ABERTURA SOLENE DO ANO PASTORAL DE 2024-2025
XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM (B)
Caríssimos irmãos e irmãs!
Estamos a começar o novo ano pastoral sob a marca da esperança – “a esperança não engana” (Rm 5, 5). Em sintonia com a Igreja Universal, que celebra o jubileu, faremos um caminho de acolhimento da graça de Deus que quer salvar toda a humanidade e lhe oferece caminhos de encontro e reconciliação.
A esperança, o tema proposto pelo Papa Francisco, surge num momento da história da humanidade carregado de sinais negativos e que podem levar muitas pessoas ao desespero: as guerras são o mais visível, mas, muitos outros podem passar despercebidos, por se ancorarem no íntimo de pessoas e de povos.
Uma visão cristã da realidade, sem menorizar todos esses sinais negativos, oferece-nos a possibilidade de um caminho de esperança, o único que pode salvar-nos a todos. Jesus Cristo, que por nós morreu e ressuscitou, é a nossa esperança, a esperança que não engana. “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).
A partir de um conhecimento mais desenvolvido da vida das pessoas e da Pessoa de Jesus Cristo revelada pelo Evangelho temos uma missão única, a de ajudar os homens e mulheres nossos irmãos a fazerem um caminho de vida alicerçado n’Ele como único Salvador. Acolher a vida com esperança a partir da fé e testemunhá-la de forma simples, mas autêntica, mesmo no meio das maiores dores, é o contributo único que nos é pedido em ordem à salvação do mundo.
As nossas catequeses, as nossas liturgias, as nossas ações de caridade e de justiça, a nossa vida, têm de ser portadoras de esperança, pois só podem ter no centro a pessoa de Jesus, a nossa esperança, e todos aqueles que Ele ama.
Como se ajudam as pessoas que sofrem os horrores da guerra a permanecer na esperança? Como levar os que vivem na pobreza ou na miséria a manter a esperança? Como amparar os que são atingidos por dramas interiores e correm o risco de perder o sentido da vida, a renascerem na esperança?
Podemos ter dificuldade em saber como, mas temos a certeza de que Jesus sabe. Podemos não ser capazes de realizar essa missão, mas acreditamos que é sempre possível anunciar Aquele Senhor Jesus Cristo, que pelo amor divino renova os corações.
Teremos muitas vezes de fazer silêncio diante dos que estão à beira do abismo, mas nunca baixaremos os braços, nunca deixaremos de manter viva a confiança na oração, que nos leva a entrar a nós e aos outros no coração de Deus. Na escola da oração aprenderemos de que modo, com que palavras e com que silêncios, com que atitudes havemos de ser servos da esperança que Deus dá, pois é o Espírito que reza em nós, é o Espírito que ilumina e que sugere por onde ir, o que fazer e como fazer.
Irmãos e irmãs, viver na fé cristã é por si mesmo o maior sinal da esperança que nos foi dada; e comunicar a fé cristã por meio de palavras e atos de evangelização é sinal de que não a queremos somente para nós, mas estamos disponíveis para tudo fazer para que chegue também aos outros.
Se o mundo em que vivemos precisa de sinais vivos de esperança para renovar o seu caminho, o mesmo acontece com a nossa Diocese de Coimbra. Nós precisamos da luz da fé para poder vislumbrar esses sinais que estão já presentes, porventura pouco visíveis e misturados com as nossas preocupações e fracassos.
Quando Jesus anunciou aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição, eles não compreenderam o que lhes dizia e não manifestavam capacidade para aceitar que isso acontecesse ao seu Senhor e Mestre.
Ao olharmos para a nossa Igreja, humana e naturalmente vemos com mais facilidade os sinais de morte do que os sinais de esperança e de vida. É urgente que possamos colher a mensagem da Páscoa: “Ele, três dias depois de morto, ressuscitará”. É um facto que a Igreja já está a passar por uma situação de morte, como sempre aconteceu, mas realidade maior ainda é a força de renovação, de ressurreição, que já é evidente para quem tem fé.
Este ano pastoral tem de ser um ano de renovação da esperança na Igreja de Coimbra. Na passada sexta-feira, os secretariados, comissões e movimentos da nossa Diocese manifestaram uma profunda alegria face aos muitos sinais que se manifestam entre nós. A disponibilidade de tantas pessoas para fazer caminho de edificação da Igreja é um deles. O mesmo queremos que aconteça nas unidades pastorais, envolvendo os sacerdotes, os diáconos, os leigos que já assumem a sua fé de forma viva e que já trabalham com muito ânimo no meio de algumas dificuldades.
Somos, hoje, muitos homens e mulheres que sentem a alegria de viver a fé, de pertencer à Igreja e de serem verdadeiras pedras vivas do Templo do Senhor. O dinamismo sinodal em curso ajuda-nos muito a assumirmos a Igreja como comunidade que nos diz respeito, a podermos manifestar a nossa visão sobre os caminhos a percorrer e a pormo-nos todos em atitude de escuta do que o Espírito diz à nossa Igreja em cada uma das suas comunidades.
Estamos a desenvolver o espírito de serviço, fruto do amor a Deus e à humanidade. Não esperamos recompensa e acolhemos de coração a imagem referida por Jesus: “quem quiser ser o primeiro será o último de todos e os servo de todos”. Não esperamos uma glorificação humana nem um aplauso terreno, mas aceitamos o caminho do sacrifício e da morte que conduz à ressurreição e à glorificação do Filho de Deus. Sabemos que ser testemunha do Evangelho constitui, hoje, um caminho duro, mas portador de alegria e de esperança para nós e para aqueles a quem queremos levar o Evangelho.
Acreditamos na palavra do livro da Sabedoria segundo a qual, no meio de perseguições e de derrotas “Alguém virá socorrer-nos”. Jesus Cristo, o Justo e Filho de Deus, que por nós morreu, já veio e continua a vir sempre ao nosso encontro para nos socorrer. Ele vem salvar-nos, como esperaram os nossos antepassados na fé. Ele veio salvar-nos e percorre os caminhos das nossas paróquias connosco, leva connosco a cruz e oferece-nos a esperança da vida eterna.
Somos hoje uma Igreja mais pequena, mas mais participativa; um clero menos numeroso, mas mais ativo; comunidades com menos recursos materiais, mas mais ancoradas na Palavra do Evangelho; unidades pastorais consideravelmente grandes, mas em maior comunhão de pessoas e de meios. Somos ainda uma Igreja menos autoritária e mais participativa e sinodal; uma Igreja menos clerical e mais consciente da sua condição de Povo em que todos receberam a igual dignidade de filhos de Deus. Somos, hoje, uma Igreja menos fechada e burocratizada, mas mais aberta e acolhedora; uma Igreja mais disponível para propor Jesus Cristo como o caminho e a esperança que não engana, do que interessada em impor-se a si mesma; uma Igreja mais serva de Deus e da humanidade, do que uma sociedade a ser servida.
Irmãos e irmãs! Este ano pastoral marcado pela graça do Jubileu precisa de ser vivido como um tempo especial de graça para a conversão pessoal ao Deus vivo, como uma oportunidade de renovação das nossas comunidades no Espírito Santo, como um dom para acolhermos Jesus Cristo, a esperança que não engana.
Coimbra, 22 de setembro de 2024
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra