Homilia da Solenidade do Sagrado Coração

Caríssimos irmãos, sacerdotes e diáconos!

“Foi a ti que o Senhor teu Deus escolheu... porque o Senhor vos ama”.
A palavra de Moisés dirigida ao Povo de Israel antes da entrada na Terra Prometida interpreta, com certeza, os sentimentos de Deus, que ama todos aqueles que escolheu.
Enquanto Povo de Deus da Nova Aliança, acolhemos estas palavras como dirigidas a  nós, e acreditamos que manifestam os sentimentos de Deus para com a
sua Igreja, constituída por todos os que chamou, da mesma forma, porque os ama.
Esta Solenidade do Sagrado Coração de Jesus está ao serviço do grande desejo que Deus tem de continuar a dar-se a conhecer nos diferentes tempos da história como o Deus amor, que chama e escolhe porque ama. A experiência desta fé no Deus amor apareceu-nos bem clara no Antigo Testamento, mas teve o seu cume na revelação realizada por Jesus Cristo, o Filho. À Igreja cabe anunciar continuamente esta realidade em que acredita, que a move no mundo e que tem a missão de fazer conhecer a todos os povos da terra.
A evangelização consiste precisamente no anúncio, por palavras e por obras, deste Deus amor, que ama a todos e, por isso, quer congregar a todos no seu Povo Santo, na Igreja terrena, para que, por meio dela, os congregue a todos na Igreja celeste, a plenitude do encontro com o seu amor.
Esta vocação e missão de sermos Povo escolhido, Povo de Deus, Igreja, apesar de sermos o menor de todos os povos, segundo a expressão bíblica, precisa de ser espiritual e pastoralmente valorizada. Constitui o sinal do amor de Deus por nós e por toda a humanidade, e não há dom maior do que poder reconhecê-lo na fé e nele podermos modelar a totalidade da nossa vida eclesial e pessoal.

A vocação sacerdotal encontra o seu pleno sentido precisamente dentro deste contexto de amor de Deus para com o seu Povo e para com a humanidade, mesmo que isso apareça historicamente muito escondido por detrás das diversas roupagens de que foi revestindo ao longo dos tempos.
Somos fruto do mesmo amor de Deus que, por Jesus Cristo, olhou para nós com misericórdia, nos chamou e nos escolheu, apesar de sermos o menor de todos.
Dentro do Povo de Deus com o qual partilhamos a igual dignidade de todos os batizados, temos a especial vocação de rosto visível do Deus amor revelado em Jesus Cristo.
Não servimos bem a Igreja nem a humanidade, se no cumprimento rigoroso das obrigações sacerdotais, não revelamos o amor de Deus, por meio do nosso próprio amor. Tudo o que somos e fazemos na Igreja, unidos por laços próprios a Cristo Pastor da Igreja, está ao serviço desta revelação, que constitui o âmago da nossa vocação e da nossa missão.
Frequentemente nos perguntamos o que será mais importante  quando  se trata de definir o nosso lugar na vida da Igreja. Não restam dúvidas que o mais importante é a nossa identificação com esse Cristo que veio para manifestar ao mundo o amor eterno de Deus e que tanto os carismas que recebemos como o trabalho de organização da vida eclesial a todos os níveis hão-se estar ao serviço desta vocação. Se somos outro Cristo pela configuração que assumimos com Ele, é para agirmos como Ele agiria nas situações em que somos chamados a estar em seu nome.

As páginas da Escritura que hoje escutámos, apresentam-nos Jesus como Mestre  que privilegia acima de tudo a relação com as pessoas, com as de dentro e com as de fora: pessoa a pessoa, coração a coração.
Jesus toma como primeira virtude pastoral a relação, que tem dois sentidos ou duas orientações: a sua relação com o Pai, quando diz que “ninguém conhece o Filho senão o Pai” e que “ninguém conhece o Pai senão o Filho”; e a sua relação com os homens, quando nos convida a estarmos consigo e a sentirmo-nos acolhidos, dizendo-nos: “vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”.
A nossa primeira virtude pastoral tem ser precisamente a mesma: a relação com Deus e a relação com a humanidade. A este propósito, o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, quando fala das condições prévias para que aconteça a evangelização, fala-nos da relação pessoa a pessoa, dizendo:
“nesta pregação, sempre respeitosa e amável, o primeiro momento é um diálogo pessoal, no qual a outra pessoa se exprime e partilha as suas alegrias, as suas esperanças, as preocupações com os seus entes queridos e muitas coisas que enchem o coração. Só depois desta conversa é que se lhe pode apresentar a Palavra, seja pela leitura de algum versículo ou de modo narrativo, mas sempre recordando o anúncio fundamental: o amor pessoal de Deus que se fez homem, entregou-se a si mesmo por nós e, vivo, oferece a sua salvação e a sua amizade” (128).
Quantas conclusões não havemos de tirar sobre o modo como exercemos a missão que nos foi confiada!
Como revelar esse amor pessoal de Deus, que se entregou a si mesmo por nós e oferece a sua salvação e a sua amizade, sem nos despojarmos de nós mesmos, sem sairmos do nosso espaço de conforto, sem gastarmos tempo infinito com o acolhimento disponível e amigo, sem nos sentarmos no confessionário para ouvir coisas importantes ou aparentemente triviais, sem nos demorarmos na sala do diálogo espiritual sem as barreiras da burocracia, da doutrina ou da lei?
Deus e a Igreja pedem-nos, afinal, duas coisas muito simples: que vivamos numa relação de fé e amizade com Cristo; que vivamos numa relação de serviço e de amor com a humanidade; no fundo, que sejamos sacerdotes ao serviço dos homens, com um Coração semelhante ao Sagrado Coração de Jesus.

Mortágua, 27 de junho de 2014

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