SIMPÓSIO DO CLERO - 2012 - MISSA VOTIVA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (MR 1259)

LEITURAS: OS 11, 1-9 (LEC VIII 1041); MT 11, 25-30 (LEC VIII 1051)

 

Estamos a celebrar a Missa Votiva do sagrado Coração de Jesus, no encerramento do Simpósio do Clero, que decorreu, aqui no Santuário de Fátima, ao longo desta semana, subordinado ao tema: O padre, homem de fé – do mistério ao ministério.

Dentro de cada cristão há um mistério profundo, que é o mistério de Cristo, difícil de compreender, invisível aos nossos olhos. Pela fé podemos vê-lo, conhecê-lo e vivê-lo. Dentro de cada cristão há um mistério profundo, que é o mistério de si mesmo enquanto pessoa aberta à procura da verdade, ou, porventura, já adentrada numa relação muito próxima com Cristo, que se dá a conhecer como a Verdade.

Mas, dentro de nós, caríssimos irmãos sacerdotes, esse mistério como que se adensa. A ordenação não nos levou a perder nada da nossa humanidade nem da nossa condição cristã; antes pelo contrário, pela ordenação sacerdotal, entrámos em maior profundidade numa e noutra; a nossa humanidade mergulhou no mistério do Cristo Pascal, com o qual morremos para ressuscitar.

Pelo fato de nos configurarmos de um modo sacramental com Cristo-Cabeça, em cuja pessoa temos a graça de poder agir (in persona Christi Capitis), percebemos que esse mistério se adensa ainda mais em nós. Estamos indelevelmente ligados a Cristo, Cabeça da Igreja, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, apesar da nossa condição humana, pecadora e frágil como a de todos os membros do Corpo. Sempre que encaramos de frente esta realidade, enchemo-nos de assombro, o assombro de quem reconhece a obra da graça imensa do Deus que o envolve.

Este dom de graça - todos os dias o reconhecemos - é para nós, é para a Igreja e para o mundo. É dom que se transforma inevitavelmente em ministério, em serviço a favor dos outros. Não é possível que alguém se identifique com Cristo-Cabeça da Igreja, que se deu todo e em tudo, sem que se sinta chamado também a dar-se aos outros na sua vida quotidiana e no exercício do ministério sagrado.

O Catecismo da Igreja Católica (nº 1548) diz-nos que: “No serviço eclesial do ministro ordenado é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja, como Cabeça do seu Corpo, Pastor do seu rebanho, Sumo-Sacerdote do sacrifício redentor, Mestre da verdade”.

É o próprio Cristo que está presente à sua Igreja no serviço eclesial do ministro ordenado... Não conhecemos graça e alegria maior, por um lado, nem igual responsabilidade, por outro. Se outros motivos de ação de graças a Deus não tivéssemos, bastar-nos-ia este, tanto a nós, sacerdotes, como a vós, caríssimos irmãos, leigos e consagrados aqui presentes: a nós sacerdotes, por o Senhor nos escolher e aceitar para O tornar presente na Sua Igreja; a vós, irmãos e irmãs, por o Senhor vos conceder os sacerdotes que tendes nas vossas comunidades enquanto servidores da vossa fé e ministros da Palavra e do Pão da vida, que é Jesus Cristo.

 

O profeta Oseias oferecia-nos os traços centrais do modo de ser e agir de Deus, que hão-de ser, com certeza os traços do nosso ser e agir de padres.

O traço fundamental que nos foi apresentado por Oseias não precisa de muitas explicações, nem de desenvolvidos raciocínios, pois exprime-se em dois gestos muito simples e muito claros para todos: o profeta fala-nos de Deus como o Pai, que acolhe e embala o seu filho nos braços, com as entranhas a arder de comoção, ou como uma mãe que amamenta o seu filho e o encosta ao seu rosto, num imenso excesso de carinho.

