MENSAGEM DE NATAL 2020
As luzes do Natal brilham este ano de forma mais discreta, deixando, assim, alumiar de forma mais intensa a grande luz que ofusca todas as trevas nas quais mergulhou a humanidade.
Muitas vezes, nesta quadra festiva, pronunciamos palavras cujo sentido é difícil de perceber, ecoando como chavões, que anualmente se repetem, soam bem ao ouvido, mas carentes da força transformadora. A situação que agora vivemos à escala universal, a de uma humanidade afetada por uma pandemia, revela-nos dramaticamente a mais dura realidade a exigir luz e esperança. Desta vez sentimos na própria pele, e ninguém fica de fora, o que significa estar debilitados por causa da doença, da solidão, do medo, do isolamento, da carência económica, da fragilidade dos laços humanos, sociais ou laborais. A Boa Nova do nascimento de Jesus terá mais impacto em nós, mesmo que as celebrações natalícias familiares, sociais, litúrgicas, estejam marcadas pela sobriedade que a saúde pública e a caridade nos impõem.
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”. Todos estamos atingidos por alguns sinais das trevas, nem que seja a tristeza que nos invade ou a ansiedade relativamente ao dia de amanhã. Todos precisamos de vislumbrar no mais íntimo de nós mesmos os sinais de luz, aí sediados pela nossa condição humana e assumidos a partir da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a verdadeira Luz do Mundo.
“Consolai, consolai o meu povo!” Todos precisamos de consolar e de ser consolados. Deus, que nos conhece até ao mais profundo de nós mesmos, é o nosso Consolador, quando nos oferece Jesus, o Emanuel que permanece connosco em todas as situações, e quando nos dá o Espírito Santo, o Espírito de Amor, que vem habitar em nós como num templo, é portador da alegria de Deus e consola todas as nossas dores.
O Natal é este forte apelo à solidariedade, que faz de nós consoladores dos que estão em situação de maior debilidade ou desconsolo. A solidariedade, que tem normalmente, uma dimensão material, tem sempre a mais autêntica dimensão espiritual, que, neste Natal, se chama consolação.
Procuramos que as nossas atitudes de proximidade, partilha, entreajuda, que tocam por fora, estejam de tal modo marcadas pela verdade, que toquem ainda mais por dentro e constituam, enquanto gestos humanos, claros sinais do gesto consolador do amor divino, que celebramos no Natal de Cristo.
Neste Natal rezamos por toda a humanidade, para que acolha a luz que, a partir de Belém, brilha em toda a terra. Pedimos o dom da consolação para todas as pessoas que se possam sentir mais tristes e desconsoladas. Rogamos a esperança para quem já se deixou sucumbir face ao desânimo de uma vida difícil.
Oferecemos o nosso coração solidário a quem, por dever de profissão e por sentido de missão, se dedica ao serviço em favor dos outros, particularmente na linha da frente dos cuidados de saúde, nas instituições de acolhimento de idosos e doentes, nos lugares de solidariedade e caridade, na assistência espiritual e religiosa, no discernimento das medidas adequadas à situação que se vive.
Confiados na grandeza do abraço de Deus, que envolve toda a humanidade em Jesus, que nasceu entre nós, garantimos a pequenez do nosso abraço a todos aqueles que esperam de nós o anúncio da alegria do Natal.
Que Deus vos abençoe e guarde num santo e feliz Natal.
Virgílio Antunes
Bispo de Coimbra