Qual é o maior desafio para a
família hoje?
É necessário esclarecer bem as
pessoas porque o debate sobre a não admissão à comunhão
Eucarística dos católicos divorciados e recasados tem
captado a atenção dos meios de comunicação, ofuscando os desafios
reais que afetam as famílias de hoje.
A crise da família tem origem na
visão relativista que tentou mudar o conceito de matrimónio e de
vida conjugal.
O conceito cristão do matrimónio
e da família parte da união entre um homem e uma mulher que,
juntos, se comprometem com o crescimento da família no mundo.
A cultura atual fala de família
sem ter nenhum significado específico. A sociedade fala de família
em todas as circunstâncias – biológicas, com pais adotivos,
homossexuais – como se todas essas situações se pudessem tornar
modelos, quando, na realidade, muitas são simplesmente uma
expressão trágica de problemas individuais.
Em termos de realidade devemos
também considerar as causas sociais e económicas que contribuem
para o enfraquecimento da família. E então, como vimos no Sínodo,
os problemas que afligem as famílias na África são diferentes dos
de outros países.
Pode explicar-nos melhor
quais situações está enfrentando o seu continente?
A cultura tradicional africana
está centrada na família. O conceito de família é assim tão
difundido e profundamente enraizado que pode ser considerado uma
característica peculiar da tradição africana. Na cultura do meu
continente, a vida e os valores da família são sustentados e
promovidos com entusiasmo, e os papéis de homens e mulheres são
fundamentais: um não pode existir sem o outro. Ambos são
necessários para a tarefa de criar e educar os próprios filhos.
No entanto, a família africana
foi atacada por ideologias ocidentais que buscam confundir e
poluir a relação entre homens e mulheres. A ideologia do "género"
nega o plano de Deus para a família humana. O Criador, de fato,
criou dois sujeitos de humanidade: o homem e a mulher, o macho e a
fêmea. A ideologia de género expressa o desejo de grupos
ideológicos que querem livrar-se daquilo que é uma questão de
fato, uma determinação antropológica, teológica e ontológica que
está inscrita na natureza.
Este "modelo de género"
incentiva a mulher a interpretar a sua relação com o homem de
forma conflituante. Exalta-se a liberdade de escolha sobre a
orientação sexual com a intenção de promover a cultura da
homossexualidade também na África. Existem organizações ocidentais
que procuram impor a ideologia homossexual na cultura Africana. A
aceitação dessas ideologias prejudiciais é condição para receber
ajudas humanitárias e financeiras para a África.
Além desses desafios, as
famílias africanas devem lutar contra a influência das culturas
pagãs, como por exemplo a poligamia e os efeitos nocivos da
pobreza sobre a vida familiar.
Como é que esses temas foram discutidos
no Sínodo?
Durante o Sínodo, houve
recomendações para afirmar e promover o ponto de vista da Igreja
Católica sobre o matrimónio e a família. Trata-se de uma visão que
a Igreja herdou através de milénios de fé e de tradição.
Precisamos ouvir novamente o que
Jesus disse: "Não tendes lido que o Criador, desde o princípio,
os criou homem e mulher e que disse: ‘Por isso o homem deixará o
pai e a mãe, e se unirá com a sua mulher, e os dois serão uma só
carne?’ Assim, eles já não são dois, mas uma só carne; Portanto o
que Deus uniu, que o homem não separe”.
Nós temos que, com força e
firmeza, defender os ensinamentos presentes na Sagrada Escritura e
manifestados pelo Magistério da Igreja. Embora seja necessário que
a Igreja enfrente estes desafios com uma abordagem pastoral.
Você acha que no próximo
Sínodo veremos avanços concretos e positivos a este respeito?
Sim, a principal tarefa do
Sínodo Extraordinário foi a de elaborar uma análise sobre a
situação da família de hoje e os desafios que a Igreja deve
enfrentar ao longo do seu ministério pastoral. Em vista disso,
tenho a satisfação de ver que o Sínodo da família em 2015 será
dedicado ao tema da vocação e da missão da família na Igreja e no
mundo contemporâneo. Vamos ouvir os ensinamentos de Deus e os
ensinamentos da Igreja.
Qual é a abordagem do Papa Francisco
sobre estas questões?
O Santo Padre está bem ciente do
sofrimento das famílias. Sente a dor e o transtorno que muitas
famílias estão enfrentando. A sua intenção é que a Igreja dedique
dois anos para rezar e refletir sobre a família na perspectiva da
nova evangelização. O Papa vê a Igreja como uma mãe que verdadeira
e seriamente se preocupa com a família. O Santo Padre tem
acompanhado de perto o Sínodo. Acredito que neste período de nova
evangelização para a Igreja, as circunstâncias difíceis de muitas
famílias e as dificuldades que enfrentam estão muito perto de seu
coração. Foi por isso que ele convocou o Sínodo.
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