Esperando um futuro incerto!
Vinte e cinco anos passaram desde o inicio deste século XXI que, no seu alvorecer, representava para muitos de nós a esperança de que era possível um Mundo melhor. Imaginámos, durante algum tempo, que o respeito pela dignidade humana poderia constituir parte essencial do diálogo entre os Homens e as Nações e que a nossa Casa Comum seria tratada com um bem precioso a transmitir aos nossos filhos.
Porém, a realidade dolorosa dos tempos entretanto decorridos, e dos que continuam a decorrer, demonstram até que ponto alimentámos uma ilusão e cultivámos um sonho perdido . Numa tempestade perfeita combinam-se agora sinais de instabilidade, quando não de caos, e desde a polarização politica expressa em ideologias extremistas e o aumento das autocracias até ao aumento do fosso entre países ricos e pobres, passando pelas guerras e pelas alterações climáticas, é todo um catálogo revelador de um Mundo profundamente doente.
Certamente que neste quarto de século o Homem demonstrou a sua capacidade avançando na procura da inovação e do desenvolvimento como instrumentos de progresso. Desde a tecnologia da comunicação até à inteligência artificial, passando pela biotecnologia, pela saúde, ou pela energia e sustentabilidade foi todo um universo de mudança em que o melhor da inteligência humana foi colocado ao serviço do bem comum.
Porém, fundamentalmente e numa antítese perfeita, impressionam os sinais destruição, e de ódio, que marcaram presença no desfilar deste anos, começando com a eclosão do 11 de Setembro e terminando com a invasão da Ucrânia. Pelo meio as imagens de violência e de impiedade foram o quotidiano de povos e nações tão diversas como o Iraque, Siria, Gaza, Sudão, Birmânia e tantos outros lugares escondidos onde sobreviver é uma tarefa do dia a dia.
Se olharmos para o ano de 2024, que agora terminou, também não conseguimos descortinar grandes motivos para alimentar a esperança. Na verdade, a guerra continua a proliferar em vastas zonas do globo com todo o seu caudal de morte e sofrimento e as desigualdades entre os povos e a pobreza são uma realidade para milhões de pessoas. Para muitos alcançar os bens essenciais para a vida em cada dia que passa é uma tarefa ciclópica e quase 700 milhões de pessoas, ou seja, 8,5% da população mundial, vivem com menos de 2,15 euros diários. A desigualdade económica criou um fosso abissal entre as elites e o resto da população e a concentração da riqueza nas mãos de poucos contrasta fortemente com a crescente precariedade de milhões de pessoas.
Este foi mais um ano em que, olimpicamente, os lideres das grandes nações desprezaram uma vez mais os sinais, cada vez mais evidentes, do que está a acontecer à nossa Casa Comum e lenta, mas progressivamente, as alterações climáticas alteram a nossa forma de vida à escala global. Recordemos que, em 2015, o Acordo de Paris prometeu limitar o aquecimento a 1,5°C até 2030. Entretanto decorreram dez anos e hoje é manifesto o malogro do que então foi decidido. As metas de redução afastaram-se e 2024 quebrou todos os recordes climáticos, atingindo um aumento geral de 1,54°C, marcado por 24 ondas de calor, anteriormente descritas como "impossíveis”.
Numa visão global, mas infelizmente precisa, constatamos que a violação da leis da natureza provoca catástrofes sem precedentes em todo o Mundo. Numa síntese perfeita deste estado de espirito António Guterres aponta na sua Mensagem de Ano Novo para um colapso climático em tempo real.
Fica o desafio vibrante lançado pelo Papa Francisco na mensagem do Dia da Paz, neste inicio de ano, apontando três acções para construir um Mundo melhor:- reconhecer a dívida ecológica pelos países mais ricos, perdoando as dívidas dos países que não estão em condições de pagar o que devem; um compromisso de promover o respeito pela dignidade da vida humana, desde a concepção até à morte natural, para que cada pessoa possa amar a sua vida e olhar para o futuro com esperança; utilizar pelo menos uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento para a criação de um fundo mundial que elimine definitivamente a fome e facilite a realização de atividades educativas nos países mais pobres que promovam o desenvolvimento sustentável, lutando contra as alterações climáticas.
Que assim seja!
Feliz Ano Novo 2025!
José Santos Cabral