Homilia da Missa Crismal 2017

MISSA CRISMAL 2017

IGREJA DA SÉ NOVA DE COIMBRA

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

A celebração da Missa Crismal, que antecede o Tríduo Pascal, renova em toda a Igreja a certeza da presença do Espírito Santo, como o grande dom de Deus. Na celebração do Pentecostes reencontramo-nos com o mesmo dom do Espírito que dá vida e conduz a Igreja pelos caminhos da salvação.  No centro está Páscoa do Senhor, o mistério da morte e da ressurreição, que não se entende nem se vive sem a presença do Espírito, Aquele que fortalece Jesus no caminho da Sua entrega e pelo qual o Pai O ressuscita dos mortos e o torna presente e atuante na Sua Igreja.

Convido-vos a renovar a fé na presença do Espírito Santo em nós e na Igreja tal como esteve presente na vida e ação de Jesus. Com Ele não seremos simplesmente uma comunidade humana orientada por bons e belos princípios, nem somente uma comunidade com grandes objetivos humanitários e filantrópicos, mas a comunidade dos santos, a Igreja Santa de Deus.

O Espírito Santo que recebemos nos sacramentos da iniciação cristã faz de nós homens novos e espirituais, comunidade de filhos de Deus, povo eleito e santo, que caminha por entre alegrias e dores para a Pátria Celeste. O Espírito Santo que recebemos no sacramento da Ordem faz de nós ministros de Cristo e da Igreja, ungidos como enviados para anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos, proclamar o ano da graça do Senhor.

É, pois, pelo Espírito Santo que somos filhos de Deus Pai, irmãos em Jesus Cristo e Igreja enviada a dar a conhecer ao mundo o mistério no qual fomos chamados a participar pela eleição que recebemos.

Não cessamos de dar graças a Deus porque nos chamou a participar deste mistério de sermos Seus e da Sua Igreja sem qualquer mérito da nossa parte; não cessamos de dar graças a Deus por nos incluir na missão de dar a conhecer ao mundo a força da salvação; não cessamos de dar graças por nos enviar com a missão de construir a Igreja por meio do anúncio do Evangelho a todos os povos da terra.

 

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu”.

Com estas palavras o evangelista apresenta Jesus, o Servo de Deus, que manifesta total disponibilidade para realizar a vontade do Pai, a para ser protagonista do Seu plano salvador. Já no batismo Jesus havia acolhido o Espírito que descera sobre Ele e o consagrara para a missão, no deserto confrontara-se com as tentações de realizar a sua própria vontade. Apesar de ser Filho, conduzido pelo Espírito sabe o que é obedecer e, na sua humanidade verdadeira, conhecendo a debilidade da carne, sente o abandono do Pai, mas, pelo mesmo Espírito, confia e, nas Suas mãos entrega o Seu espírito.

A vida de Jesus, na fidelidade ao Pai, tem o selo indestrutível da unção do Espírito, que O torna fiel, a ponto de não fazer a Sua vontade, mas a d’Aquele que O enviou. A passagem da Escritura do Profeta Isaías lida na Sinagoga de Nazaré, cumpre-se efetivamente pela obediência de Jesus, cheio do Espírito Santo.

 

Caríssimos irmãos sacerdotes!

Nesta celebração da Missa Crismal, em que recordamos que fomos ungidos pelo Espírito Santo para sermos ministros de Cristo e da Igreja, proponho que reflitamos sobre o modo como havemos de viver e agir na nossa condição de cristãos e de pastores.

 

Avivemos a fé no Sacramento da Ordem, como Sacramento da unção do Espírito Santo, pelo qual Deus nos constitui como seus, a ponto de não mais nos pertencermos a nós mesmos, mas ao Senhor.

Esta força do Espírito em nós, que recebemos pela imposição das mãos e pela unção com o óleo santo, não nos afasta do Povo de Deus nem nos torna superiores a ninguém, mas dá-nos a graça de, configurados com Cristo Cabeça e Pastor, servirmos o mesmo Povo Santo na doação de nós mesmos e na fidelidade à vontade do Pai.

Convido-vos a considerar sempre a grandeza do dom que recebemos, contrastante com a pequenez do que somos, para que não nos atribuamos o mérito de nada, nem nos apresentemos com arrogância diante de ninguém, mas cheios de temos e tremor. A fé viva no Espírito Santo que habita em nós só pode coabitar harmoniosamente com a consciência humilde da nossa debilidade.

 

O Espírito de Deus que recebemos é Espírito portador da eterna novidade e é Espírito de renovação permanente da Igreja, de cada um de nós e de todos os fiéis.

