Peregrinação Internacional Aniversaria - Junho 2022 - Fátima :: Homilia de Dom Virgílio

PEREGRINAÇÃO INTERNACIONAL ANIVERSÁRIA
13 DE MAIO DE 2022
Missa do Imaculado Coração de Maria

Caríssimos irmãos e irmãs!

A celebração litúrgica do Imaculado Coração de Maria aviva em todos nós, cristãos e peregrinos, um sentimento de gratidão a Deus que, aos pés da cruz de Jesus, nos deu a Virgem Maria como nossa Mãe.

Jesus sentiu a força do seu amor desde o seio materno, passando pelas aflições da sua perda e reencontro no templo, e ainda quando está às portas da morte. No fundo, da conceção no seu seio virginal, passando pela infância, pela juventude e pela vida pública e adulta, ou seja, sempre teve a segurança, o aconchego e o amor de Maria, Sua Mãe, mesmo quando sentia a rejeição por parte dos outros. O coração da Mãe, verdadeiramente imaculado, está presente nos momentos decisivos, apesar de os Evangelhos serem parcos nas referências que lhe fazem.

Aos pés da cruz, quando se entregou totalmente nas mãos do Pai, Jesus deu-nos tudo: pela Sua obediência, deu-nos a graça e o dom da justiça, deu-nos a vida e a salvação, como ouvíamos na leitura da Epístola aos Romanos. Quis também nesse momento decisivo, dar-nos Maria por Mãe, pois a Igreja e todos os seus filhos tinham pela frente uma peregrinação, um caminho até à cruz, em que precisariam do sustento do seu Imaculado Coração como refúgio e caminho que leva a Deus.

Deste modo a entendem os Pastorinhos de Fátima, quando se entregam totalmente nas suas mãos, disponíveis para viver ou para morrer pelos pecadores; assim a entendemos nós, peregrinos, que a acolhemos como presença reconfortante nas nossas vidas, que nos confiamos à sua proteção nos momentos de encontros e desencontros, que lhe pedimos materna intercessão junto de Deus por toda a humanidade de filhos, para que alcancem a saúde, a harmonia familiar, a justiça e a paz, que rogamos para que nos ajude a progredir na fé, na esperança e no amor; assim a entende a Igreja que lhe confia os caminhos da evangelização e a sua edificação na comunhão fraterna como sinal da salvação de Deus.

 

O texto do Evangelho que escutámos, centra-nos hoje na perda e encontro de Jesus no Templo. É um texto revelador de Jesus na sua condição de Filho de Deus, que se junta a tantos outros que nos oferecem esta certeza fundamental da fé. “Não sabíeis que Eu devia estar na casa de Meu Pai?” é a pergunta de Jesus que supõe uma resposta de fé pascal, que os pais de Jesus ainda não podem dar, mas que gera um silêncio profundo de confiança e esperança no coração de Maria, Sua Mãe.

Quando lemos este texto numa perspetiva mariana, centramo-nos na Mãe de Jesus, que cuida do seu Filho e que, como Mãe Igreja, continuará a cuidar de todos os seus filhos, nas perdas e desencontros em que os vê sem rumo e sem esperança.

A imagem sugestiva dos pais de Jesus que avançam no caminho de regresso à sua casa de Nazaré, mas que estão dispostos a voltar atrás para recuperar o seu Filho perdido no Templo de Jerusalém, lembra-nos a imagem de Jesus o Bom Pastor que vai à procura da ovelha perdida ou do Pai misericordioso que sai de casa para ir ao encontro do seu filho perdido.

Jesus é encontrado na casa do Pai porque é Filho e vive plenamente a condição de Filho obediente e fiel até à morte de cruz. Mas, aqueles que chama à condição de filhos e que ama como irmãos vivem outras perdas e desencontros, estão frequentemente muito distantes da casa do Pai, percorrem caminhos de trevas e de morte, precisam de alguém que volte atrás, vá ao seu encontro, saia de casa munido de mãos misericordiosas, de gestos de amor, de palavras inspiradoras.

 

A Igreja, peregrina nesta terra, encontra na Virgem Maria a inspiração e o modelo para a realização da sua missão de sair, de ir ao encontro de todos os que anseiam pelo encontro com o Deus da Vida. Ela sentiu a aflição pela perda, voltou atrás depois de ter feito um dia de caminho, gastou o tempo necessário para voltar ao ponto de partida, dispôs-se a fazer todo o esforço preciso da caminhada, acolheu com alegria as palavras de Jesus, mesmo que não as entendesse, sentiu-se feliz com o regresso de Jesus a Nazaré, onde lhes era submisso.

Quando o Papa Francisco nos ofereceu a Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” estava a propor-nos uma Igreja com coração, uma Igreja Mãe, uma Igreja inspirada na presença da Virgem Santa Maria que, com o seu coração imaculado, vai à procura dos seus filhos.

Tem esta Igreja, porventura, como o Papa também nos disse, de mudar os seus esquemas e planos inadequados, tem de abrir as suas portas a todos indiscriminadamente, tem de anunciar a Palavra do Evangelho sem complexos nem medos, tem de estar ao lado de todos e cada um dos que sofrem, estão na pobreza, são tristes e infelizes.

 

A recente e ousada proposta da Igreja Sinodal, em comunhão, participação e missão, acentua a identidade desta Igreja como Povo de Deus e Povo de Filhos, iguais em dignidade e na graça recebida no batismo. Na família de Deus, aprendemos com a Virgem Maria sempre presente, não há maiores e mais pequenos, mais dignos e menos dignos, os que mandam e os que obedecem e servem: todos são filhos, todos são irmãos, todos são servos, todos têm voz e todos têm lugar, na unidade, na comunhão e no amor derramado nos corações de todos.

Por sua vez, os que já estão reunidos à volta da mesa da Palavra e da Eucaristia não se sentem tranquilos enquanto não saem à procura dos que estão à porta, nas margens mais próximas ou mais distantes, dos que nunca tiveram ninguém que lhes desse a mão do carinho ou da consolação espiritual.

Maria, a Igreja Mãe, é para todos e não esquece nenhum, porque o seu coração é imaculado e puro, cheio do Espírito Santo e de amor, mais do que qualquer outra criatura.

 

O Coração Imaculado de Maria, que celebramos nesta peregrinação, é profundamente inspirador para a humanidade que somos, frequentemente desorientada e perdida nas suas escolhas, nos caminhos de confronto bélico que põe irmãos contra irmãos, nos atentados à vida própria ou alheia, nas múltiplas injustiças perpetradas contra todos os mais frágeis.

Uma humanidade com coração de mãe não pode permitir que haja alguém que chegue ao desespero diante das dificuldades, das doenças, da pobreza ou da solidão. Cria as condições institucionais, pessoais e comunitárias, económicas e estruturais para que a ninguém falte o necessário para continuar a viver com sentido até ao fim dos seus dias. Não desiste, pois uma sociedade que desiste de alguém ou que deixa de estar ao lado dos que estão à beira do desespero, é uma sociedade falida.

Uma humanidade com coração de mãe trabalha incansavelmente em favor da justiça, junta os irmãos para que dialoguem, se respeitem e encontrem na sua condição de família os caminhos para a paz. O baixar dos braços por parte de pessoas, instituições, nações, organizações mundiais, nunca corresponde ao sentido materno do amor, que vai até ao fim.

Uma humanidade com coração de mãe está especialmente atenta aos mais débeis e mais expostos a toda a espécie de explorações: as crianças, as mulheres, os doentes, os idosos. Aqui ao pé da porta ou bem longe de nós, Maria, a Mulher e Mãe de Coração Imaculado vai à procura de cada um dos mais débeis e quer levar consigo nessa missão toda a humanidade.

 

Caríssimos peregrinos!

A nossa vinda em peregrinação convoca-nos para um compromisso pessoal de fé e de vida, sugerido pela Primeira Leitura escutada: a mulher do Antigo Testamento não hesitou em expor a sua vida para dar o seu contributo em ordem à salvação do seu povo.

Logo a seguir, a Epístola aos Romanos centrava-nos no testemunho maior, o de Jesus que, sendo um só, mas com coração divino, aniquilou o poder do pecado e da morte em que jazíamos para nos dar a salvação de Deus.

Agora, como cristãos e como Igreja, somos chamados a ir de Fátima com plena disponibilidade para realizar o grande projeto de Deus aqui proclamado pela Virgem Maria:

dar coração à Igreja,

dar coração ao mundo.

Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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