo ser humano, necessária para a
maternidade. Esta investigação e outras informações novas
acerca da estrutura do cérebro humano indicam que as
influências biológicas e a experiência concorrem para criar
conexões cerebrais e, desta forma, estão tão inseparavelmente
entrelaçadas que é impossível separá-las.
As crianças nascem no seio da sociedade,
criada por homens e mulheres cuja percepção daquilo que é
natural é influenciada pela própria combinação entre a
biologia e a experiência. Os meninos crescerão para se
tornarem pais, e as meninas para se tornarem mães. Esconder
este facto por intermédio da socialização neutra do género
não mudará a realidade da diferença sexual.
Outras investigações sobre o
desenvolvimento cerebral demonstraram a importância do
relacionamento entre a mãe e o filho, durante o primeiro mês
de vida. A criança que ouviu a voz materna durante a gestação
vem ao mundo procurando a luz nos olhos da mãe. Assim, um
sólido vínculo entre a mãe e o filho é fundamental para o
desenvolvimento emotivo. Os estudiosos que
analisam a questão do desenvolvimento neonatal e do
desenvolvimento do cérebro humano preocupam-se pelo facto de
que as próprias descobertas acerca da importância do vínculo
entre a mãe e o filho são ignoradas por aqueles que encorajam
o trabalho feminino e a entrega das crianças a estruturas de
assistência diurna.[19]
Se as mulheres são mais sensíveis às
exigências do ser humano e as crianças têm necessidade de mães
sensíveis às suas exigências, então apresentar a maternidade
numa perspectiva positiva não quer dizer perpetuar um
estereótipo negativo, mas reconhecer a realidade. Não há
injustiça quando as mulheres não são impedidas de decidir
se querem trabalhar fora de casa. É precisamente porque os
dois sexos são diferentes que a mulher pode oferecer uma
contribuição singular para a sociedade em geral. O facto de
a mulher ter uma possibilidade de escolha faz com que as
próprias mulheres se sintam confusas, mas este é o preço da
liberdade.
A falta de provas para as teorias sobre a
discriminação de género
Os promotores da perspectiva de
género citaram numerosos
exemplos do modo como a socialização de género termina
no abuso da mulher. O problema é que muitos destes exemplos
não resistem a um exame mais atento. Christina Hoff Sommers,
autora da obra intitulada Who Stole Feminism?,
descobriu que, enquanto os meios de informação davam espaço às
teorias feministas, em conformidade com as quais a
socialização negativa de género provocava a morte por
anorexia de cento e cinquenta mil mulheres norte-americanas
por ano, as estatísticas no campo da saúde demonstram que, em
1983, foram enumeradas cento e uma mortes por anorexia. E no
ano de 1991 o número de tais mortes desceu para cinquenta e
quatro.
Em 1991,
A American Association of
University Women publicou um estudo intitulado: A Call
to Action: Shortchanging Girls, Shortchanging America, em
que se afirmava que a discriminação de género
no âmbito escolar provocava uma devastadora
perda de auto-estima nas adolescentes.[20]
Tal estudo foi amplamente divulgado pelos meios
de comunicação e foram instituídos numerosos programas para
resolver esta problemática. Com grande dificuldade, Christina
Hoff Sommers obteve uma cópia dos resultados dessa
investigação e descobriu que a avaliação da auto-estima não
tinha sido efectuada segundo métodos científicos e que as
adolescentes, na maior parte das avaliações realizadas,
apresentavam resultados escolares melhores, em relação aos
estudantes coetâneos do sexo masculino.[21]
A problemática suscitada pelas acusações de
opressão não comprovadas levantadas por parte das feministas é
que elas desviam os limitados recursos da resolução dos
problemas concretos que as mulheres se encontram a enfrentar e
debilitam a credibilidade daqueles que estão comprometidos em
favorecer os verdadeiros interesses da mulher.
Considerando a confiança depositada no
passado nas investigações desprovidas de validade, é
importante examinar atentamente todas as provas a favor da
perspectiva de género .
