Os nossos miúdos a dar-nos lições.
Como já referido pelo meu amigo Luís Rocha neste jornal a 25 de janeiro, o Papa Francisco voltou a destacar um dos temas centrais do seu pontificado: a preocupação com os migrantes e refugiados. O Santo Padre recordou que "todas as crianças e jovens têm direito a ir à escola, não importa a sua situação migratória". Ficou assim escolhida a intenção de oração para o mês de janeiro de 2025. O apelo do Papa apontou a importância da educação como um direito fundamental e como ferramenta essencial para a construção de um mundo mais humano.
Em Portugal este desafio já se reflete na realidade escolar. Recordando o que foi aqui escrito, nos últimos cinco anos, o número de alunos migrantes no ensino básico e secundário aumentou 160%, transformando as escolas em espaços cada vez mais multiculturais. Atualmente, estima-se que 14% dos alunos sejam filhos de migrantes, com algumas escolas a acolher estudantes de mais de 20 nacionalidades diferentes.
Apesar dos desafios, a integração destas crianças e adolescentes tem sido encarada como uma prioridade, não apenas pelas autoridades educativas, mas também pelos próprios professores, funcionários, alunos e comunidades locais. Portugal tem conseguido assegurar que todas as crianças e jovens, independentemente da sua origem, tenham um lugar na escola. Para isso, os agrupamentos escolares têm desenvolvido estratégias para apoiar os alunos migrantes, nomeadamente através do ensino da língua portuguesa, de programas de tutoria e de iniciativas culturais que promovem a convivência e o respeito pela diversidade. Convém recordar que a adaptação nem sempre é fácil. Cerca de 25 a 30% dos novos alunos não falam português à chegada, o que exige um esforço redobrado por parte das escolas. No entanto, o compromisso com a inclusão tem dado frutos: muitos desses alunos, em poucos anos, conseguem acompanhar as disciplinas e construir relações sólidas com os colegas portugueses.
Como afirmou recentemente o ministro da Educação, “A chegada destes alunos deve ser vista como um problema bom”, destacando que a educação é a chave para garantir uma sociedade mais coesa e integrada. A UNESCO, através da Agenda 2030, definiu a educação inclusiva e de qualidade como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O Objetivo 4 visa garantir o acesso à educação para todos, promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida.
A promoção de uma cultura de paz nas escolas tem sido um dos principais objetivos da educação em Portugal. O ODS 16 da ONU destaca a importância de reduzir todas as formas de violência e de construir sociedades pacíficas e inclusivas. A escola desempenha um papel essencial nesta missão, ensinando desde cedo valores como a empatia, a solidariedade e o respeito pelo outro.
A diversidade cultural presente nas escolas portuguesas é uma oportunidade única para fortalecer estes valores. Crianças e adolescentes aprendem a conviver com diferentes tradições, religiões e formas de pensar, tornando-se agentes de mudança na sociedade. Como bem lembrou o Papa Francisco, "não nos esqueçamos nunca de que quem acolhe um estrangeiro, acolhe Jesus".
Portugal tem uma longa tradição de acolhimento e integração. Historicamente, o país foi um ponto de encontro de diferentes culturas e povos, e esse espírito de hospitalidade continua a ser uma marca da identidade nacional. Hoje, as escolas assumem esse papel de vanguarda, demonstrando que a educação é, de facto, um instrumento poderoso para a construção da paz.
O aumento do número de alunos migrantes representa desafios que exigem respostas concretas. É fundamental garantir que as escolas disponham dos recursos necessários para apoiar essa integração: desde a formação contínua dos professores até ao reforço de políticas públicas que promovam a equidade no acesso ao ensino.
Além disso, a sociedade civil e o setor privado podem desempenhar um papel ativo, contribuindo
O compromisso com a educação inclusiva não beneficia apenas os migrantes, mas fortalece toda a sociedade. Como destacou o ministro da Educação, "Se falharmos na educação, vamos falhar na nossa política de migração". A escola é o primeiro espaço onde se constrói o futuro de uma sociedade mais justa, pacífica e solidária. O caminho ainda é longo, mas as escolas portuguesas provam que, ao ensinar as crianças e adolescentes a conviverem com a diversidade, estão a construir um país mais forte, mais humano e mais preparado para os desafios do mundo atual.
Os “nossos miúdos” também nos estão a dar lições.
Madalena Abreu
Comissão Diocesana Justiça e Paz