Se não há cristão sem esta experiência de encontro com Deus, amor e fidelidade, não há homem que possa acolher a vocação a ser padre sem alguma vez se ter sentido nos braços de Deus, tocado pelo ardor da comoção das entranhas de misericórdia. É revisitando constantemente esta experiência pessoal pela oração e pela dedicação ao serviço da Igreja que reencontramos as fontes do sacerdócio que recebemos; é revisitando o coração de Deus por meio de Jesus Cristo que ultrapassamos todos os desalentos provenientes da nossa fraqueza ou das dificuldades reais no meio das quais exercemos o ministério sagrado.

 

O texto do Evangelho de Mateus, apresentava-nos Jesus, o Enviado do Pai, que, ao olhar para os rostos dos que O circundam, vê o seu cansaço e sofrimento, e se disponibiliza para carregar sobre Si mesmo tudo o que pesa sobre eles. O olhar de Jesus centra-se na multidão, tem compaixão por ela, vê-a como um rebanho sem pastor, dispõe-se a ir ao seu encontro. Não se centra em Si mesmo, não foi enviado por causa de Si mesmo, mas daqueles que o Pai quer salvar.

Trata-se, no fundo de assumir a cruz, não como um episódio da vida, mas como uma atitude na vida. A cruz de Cristo não é, em rigor, a Sua cruz; é a cruz de todos os que andam cansados e oprimidos sob o peso da vida com pecado. Pela ressurreição, Cristo eleva todos aqueles que, com Ele foram elevados na cruz.

Cada um de nós, irmãos padres, é chamado a configurar-se com Cristo nesta solicitude ilimitada pelos outros, que vai ao ponto de carregar sobre os seus ombros as suas cruzes, a fim de os atrair e elevar para o alto, para Deus, fonte da salvação.

O Povo de Deus, as multidões, que andam cansadas e oprimidas, como ovelhas sem pastor, precisam de alguém que as faça ouvir a voz do Bom Pastor: vinde a Mim e Eu vos aliviarei. Esse alguém é o padre, que acolhe em si o mistério que o liga a Cristo, Bom Pastor, e o liga aos homens e mulheres a quem é enviado enquanto homem de fé.

 

No final deste Simpósio do Clero de Portugal em que participámos e após a escuta destes dois textos da Escritura, poderemos não levar para casa muitas novidades, mas seremos portadores de algumas convicções, que se enraizaram profundamente em nós: a de que tudo o que somos e fazemos só tem sentido no contexto da fé em Jesus Cristo, que é o nosso caminho, a nossa motivação e o nosso horizonte de vida; a de que nascemos como padres do mistério de Deus-Amor, que nos chamou, nos acompanha e ampara com a sua grande misericórdia; a de que somos enviados a ser rosto vivo de Jesus que acolhe e alivia todos os que andam sobrecarregados na vida.

 

Em nome da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios a quem os Bispos Portugueses confiaram o encargo da organização do Simpósio, agradeço a Deus pela grande riqueza que constituiu para todos nós.

Agradeço a todos os que, de alguma forma, deram o seu contributo para que fosse um momento de graça para a Igreja em Portugal.

Agradeço a Nossa Senhora de Fátima, Mãe de Jesus e Mãe de todos os sacerdotes, por nos ter conduzido com mão de Mestra durante estes dias, por nos ter ensinado a ser “pequeninos”, a reconhecer que andamos cansados e oprimidos, mas podemos aproximar-nos de Jesus, que dá alívio e descanso à nossa alma.

Usando as palavras sentidas do papa Bento XVI, aqui pronunciadas no dia 12 de Maio de 2010, nos confiamos a Maria, antes de partir:

“Mãe Imaculada,
neste lugar de graça,
convocados pelo amor do vosso Filho Jesus,
Sumo e Eterno Sacerdote, nós,
filhos no Filho e seus sacerdotes,
consagramo-nos ao vosso Coração materno,
para cumprirmos fielmente a Vontade do Pai”. Amen.

 

Basílica da Santíssima Trindade, 7 de Setembro de 2012

Virgílio do Nascimento Antunes, bispo de Coimbra

Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios

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