E isto vale de maneira particular para os temas do aborto e da
homossexualidade. Por exemplo, aqueles que são favoráveis a
uma renovada definição do matrimónio, que tenha em
consideração as uniões homossexuais, citaram numerosos estudos
que prometem demonstrar a ausência de diferenças
significativas entre as crianças educadas por uniões
homossexuais e as crianças educadas pelos pais naturais, no
âmbito do matrimónio. Quando foram analisados, estes estudos
resultaram desprovidos de uma validade tanto interna como
externa.[22] Na opinião do Prof. Lynn Wardle, «a maior parte
dos estudos realizados sobre os pais homossexuais está
fundamentada em investigações quantitativas não confiáveis,
viciadas tanto sob o ponto de vista metodológico como
analítico (algumas são de qualidade pouco mais do que
anedótica) e oferecem uma base empírica demasiado frágil para
determinar as políticas públicas».[23]
Por outro lado,
numerosos estudos confirmam as modalidades em que a presença
de um pai e de uma mãe melhoram o bem-estar dos filhos. A
importância do amor paterno é um facto consolidado, mas
inúmeros estudos demonstram que o amor paterno tem uma
influência positiva. A este propósito, uma resenha da
literatura confirmou que «a influência do amor paterno sobre o
desenvolvimento dos filhos é igual e, por vezes, até mesmo
maior do que a do amor materno. Determinados estudos concluem
que o amor paterno é o único indicador significativo de
resultados positivos específicos».[24]
O futuro está nas mãos
dos jovens e, por conseguinte, a sociedade tem a obrigação de
dar prioridade ao seu bem-estar. As mulheres desejam aquilo
que é melhor para os seus próprios filhos e cada criança tem
necessidade de um pai e de uma mãe. Somente o matrimónio
assegura o compromisso dos pais, um em relação ao outro e
ambos em relação aos seus filhos e, portanto, qualquer outra
forma de união comporta riscos para as crianças e para as
mulheres.
Patrick Fagan, da
Heritage
Foundation, reuniu uma enorme quantidade de provas em
benefício da importância dos filhos terem um pai e uma mãe que
permaneçam unidos no matrimónio: «Os filhos que nascem fora
do matrimónio ou com pais divorciados têm uma probabilidade
muito mais elevada de cair na pobreza, nos maus-tratos e nos
problemas comportamentais e emotivos; obtêm resultados piores
na escola e usam drogas com maior frequência. As mães não
casadas têm uma probabilidade muito maior de se tornarem
vítimas da violência. De qualquer forma, os filhos cujos pais
permanecem casados têm vantagens concretas. Verificou-se que os
adolescentes provenientes de tais famílias apresentam um
estado de saúde melhor, têm menores probabilidades de sofrer
devido a depressão e de repetir o ano escolar, e encontram
menores problemas de desenvolvimento».[25]
Em defesa da mulher
A Igreja Católica não pode permanecer
neutra quando, em nome das mulheres, são atacados a família, o
matrimónio, a maternidade, a paternidade e a moral sexual ou a
vida do feto. A Igreja condena incondicionalmente todos os
abusos perpetrados em detrimento da mulher no âmbito familiar,
mas a solução não é a destruição da família. Quando as
sociedades encorajam o sexo fora do matrimónio, o aborto, a
mentalidade contraceptiva e o divórcio, quem fica prejudicada
é a mulher. Quando o matrimónio é respeitado e a castidade é
promovida, a dignidade da mulher é salvaguardada.
A solidariedade entre o marido e a esposa
dentro da família, e entre o homem e a mulher no seio da
sociedade, é necessária para que a sua colaboração seja
fecunda. Uma luta interminável entre as classes sexuais não
levará à libertação da mulher. Uma antropologia desviada, que
não reconhece as diferenças entre os sexos, deixa a mulher na
nada invejável posição de procurar imitar o comportamento
masculino ou de desperdiçar a sua energia na vã tentativa de
transformar o homem numa pseudo-mulher. Uma mulher que
compreende e aceita as diferenças entre os sexos é livre de
colaborar com o homem, sem comprometer a sua originalidade
pessoal.
A perspectiva de género é um beco
sem saída. Dissipam-se recursos preciosos para contrariar o
desejo natural de maternidade, ínsito na mulher. Favorecer a
paternidade, a maternidade, a família e o matrimónio não
compromete de forma alguma a igualdade essencial, os direitos
e a dignidade da mulher. Somente o reconhecimento das
diferenças entre o homem e a mulher, e da centralidade da
família na sociedade oferece os parâmetros válidos para
começar um diálogo. Será ainda necessário distinguir entre as
diferenças concretas e os estereótipos humilhantes, e
permanecerá importante salvaguardar o direito da mulher e do
homem, a escolherem carreiras atípicas e proteger a mulher
contra a injustiça e os maus-tratos. Neste diálogo, a Igreja
tem muito a oferecer. O reiterado convite do Santo Padre à
solidariedade oferece a alternativa a uma luta de classe sem
fim. Aqueles que estiverem interessados em criar uma sociedade
verdadeiramente favorável à mulher acharão útil o livro
Amor e Responsabilidade, escrito pelo Santo Padre João
Paulo II, quando ainda era Bispo. A condenação, pelo
Sumo Pontífice, de todos os comportamentos que tratam as
pessoas como objectos, encontrará um eco entre todas as
mulheres que, justamente, sentem o peso do fardo do
utilitarismo sexual e económico.
