MISSA DA BÊNÇÃO DOS CAPACETES DAS ASSOCIAÇÕES HUMANITÁRIAS
DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO DISTRITO DE COIMBRA
IGREJA DE TÁBUA - 2017-06-17
Caríssimos irmãos e irmãs!
Voltamos a reunir-nos para agradecer a Deus a Sua proteção ao longo de um ano de trabalho, de generosidade e de apoio ao próximo, nas diversas associações humanitárias de bombeiros voluntários do distrito de Coimbra.
Estamos em comunhão solidária com todos os outros que, espalhados por um país inteiro e pelo mundo, têm no coração a mesma atitude de gratidão a Deus, movidos pela fé de que Ele é o Senhor da vida e de que acima de tudo quer que tenhamos a vida e a vida em abundância.
Este momento celebrativo leva-nos a reconhecer a responsabilidade que temos, pelo fato de homens e mulheres, crianças e idosos, porem em nós uma imensa confiança, sobretudo nos momentos de aflição e de sofrimento. Mesmo que, por vezes, se espere dos bombeiros mais do que aquilo que eles podem fazer no que diz respeito à salvaguarda da vida e dos bens, está sempre ao seu alcance o autêntico milagre de acolher cada pessoa com um coração grande, que a pacifique e lhe dê a esperança de que precisa nos momentos difíceis.
Este momento celebrativo leva-nos também a reconhecer a grandeza da missão que nos foi confiada, a de cooperar com Deus e com os homens na preservação e salvação da vida dos outros. Não há nada maior, nem mais belo, nem mais humano do que pôr-se inteiramente ao serviço da vida e vós estais entre aqueles que o fazem dia após dia, mesmo que, algumas vezes, carregados com o peso das próprias dificuldades, problemas e sofrimentos, que não podem fazer abrandar o fogo interior que vos leva a olhar para os outros como irmãos e a cuidar deles como filhos.
São Paulo, na Primeira Leitura, oferecia-nos duas grandes certezas de fé, que são, ao mesmo tempo, dois grandes projetos. Em primeiro lugar dizia: “o amor de Cristo nos impele”; o afirmar que “o amor de Cristo nos impele”, o apóstolo está a dizer-nos que a nossa capacidade de amar nasce de Deus, daquele que nos criou e pôs em nós as sementes do amor como centro, fundamento, centro e projeto de vida. Está também a dizer que, cada pessoa, sente dentro de si um chamamento, uma vocação para amar, para se aproximar, para sair de si e das suas comodidades, para ir ao encontro dos outros. Trata-se do fundamental projeto de vida: sou para os outros e quero pôr a minha vida, o que sou ao serviço dos outros.
Em segundo lugar, São Paulo, dizia-nos: “Cristo morreu por todos, para que os vivos deixem de viver para si mesmos”. A partir da fé temos sempre diante de nós duas realidades: uma é o testemunho de Cristo, que morreu por nós, no gesto mais significativo que conhecemos – dar a vida ou morrer por alguém; a segunda realidade que conhecemos bem é da nossa fragilidade e da pobreza do nosso testemunho, pois quando damos por nós vemos o egoísmo que nos assalta e a dificuldade de abrir o coração e a alma aos outros.
Caríssimos irmãos e irmãs, convido-vos a não deixar passar nenhum dia sem procurarmos tomar consciência daquilo que somos e da vocação a que somos chamados. Quem não é crente, nem cristão, procure encontrar na sua condição de pessoa o fundamento humano e natural para orientar a sua vida, segundo consciência, na retidão e na justiça, e na certeza de que existe para se construir como pessoa feliz e ajudar os outros a viverem e a serem felizes. O impulso para a bondade, a generosidade e o amor está inscrito na matriz mais secreta de cada pessoa, faz parte da sua identidade mais profunda. Trata-se de procurar dar-lhe lugar efetivo na vida.
Quem é crente em Deus e, concretamente, cristão, como é o nosso caso, encontra na sua fé um dinamismo sobrenatural que o leva a olhar para Jesus Cristo e a ver n’Ele o modelo mais perfeito de pessoa que vive, promove a vida e olha para os outros como pessoas pelas quais está disponível para dar a sua vida. O exemplo de Jesus é, de fato, universal, não pode ser superado, inquieta qualquer pessoa, não nos permite passar ao lado de ninguém, o seu amor impele-nos de forma irresistível a amar.
O Evangelho que escutámos deixava-nos um forte apelo àquilo a que podemos chamar a autenticidade de vida, por meio da expressão proverbial: “a vossa linguagem deve ser «sim, sim; não, não»”.
Sentimos que esta palavra tem uma grande atualidade, uma vez que é igualmente grande a tentação de, em vez de servir, ser servido; em vez de se procurar o bem comum, se procurar o bem pessoal; em vez da luta pela verdade e pela transparência, se jogar na falsidade e na ocultação; em vez da justiça e da legalidade, se cair na injustiça e corrupção.
“A vossa linguagem deve ser «sim, sim; não, não»”. Significa também que a autenticidade das pessoas ou das instituições está mais nas suas ações do que nas suas palavras ou discursos. Quando as palavras contrariam as ações ou vice versa, perde-se a credibilidade e põe-se em causa o trabalho de todos, pois mina-se a condição fundamental para a bom êxito, mina-se a confiança nas pessoas e nas instituições.
Dizer “sim, sim; não, não” significa promover uma cultura da justiça contra qualquer forma de corrupção. Segundo o Papa Francisco, sempre atento à sociedade e ao mundo, “A corrupção, na sua raiz etimológica, define uma dilaceração, uma ruptura, decomposição e desintegração. A corrupção revela uma conduta antissocial tão forte que dissolve as relações e os pilares sobre os quais se fundam uma sociedade: a coexistência entre as pessoas e a vocação a desenvolvê-la”. E continua: “a corrupção quebra tudo isso, substituindo o bem comum pelo interesse pessoal que contamina toda perspectiva geral. Nasce de um coração corrupto. É a pior praga social, pois cria problemas graves e crimes que envolvem todas as pessoas” (Papa Francisco, Prefácio ao livro do Cardeal P. Turkson, Corrupção).
Caríssimos irmãos e irmãs! Temos diante de nós uma vocação humana e cristã, que nos impele à caridade, a olhar para os outros como nosso próximo e a considerarmos sempre a nossa vida vale mais pelas obras de justiça e de verdade do que por todas as palavras que possamos pronunciar.
A vossa vida é, acima de tudo, a daqueles que apostam nas obras em favor do próximo. Que nunca vos falte a coragem interior, pois a força de Deus e a sua bênção estarão sempre convosco. A vossa ação, o vosso serviço, o vosso testemunho e a vossa caridade são muito importantes para transformação da cultura do egoísmo em cultura do amor.
Que a Virgem Maria, Senhora dos Aflitos vos acompanhe sempre a vós e àqueles a quem socorreis, que ela seja o socorro de todos, que ela vos proteja e vos guarde. Ámen.
Coimbra, 17 de junho de 2017
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra