- Creio no mistério da fé
Queridos diocesanos de Coimbra
A Quaresma, que agora iniciamos, pretende levar todo o Povo de Deus a entrar no mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor, que é o mistério da fé.
No Ano da Fé, sobressai de modo mais visível, que a Igreja nasce desse mistério da fé e tem como única âncora a fé em Cristo morto e ressuscitado. Pelo batismo, o sacramento da fé, fomos sepultados com Cristo na morte e com Ele ressuscitámos para caminharmos numa vida nova (cf. Rm 6, 4); pelo mesmo batismo nos tornámos filhos de Deus em Cristo mediante a fé (cf. Gl 3, 26),fomos enxertados em Cristo e fomos recebidos como irmãos na Comunidade Cristã.
A identidade dos cristãos nasce, por isso, do mistério pascal, sintetizado por Paulo no solene anúncio: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Cor 15, 3-4). Essa identidade assume-se pela fé no mesmo Cristo, como ato de adesão pessoal da inteligência e do coração, segundo o modelo dos discípulos, que afirmam: “nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus” (Jo 6, 69). Assim, ligados a Cristo, sentimo-nos totalmente orientados para Ele, em Quem “vivemos, nos movemos e existimos” (At 17, 28).
2. Creio no mistério da caridade
O mistério da fé é inseparável do mistério da caridade. A vinda de Cristo tem a sua origem na caridade de Deus, que nos amou e enviou o Seu Filho para salvar o mundo. A páscoa constitui o grande sinal pelo qual “Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós” (Rm 5, 8).
Pela Eucaristia, chamada o Sacramento da Caridade, o Povo de Deus entra na comunhão mais profunda com Cristo que respondeu sempre e em tudo com amor, ao amor do Pai. As duas frases que repetimos quando realizamos os gestos da Última Ceia em Sua memória, são a expressão da oferta da Sua vida: “isto é o meu corpo”, “isto é o meu sangue”. Nelas se concentra a expressão do mistério da caridade em que acreditamos, que celebramos e que somos convidados a viver.
A Quaresma dará os seus frutos se cada um de nós aceitar entrar no mistério da caridade de Deus, que nos ama infinitamente, a ponto de entregar o Seu Filho para que sejamos salvos. A conversão é a porta de entrada que nos abre à novidade da experiência do encontro com Deus, que transforma toda a nossa vida.
3. A fé professada, celebrada, rezada e vivida
Caríssimos irmãos, peço-vos que, em sintonia com a Igreja, ouseis realizar uma grande caminhada de fé e de caridade, no tempo da Quaresma e da Páscoa, núcleo central do percurso do Ano da Fé, proposto pelo Santo Padre e assumido pela nossa Diocese.
- Convido-vos, a recitar diariamente o Credo durante o tempo da Quaresma e da Páscoa, individualmente ou em família, como forma de professar a fé cristã e de a tornar mais viva em vós; convido-vos ainda a fazer uma peregrinação à fonte batismal, durante o tempo da Páscoa, para aí recordar o batismo que recebestes na morte e ressurreição do Senhor.
- Convido-vos a participar na celebração da Eucaristia com a renovada consciência de que nela se torna presente o mistério da caridade de Deus e que dela nasce o mistério da nossa caridade humana. Crianças, jovens ou adultos, fareis um renovado esforço para celebrar a Missa do Domingo, sacramento inestimável da caridade de Deus e sacramento insubstituível de comunhão com Cristo e com a Sua Igreja.
- Convido-vos ainda à oração mais intensa e fervorosa, tanto na comunidade cristã, como em família, pela leitura e meditação da Palavra de Deus, pela adoração eucarística ou por meio da oração mariana do Rosário. Será de grande utilidade para a oração familiar o uso do Itinerário Semanal de Oração, proposta de reflexão e oração a partir do Evangelho de cada Domingo, preparado pelo Secretariado de Coordenação Pastoral para cada semana do Ano da Fé.
- Finalmente, convido-vos à vivência alegre da vossa fé na Igreja e no Mundo, e a dar um testemunho de amor e verdade que contagie, tanto nas ações de evangelização como na participação na construção da sociedade humana.
A fé conduz sempre à caridade, pelo que manifestareis a autenticidade da vossa fé por meio de uma especial atenção aos outros, particularmente aos mais pobres e às suas necessidades.
A nível diocesano queremos que esta Quaresma constitua uma grande campanha de caridade em favor dos pobres, pelo que lhe destinamos o resultado da Renúncia Quaresmal e do Contributo Penitencial, que será recolhido em todas as paróquias, como anunciado em recente Carta Pastoral.
Desejo a toda a Igreja Diocesana de Coimbra uma séria e profunda vivência da Quaresma e da Páscoa, com o renovado dinamismo trazido pela celebração do Ano da Fé.
Imploro para todos a proteção de Nossa Senhora e a bênção de Deus, que nos chama a participar no mistério da fé e da caridade, por meio do Seu Filho Jesus Cristo.
Coimbra, 11 de fevereiro de 2013
+ Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra