Natal do Senhor :: Missa da Noite :: Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR 2021
MISSA DA NOITE

Caríssimos irmãos e irmãs!

Na noite de Belém de há dois mil anos o Mensageiro de Deus anunciou a presença e visibilidade de um sinal: um Menino recém-nascido envolto em panos e deitado numa manjedoira. Este é o acontecimento que naquele tempo ocorreu e que ao longo dos séculos continua a ser recordado e celebrado pelos cristãos, mas também a ser fonte promotora de valores, de sentimentos e ideais concretos de vida capazes de dar nova luz a todas as realidades humanas.

O primeiro desafio deste Natal consiste em tomarmos consciência da verdade deste acontecimento realizado por Deus. A doutrina cristã alicerçada na revelação bíblica sempre tem proclamado como real a incarnação do Verbo de Deus, o Filho de Deus Salvador do mundo.

Não podemos celebrar o Natal sem esta consciência esclarecida da fé cristã, sem nos alicerçarmos nesse acontecimento que muda o rumo das nossas vidas e pode continuar a mudar a história da humanidade. Trata-se de voltar ao acontecimento fundante, que é a natividade de Jesus, Deus e Homem verdadeiro como proclamamos no Credo da nossa fé desde sempre.

Verificamos que a névoa dos tempos tende a deixar na sombra esta verdade fundamental da nossa fé, perturbada pelo acumular de muitas outras afirmações e proclamações, que facilmente deixam em segundo plano o acontecimento fundador. O sinal a que faz alusão o Anjo de Deus fica, porventura, perdido entre muitos outros sinais, deixa frequentemente de ser a referência central e eclipsa-se a identidade do acontecimento original.

Quando falamos de evangelização, catequese, pastoral, estudo da teologia, estamos sempre a querer voltar à consciência da fé, que tem no mistério da incarnação, unida ao mistério da páscoa, a sua consistência e a sua verdade. A comunidades cristã, o Povo de Deus, constituído por famílias cristãs não pode prescindir de todos esses meios e caminhos de crescimento na fé, não pode deixar de professar com determinação a bondade de Deus que nos dá o seu Filho nascido na pobreza de Belém.

O segundo desafio deste Natal brota do canto do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: “Glória a Deus nas alturas”.

Ao longo dos séculos, a comunidade cristã sempre teve o louvor a Deus como um dos pilares da sua fé e do seu crescimento na comunhão com Ele e com os irmãos. Já o Povo Hebreu sentia a grande alegria de proclamar as maravilhas de Deus realizadas na sua história. Maria recolheu essas motivações no seu magnificat e o Apóstolos exorta-nos a louvar o Senhor, com salmos, hinos e cânticos inspirados. Ao celebrar a última Ceia, Jesus institui o sacramento maior do louvor dos seus discípulos, a Eucaristia, o cume de toda a ação de graças da Igreja unida ao seu Senhor para cantar a glória a Deus nas alturas.

Ao canto dos Anjos uniram-se os cantos dos pastores e depois os cantos da comunidade crente, uniram-se finalmente os cantos da Igreja quando celebra a vitória de Jesus Cristo sobre a morte, pela sua paixão e ressurreição.

O Natal de Jesus e o mistério da salvação perdem visibilidade, atualidade e impacto na vida dos cristãos quando não são celebrados na liturgia como um verdadeiro cântico de louvor a ação de graças. Não nos basta alegrarmo-nos em casa, ouvir os cânticos nas ruas das nossas aldeias e cidades, proclamar glória a Deus no ambiente privado ou no íntimo do coração. Precisamos de cantar os louvores de Deus na assembleia cristã, na celebração semanal da Eucaristia, nas orações comunitárias dos fiéis, nos momentos festivos, celebrativos, evangelizadores, caritativos, caraterísticos do Povo de Deus e segundo a Tradição ininterrupta da Igreja.

Se o Natal é o acontecimento mais contrário ao individualismo, isso significa também que nos traz o forte apelo de louvarmos a Deus e cantarmos a sua glória com os outros, com a comunidade cristã, concretamente na celebração do domingo e na participação ativa na vida da Igreja.

Há ainda um terceiro desafio que o Natal de Jesus nos traz e que decorre da segunda parte do canto da multidão do exército celeste na noite de Belém: “paz na terra aos homens por Ele amados”.

O Natal é uma poderosa revelação do amor de Deus por toda a humanidade. Jesus faz-se Homem para estar com toda a humanidade amada por Deus, para se fazer um connosco, para participar das nossas alegrias e dores, para nos consolar, para nos ensinar e ajudar a construir a paz.

Deus não permanece distante nem alheio a todos nós e o Natal ensina-nos e impele-nos a não sermos distantes nem alheios uns aos outros. Deste modo, os cristãos aprendem que o grande desafio é o da fraternidade universal, que tem contornos muito concretos na fraternidade local, da família, da vizinhança, da comunidade crente, da proximidade.

Sonhamos com um mundo de desenvolvimento integral, que facilite a implantação da justiça e da paz para todos. Grande desafio, grande provocação para a nossa fé e a nossa vida, grande critério para aferirmos a verdade da fé que professamos e do louvor que sai dos nossos lábios quando oramos, celebramos e evangelizamos!

Nesta noite santa, evoquemos, por isso, o acontecimento fundante do Natal, o nascimento de Jesus; louvemos a Deus e cantemos a sua glória nesta liturgia que celebramos; abramos o coração e a vida ao Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado na manjedoira, que nos conduz à edificação da paz sobre a terra por meio da justiça e do amor.

Santo Natal!

Coimbra 24 de dezembro de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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