Sem o Espírito Santo Cristo pertenceria ao passado, a Sagrada Escritura seria propaganda de uma ideologia, a Igreja seria uma sociedade humana e o sacerdócio seria uma função eclesiástica. O Espírito faz-nos regressar a Cristo, o Senhor da Vida, a Escritura é Palavra que salva, a Igreja é Povo Santo de Deus e o sacerdócio é participação no mistério de Cristo em ordem ao ministério, ou seja, ao serviço.

No meio das dificuldades que assaltam a Igreja e os seus ministros, frequentemente atingidos pela fadiga espiritual e pastoral, precisamos de voltar a acreditar no Espírito que renova todas as coisas, que pode dar novo alento a todos os que estão cansados, confiança e esperança aos que se vêm a braços com a tentação do desânimo proveniente dos muitos insucessos.

A obra que temos em mãos é obra de Deus. As nossas qualidades e capacidades são importantes e necessárias, mas insuficientes para realizar a obra de Deus, que é imensamente maior do que o que fazemos. No meio dos nossos insucessos, havemos de ver a força renovadora de Deus que faz novas todas as coisas.

O que Ele nos pede é a disponibilidade para nos deixarmos renovar interiormente, para acolhermos a criatividade contínua proveniente do dom do Espírito: criatividade no coração, nos dinamismos pastorais, na comunhão da vida comunitária, nos modelos de evangelização, na adequação do ministério ao tempo em que vivemos.

Juntamente com muitas perplexidades, o nosso tempo também nos oferece inúmeras possibilidades. Que o medo do presente e as desconfianças relativamente ao futuro nunca possam vencer a fé na inesgotável criatividade do Espírito de Deus que, apesar de todas as suas vicissitudes históricas, há de conduzir a Igreja à realização da sua missão.

 

Em sintonia com Cristo e como Corpo de Cristo, a Igreja é comunidade animada pelo Espírito Santo. Significa que cada um de nós, leigo, consagrado ou sacerdote, para ser discípulo de Cristo, precisa de viver no Espírito.

Temos, porventura, dado pouco lugar à dimensão espiritual da nossa condição de cristãos e de membros da Igreja. Privilegiamos frequentemente a ação, a pastoral e a missão em detrimento do crescimento da fé, da evangelização e da oração, ou seja, em detrimento da formação interior e da espiritualidade. Tanto na catequese, como na evangelização e até na própria liturgia, precisamos de aprofundar muito a dimensão espiritual, para que se tornem verdadeiro lugar de encontro com Deus. Desse modo, por meio do Espírito Santo, Deus há de falar-nos, modelar o nosso coração e a nossa vontade, fazer de nós homens espirituais e comunidades de vida no Espírito.

De um modo especial, nós, os sacerdotes, havemos de crescer por dentro para nos tornarmos homens verdadeiramente espirituais. Nessa altura não viveremos ancorados no que fazemos, mas no que somos, trabalharemos mais motivados mais pelo dom que recebemos do que pelo sucesso pessoal que pretendemos, agiremos mais a partir da interioridade do que das solicitações externas.

Convido-vos, caríssimos irmãos, a renovar o desejo íntimo de viver no Espírito como a caraterística fundamental que nos define, como o nosso modo de ser, pois fomos ungidos para permanecer no Espírito e em cooperação humilde com Ele levarmos a Boa Nova a todos os povos da terra. O modo como celebramos os sacramentos, o tempo que damos à oração pessoal, o retiro anual ou as recoleções periódicas, o silêncio e a meditação, a programação da vida motivada pelos valores do Reino, são meios que a Igreja nos oferece e sem os quais podemos cair no ativismo exterior apesar de paralizados ou vazios por dentro.

 

Na nossa caminhada de cristãos e sacerdotes temos sempre a certeza da companhia da Virgem Maria, o “tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo”, tal como a definiu a Lumen Gentium (Cap. VIII, nº 63).

Mais do que os seus privilégios, contemplemos as suas virtudes, particularmente a sua disponibilidade para acolher o Espírito Santo como Dom que renova, transforma e faz dela a Mulher espiritual, que se torna a Mãe de Deus e a Mãe da Igreja. Como referiu o mesmo Concílio Vaticano II, “o próprio Espírito Santo a modelou e d'Ela fez uma nova criatura” (LG 56), como pode modelar-nos a nós e fazer de nós novas criaturas, se nos apresentarmos diante dele como servos abertos à realização da Sua Palavra.

Com Maria aprendamos a ser templos do Espírito Santo, morada do Deus Altíssimo, filhos de Deus Pai, que acolhem Cristo no coração e na vida para O apresentar ao mundo como o Único Salvador.

Peçamos ao Senhor humildemente que, como fez em Maria, também em nós faça maravilhas e, por meio do Seu Espírito, nos dê a graça de proclamar que o Seu Nome é Santo!

 

Coimbra, Sé Nova, 13 de abril de 2017

 

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

 


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