A colaboração frutuosa entre o homem e a
mulher deve fundamentar-se sobre a verdade acerca da pessoa
humana. Os dois sexos, diferentes e de igual dignidade,
constituem uma revelação da imagem e da semelhança de Deus, e
participam da bondade da criação. Deus, que criou o ser
humano, homem e mulher os criou, e que instituiu o matrimónio
e a família, definindo as leis que governam a moral, é incapaz
de injustiça. Por conseguinte, as mulheres nada têm a temer de
uma cultura que compreende e que respeita as diferenças entre
os homens e as mulheres.
Notas
1 Frederick Engels, The Origin of The
Family, Property and the State, International Publishers,
Nova Iorque 1972, pp. 65-66.
2 Shulamith Firestone, The Dialectics of
Sex, Bantam Books, Nova Iorque 1970, pág. 12.
3 Ibid., pág. 72.
4 Nancy Chodorow, The Reproduction of
Mothering, University of California Press, Berkeley 1978.
5 Alison Jagger, «Political Philosophies
of Women's Liberation», em: Feminism and Philosophy,
Littelefield, Adams & Co., Totowa, Nova Jérsei 1977, pág. 13.
6 Christine Riddiough, «Socialism,
Feminism and Gay/Lesbian Liberation», em: Women and
Revolution, Ed. by Sargent, South End Press, Boston 1981,
pág. 87.
7 John Colapinto, As Nature Made Him,
Harper Collins, Nova Iorque 2000, pág. 69.
8 John Money & Anke Ehrhardt, Man &
Woman, Boy & Girl, John Hopkins University Press,
Baltimore, MD 1972.
9 Kate Millet, Sexual Politics, Avon
Books, Nova Iorque 1971, pág. 54.
10 Susan Moller Okin, Justice, Gender
and the Family, Basic Books, Nova Iorque 1989, pág. 170.
11 Gender Concepts in Development and
Planning: A Basic Approach, INSTRAW, 1995, pág. 11.
12 Platform of Action, Beijing
Conference on Women, 1995, parágrafo 27 do texto final.
13 Esta é a opinião expressa pelo
Presidente da Islândia, Sua Ex.cia o Senhor Vigdis
Finnbogadottir: «Enquanto o campo particular permanecer de
maneira prevalecente uma prerrogativa das mulheres, as mesmas
serão muito menos disponíveis do que os homens para as tarefas
de responsabilidade na vida económica e política», em:
Intervenção no Conselho da Europa, Estrasburgo, Fevereiro
de 1995.
14 Simone de Beauvoir, «Sex, Society and
the Female Dilemma: a dialogue between Betty Friedan and
Simone de Beauvoir», em: Saturday Review, 14 de
Junho de 1975, pág. 18.
15 Peter Beckman & Francine D'Amico,
Women, Gender and the World Politics, Bergim & Garvey,
Westport, CT, 1994, pág. 7.
16 Milton Diamond & H.K. Sigmundson, «Sex
Reassignment at Birth: ALong Term Review and Clinical
Implications», em: Archives of Pediatrics and
Adolescent Medicine (151), Março de 1997, pp. 298-304.
17 John Colapinto, As Nature Made Him,
Harper Collins, Nova Iorque, 2000.
18 Geriane Alexander, «An Evolutionary
Perspective of Sex-Typed Toy Preference: Pink, Blue, and ther
Brain», em: Achives of Sexual Behavior, Vol. 32, 1,
Fevereiro de 2003, pp. 7-14.
19 Shore, Affect Regulation and the Origin of Self: The
Neurobiology of Emotional Development, pág. 540.
20 A Call to
Action: Shortchanging Girls, Shortchanging America,
American Association of University Women, District of Columbia,
1991.
21 Christina Hoff Sommers, Who Stole
Feminism?, pp. 137-156.
22 Philip Belcastro et. al., «A
Review of Data Based Studies Addressing the Affects of
Homosexual Parenting on Children's Sexual and Social
Functioning», em:
Journal of Divorce and Remarriage, 1993, Vol. 20,
nn. 1-2, pp. 105-122; Robert Lerner and Althea Nagai,
No Basis: What the studies don't
tell us about same-sex pareting, Marriage Law
Project, Washington DC, 2001.
23 Lynn Wardle, «The
Potential Impact of Homosexual Parenting on Children»,
em: University of Illinois Law
Review (833), 1997.
24 Ronald Rohner & Robert Veneziano, «The
Importance of Father Love: History and Contemporary Evidence»,
em: Review of General Psychology,
Dezembro de 2001, Vol. 5, n. 4, pp. 382-405.
25 http://www.heritage.org/Research/Features/Marriage/index.cfm#q1
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