SOLENE ABERTURA DO ANO PASTORAL E NOMEAÇÃO DOS MINISTROS LEIGOS 2021-2022
SÉ NOVA DE COIMBRA
Irmãos e irmãs!
Ouvimos no Evangelho as palavras de Jesus: “Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis”. E depois, concluiu que Jesus, “abraçando-as começou a abençoá-las”.
Estas palavras mostram o que está no seu coração e a atitude fundamental da sua presença no meio de nós e da sua relação connosco. Comove-nos sempre a sua misericórdia que se manifesta no acolhimento a todos, mesmo àqueles que, na visão religiosa e cultural da época estavam em segundo plano, nomeadamente as crianças.
Noutras alturas encontramos Jesus a acolher amorosamente, os pobres, os doentes, os pecadores e pessoas de outras origens ou com outras identidades. Tem sempre um abraço e uma bênção para cada um e, de braços e coração abertos, quer acolher a todos, porque ama a todos e é portador da salvação de Deus para todos.
Desta atitude de Jesus decorre a atitude fundamental da Igreja de hoje: acolher a todos de portas e corações abertos, animados pela misericórdia de Deus e portadora da salvação de Deus por meio de Jesus Cristo. Esta é a atitude nova que somos convidados a desenvolver, todos nós, cristãos da Igreja Diocesana de Coimbra, no momento de iniciarmos um novo ano pastoral e de apresentarmos um novo Plano Pastoral.
De algum modo, podemos ver nesta atitude de Jesus o acolhimento que Ele quer fazer a todos os que estão longe do Reino de Deus. Sem deixar de fora nenhum grupo humano e social, nenhuma faixa etária ou condição, pensamos, agora, no horizonte do nosso Plano Pastoral, de um modo especial nos jovens. Noutros lugares bíblicos eles são igualmente objeto da atenção de Jesus, a eles dirige o seu convite e para com eles manifesta um carinho a todos os títulos único e amoroso. Podem estar longe, podem parecer ocupados com outras coisas, podem até ser objeto de críticas justas ou injustas, mas são destinatários do convite para se aproximarem de Jesus e da Sua Igreja, são porção desta humanidade chamada a ter sentimentos de criança, a condição para entrar no Reino dos Céus.
Neste início de novo ano pastoral voltado para os jovens, pensamos em tantos estorvos que tornam a aproximação de Jesus aos jovens e dos jovens a Jesus muito difícil ou mesmo impossível. Quando não percebemos que eles estão em caminho, quando exigimos que sejam perfeitos de um momento para o outro ou quando lhes propomos modelos de integração que não estão ao seu alcance.
Convoco-vos para ouvir as palavras de Jesus que nos suplica que não criemos obstáculos aos jovens que devem aproximar-se d’Ele e que precisam de encontrar o Reino dos Céus. Mais ainda, convoco-vos a criarmos as condições, pessoalmente e em comunidade, para que o caminho da aproximação seja mais fácil. O Plano Pastoral tem de ser um instrumento suscitado pelo Espírito Santo para levar a nossa Igreja Diocesana a propor meios e caminhos que levem os jovens a Jesus, porque Jesus está amorosamente desejoso de se encontrar com Eles.
O encontro dos jovens com Jesus leva-os a estar com a Ele, a ficar com Ele, a deixarem-se acompanhar por Ele. Esta é a segunda atitude de Jesus, que a Igreja Diocesana em todas as suas pessoas e estruturas é chamada a seguir. Jesus acompanha os caminhos de todos, nunca os deixa sozinhos com as suas alegrias ou com as suas dores. Acompanha de forma silenciosa algumas vezes, com palavras fortes noutros momentos, com propostas e desafios frequentemente muito grandes. Nunca os deixa desamparados ou caídos à beira do caminho, nunca nega o seu perdão nem a força da sua bênção ou a imposição das suas mãos para o dom do Espírito Santo.
O acompanhamento que a Igreja é chamada a fazer aos jovens há de ser simples e humilde, há incluir o perdão pelos caminhos mal andados, há de ser compreensivo diante do que corre mal, há de ser marcado pelo amor e pela misericórdia que vem de Deus. Tem de ser paciente e perseverante como o amor do pai e da mãe, que não rejeitam nem desistem e que mesmo nos momentos de fracasso estão sempre disponíveis para recomeçar. O acompanhamento amoroso de Jesus que a Igreja há de continuar nunca vê os jovens como um problema, mas olha sempre para eles como pessoas e como um desafio e uma oportunidade segundo o plano de Deus que quer partilhar a sua vida com todos.
Como cristãos, como comunidades cristãs na sua diversidade, precisamos de imitar Jesus que acompanha todos e cada um como se fosse uma criança vulnerável, mas capaz de depositar a sua confiança plena em quem a ama de verdade.
Todos os caminhos de acolhimento e acompanhamento dos jovens estão ao serviço do anúncio de Jesus Cristo como o Senhor e salvador da humanidade, como a verdadeira Vida na qual encontram resposta para todos os seus anseios e interrogações. Pelo caminho, Jesus dá-lhes a conhecer um Deus que é amor, ajuda-os a interiorizar de forma existencial que os salva, que está vivo e que, por meio do Espírito, lhes dá vida, como nos sugeriu o Papa Francisco na Exortação Apostólica “Cristo Vive” (nn. 111-133).
Este é o anúncio da boa nova que a Igreja tem ainda hoje para fazer aos jovens que acolhe e que acompanha. Não se trata simplesmente de ser simpática ou de ocupar o seu tempo, mas estará sempre focada no anúncio d’Aquele que é já o Reino de Deus presente entre nós e nos indica o Reino que nos espera.
O anúncio de Jesus Cristo ou a evangelização é sempre o horizonte da ação pastoral, que nos foi entregue como missão para os dias de hoje. A Igreja existe para evangelizar, para propor os meios adequados para o encontro dos jovens com Cristo, o único salvador. Esta missão exige-nos uma clara mudança de atitude e leva-nos a escutar o Espírito de criatividade que nos impele a procurar cumpri-la com entusiasmo, com amor, com confiança e com fé.
Aos jovens queremos assegurar com toda a sinceridade e humildade: a Igreja Diocesana de Coimbra em todas as suas comunidades está disponível para vos acolher, para vos acompanhar e para vos anunciar Jesus Cristo, a Boa Nova de Deus.
Procurai ser como as crianças e criar dentro de vós o desejo de entrar nela, de partilhar nela as vossas alegrias, sonhos e desilusões, procurai o encontro pessoal com o Cristo vivo.
Neste dia solene de abertura do ano pastoral e de apresentação do nosso Plano Pastoral, convoco a Diocese de Coimbra a procurar os caminhos de realização dos três objetivos propostos:
- envolver os jovens na edificação da Igreja;
- proporcionar aos jovens o encontro com Jesus Cristo;
- acompanhar o discernimento vocacional dos jovens.
E convoco as novas gerações a entrar neste dinamismo de graça, que nos é oferecido, repito-lhes, com amizade: “Jovem, levanta-te! Cristo vive.”
Sé Nova de Coimbra, 3 de outubro de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra