SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR 2012 - SÉ NOVA DE COIMBRA - MISSA DO DIA

“Por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus”.

Nesta frase do Símbolo da Fé, afirmamos a certeza da vinda de Deus ao mundo bem como a sua finalidade, a nossa salvação. Reconhecemos que o pensamento criador de Deus se centra em nós, homens e mulheres, de todos os tempos, em cada pessoa, querida e amada por Ele. Acreditamos assim que, mesmo aquele que não é amado por mais ninguém, é amado por Deus, e a prova disso é que enviou o Seu Filho ao mundo para o salvar.

O mistério de Cristo, da incarnação à morte e ressurreição, é o mistério do amor de Deus por nós; o mistério da revelação de Deus aos homens encontra a sua razão de ser na salvação do género humano. Toda a História da Salvação se encaminha, portanto, para a Redenção realizada por Jesus Cristo, que cumpre, assim, o desígnio do Pai.

O início da Epístola aos Hebreus, que ouvimos na segunda leitura, centra-se precisamente nesse caminho longo da revelação de Deus, realizada por meio de toda a história lida de mente e coração abertos, por meio dos profetas bíblicos e a culminar com as palavras e gestos definitivos de Jesus Cristo, o Filho, que conhece o Pai e dá testemunho d’Ele.

Nesta atitude de Deus, que envia o Seu próprio Filho ao mundo, encontra o seu fundamento a afirmação de que o homem constitui a maior glória de Deus. Diante deste acontecimento caem todas as teses segundo as quais a afirmação de Deus põe em causa a grandeza do ser humano. De facto, a incarnação do Verbo de Deus significa uma aproximação na humildade e no serviço: veio por nós homens e para nossa salvação; não por causa de Si mesmo, nem à procura da Sua glória. Veio e encontrou-se com a nossa humanidade no seio virginal de Maria; vem, e o ponto de encontro com cada um de nós é o nosso coração e a nossa vida.

Na celebração do Natal, somos chamados a interiorizar esta verdade da fé, a acreditar que o Filho de Deus desceu dos Céus num gesto de aniquilamento, de humildade e de pobreza, para nos elevar e nos libertar de todos os nossos males e pecados. Somos convidados a sentir interiormente a alegria de acreditar neste Deus, que se ocupa de nós e se preocupa com o nosso presente e com o nosso futuro, terreno e eterno.

Enquanto o texto do Livro de Isaías anunciava uma salvação para o futuro, “todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus”, no refrão do Salmo Responsorial, cantávamos no passado: “todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus”. Trata-se da linguagem da fé em Jesus Cristo a contrastar com a linguagem da profecia messiânica, cujo centro é sempre a salvação do nosso Deus, esperada ou já realizada.

A Igreja que formamos é a comunidade dos que já viram a salvação do nosso Deus e acreditam numa salvação realizada por Cristo. A Igreja é o Povo que viu brilhar a Luz da Luz, o Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Somos, por isso, testemunhas de um acontecimento já realizado, já vimos a luz de Deus pela fé, havemos de viver nela e fazer dela a nossa alegria.

Há, no entanto, muitos homens e mulheres que ainda não viram a salvação de Deus nem conheceram o seu amor. A Igreja recebeu a missão, que é a sua única missão, de acolher esta boa nova e de a anunciar ao mundo. Pergunta-se frequentemente qual o papel da Igreja na sociedade, e a resposta é bem simples: ser portadora da boa nova da salvação do nosso Deus. Pergunta-se qual deve ser a intervenção da Igreja no mundo, e a resposta é igualmente simples: ser testemunha da fé em Jesus Cristo, Salvador do mundo. Pode ainda perguntar-se, como há-de a Igreja agir no cumprimento desta sua missão. É pela autenticidade da sua fé, pelo integridade do seu testemunho, pela verdade da sua palavra e pelo serviço ao ser humano, livre e generoso, realizado pelos seus membros e instituições, que ela cumpre a sua missão.

O Verbo de Deus desceu dos Céus por nós, homens, e para nossa salvação. A Igreja, Corpo de Cristo, existe somente por causa dos homens e da sua salvação e essa finalidade determina o seu modo de ser e de agir. Se o Filho do Altíssimo se aniquilou e assumiu a condição humana, mais a Igreja se tem de aniquilar para assumir tudo o que são as causas humanas; se o Filho do Homem veio para servir e não para ser servido, mais a Igreja será serva de todos.

“Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação”, dizia o texto de Isaías, introduzindo o tema da beleza e da bondade, como características da mensagem e do mensageiro. Talvez por isso o Natal tenha uma carga de bondade e de beleza tão fortes: a melhor mensagem foi trazida pelo melhor mensageiro.

Não temos hoje dúvidas que a mensagem cristã tem de ser comunicada pela via da descoberta da bondade e da beleza de que é portadora: trata-se da beleza maior, que é a de Deus e a do Homem, em comunhão de amizade e de amor. O desafio do Natal cristão, está precisamente em assumirmos pessoalmente e como comunidade cristã a bondade e a beleza da nossa vida e da nossa fé, assim como a tarefa de fazer do nosso mundo lugar de bondade e beleza e acreditar que esse é o desejo de Deus para nós.

Neste natal, sejamos nós mensageiros da salvação do nosso Deus, numa atenção privilegiada aos homens e mulheres nossos irmãos, por quem o Senhor desceu dos Céus. Procuremos que seja o bem e a salvação dos outros o que nos motiva, o que determina os nossos valores fundamentais e o que nos alegra.

Que José e Maria, no presépio, nos concedam a alegria de crer em Jesus e o entusiasmo de comunicar a fé na Sua salvação.

 

Coimbra, 25 de dezembro de 2012

Virgílio do nascimento Antunes

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