A linguagem das leituras de hoje, dominada pelo tom apocalíptico, pretende levar-nos a refletir de forma crítica sobre as realidades do presente da história, marcado pela esperança, mas também minado por múltiplas apreensões.
Ao contrário do que por vezes se pensa e se diz, a fé cristã é portadora de uma incomparável mensagem de esperança no futuro, que nasce de do homem criado por Deus e ancorado em Deus, ao definir as opções da sua vida pessoal ou comunitária.
As grandes aflições, o céu escuro e a lua sem claridade, imagens usadas pelo Evangelho para caracterizar as situações humanas necessitadas de orientação, força e luz, têm aplicação a todos os tempos da história e também ao nosso tempo. Embora com contornos diversos, consoante os tempos e as circunstâncias, teremos sempre o desejo de Deus inscrito em nós, como caminho e fonte de salvação.
“Hão-de ver o Filho do Homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória”, anunciava o Evangelho, a apontar para o alto. Numa palavra esclarecedora, a Epístola aos Hebreus pronuncia o nome de Cristo, que ofereceu pelos pecados da humanidade um único sacrifício, tendo desse modo tornado perfeitos os que santifica. Trata-se da afirmação de fé em Jesus Cristo, que realiza a obra de Deus, que consiste na salvação dos seus filhos.
Com razão o Papa proclamou um Ano da Fé, que já estamos a viver. Está consciente de que todos os esforços humanos no sentido de construir um mundo melhor, em que todos tenham o necessário para viver e se sintam bem, são essenciais. Acredita, no entanto, que decisivo para a humanidade é entrar pela porta da fé professada, celebrada, rezada e vivida.
“O Filho do homem está mesmo à porta”, vem oferecer-se para um encontro pessoal e um diálogo amigo, que transforma sempre cada pessoa que O acolhe. Em qualquer situação humana, de riqueza ou pobreza, crise ou prosperidade, saúde ou doença, alegria ou desespero, este encontro pessoal com Cristo é fonte inesgotável de vida e de esperança. A fé dá efetivamente uma resposta cabal ao homem, à sua pessoa e aos seus anseios, que são muito mais do que a sua situação económica ou os seus condicionalismos políticos, culturais ou sociais.
Neste sentido, a missão da Igreja, pelo facto de não ter como objetivo direto a resolução dos problemas económicos e sociais, não é menos urgente. Ela é enviada a realizar este trabalho de aproximação da humanidade a Cristo, a provocar o encontro interior do homem com Deus, por meio do anúncio da Boa Nova e do testemunho de uma vida já transformada por Deus.
A Igreja tem no mundo uma missão pastoral, ou seja, de dar continuidade à missão de Jesus Cristo, o Pastor, que conduz o Seu Povo às fontes da salvação, por meio da fé.
O Dia de Oração pelos Seminários, que estamos a celebrar, centra-nos na realidade do sacerdócio enquanto vocação e missão totalmente dedicadas a realizar este encontro do homem com Deus pela fé.
“O padre, irmão na fé e servidor a fé dos irmãos”, foi o lema escolhido para este ano, que procura exprimir esta certeza de que a fé em ordem à salvação é a obra de Deus, é a obra da Igreja e, portanto, é a obra do padre.
Neste dia de oração pelos seminários, queremos reconhecer o dom da vocação dos nossos sacerdotes, o dom da sua fidelidade e do seu serviço em favor dos irmãos; queremos reconhecer a grandeza da obra de Deus em todos nós, pois faz de homens pobres e pecadores obreiros, intermediários de graça.
Agradecemos o testemunho, porventura silencioso e discreto, dos sacerdotes que, ao longo de toda uma vida, aceitam pensar nos outros, querer o bem dos outros e servir os outros, renunciando a outras formas legítimas e boas de estar no mundo.
Convido-vos, a acolher o testemunho de vida de muitos sacerdotes, que vivem da fé e servem a fé dos irmãos, totalmente entregues à obra que lhes foi confiada por Aquele que os amou e os chamou pelo nome, a fim de partilharem a Sua vida e a Sua missão.
A Igreja precisa de vocações sacerdotais. Não se trata de procurar efetivos que preencham os lugares deixados vagos nas estruturas da Igreja, fruto da escassez dos últimos anos. Trata-se de chamar homens cheios de Deus, sensibilizados pelo Seu amor, marcados até á medula pelo encontro pessoal e único, que dá outro sentido e motivações a tudo o que são e fazem.
O mundo precisa de vocações sacerdotais como sinal da possibilidade de viver centrado em Deus e nos outros mais do que em si, no seu bem estar ou na sua realização. O sacerdócio é, em si mesmo, a afirmação de uma cultura diferente da dominante na sociedade hodierna, da cultura do ser, da dádiva e do serviço, que contrasta com a da busca de si mesmo a todo o custo.
Convido-vos, caríssimos irmãos, a abrir o coração a esse encontro íntimo com Cristo, na fé; convido-vos a ser testemunhas desta cultura da dádiva e do serviço, que é o único caminho para o cultivo das vocações sacerdotais.
À solicitude materna de Nossa Senhora confiamos a pastoral das vocações sacerdotais:
Ó Maria,
vós sois feliz porque acreditastes,
primeira na fé em Cristo,
a imagem e a figura da Igreja crente.
Rogai a Deus por nós,
para que sejamos firmes na fé,
na alegria do encontro com Cristo.
Ó Maria,
vós sois a Mãe de Cristo Sacerdote,
a humilde Serva do Senhor,
a Mãe da Igreja crente.
Rogai a Deus pelos sacerdotes,
para que sejam servos da fé dos irmãos,
na alegria de crer e no entusiasmo de comunicar a fé.
Ó Maria,
vós sois a mulher do “Sim” total a Deus,
sempre disponível à vontade do Pai,
a Rainha de todas as Vocações.
Rogai a Deus pelos seminaristas,
para que reconheçam o amor de Deus,
na resposta decidida à sua vocação.
Ámen