MENSAGEM DE NATAL 2022
Todos os sinais do Natal estão aí nas ruas, nas famílias e nas igrejas. Indicam a alegria de celebração da vida do amor e da paz que temos, que procuramos e que desejamos se tornem uma realidade para toda a humanidade. Sendo exteriormente mais contidos, dadas as circunstâncias que afetam as comunidades, propõem-nos uma interioridade mais profunda e levam-nos a entrar nas raízes mais capazes de transformar o mundo.
A Igreja anuncia com um novo ardor a novidade do nascimento de Jesus e manifesta-O ao mundo como o Salvador, que nos abre a possibilidade de construirmos uma humanidade nova em que a vida, o amor, o amor e a paz sejam fruto do coração aberto a Deus e aos irmãos. “Cristo nasceu para nós”, repete a revelação da Sagrada Escritura; “o Verbo de Deus fez-se Homem”, canta a Liturgia da Igreja, numa celebração festiva que atualiza em cada pessoa cristã a sua fé, como atualização da proposta crente para o tempo presente.
Os votos de “feliz Natal” que alegremente trocamos uns com os outros, trazem a marca de um desejo profundo de bem-estar pessoal e social que habita em nós; acompanha-os sempre a certeza de que não chegam a todos e de que sempre estamos longe de o conseguir. Sempre que são sinceros e não somente uma formalidade ou frase feita, são a manifestação da disponibilidade e do compromisso que assumimos de nos envolvermos ativamente em favor dos outros. Que este ano, os votos de “feliz Natal” sejam mais sinceros e tragam a força da nossa vocação comum e universal: “ser para os outros”.
Voltamo-nos este ano especialmente para os jovens, no contexto da proximidade da Jornada Mundial da Juventude, Lisboa 2023, que estamos a preparar com entusiasmo. Eles são o “agora de Deus” e a esperança maior da Igreja e da sociedade. A ânsia que temos de mudança civilizacional encontra neles os protagonistas mais destacados, porque constituem a faixa etária mais incomodada com a situação de vazio que se vive no mundo e mais aberta à procura da fé como verdadeira novidade das suas vidas.
O nosso mundo deixou-se envelhecer em idade, mas acima de tudo ficou velho quando se fechou em modelos culturais desprovidos de espiritualidade, de fé e de alma. Os jovens querem um mundo novo e estão dispostos a trabalhar por ele, sendo, por isso, a realidade presente e a esperança futura de que algo de verdadeiramente novo e diferente já está a germinar. A força de Cristo vivo, que o Evangelho gera sempre, já dá sinais de um acolhimento que supera o sentido de declínio do passado. Queremos, neste Natal, incentivar os jovens a seguirem pelo caminho de Cristo, a deixarem-se envolver pelo Espírito que dá vida e que propõe projetos de justiça e de amor.
Gostaria também que esta mensagem de Natal fosse um grito em favor da paz. Todos sentimos o coração ferido de amargura quando conhecemos a situação de irmãos e irmãs nossos que choram a destruição, o frio, a fome, o medo e a morte. Nesta celebração do Natal de Jesus, a guerra não é uma ideia abstrata, mas uma realidade com rostos visíveis diariamente nas nossas casas, na vida de pessoas e povos, que estão no nosso Continente e às nossas portas.
Convoco a Diocese de Coimbra para uma grande corrente de oração pelo fim da guerra na Ucrânia durante as celebrações do Natal. Jesus, o Príncipe da Paz, concederá à humanidade corações cheios de amor, que levem a depor as armas e a edificar a paz.
Convoco ainda a Diocese de Coimbra para um gesto de solidariedade e partilha com a Igreja da Ucrânia, para que possa continuar a sua missão de auxiliar os que estão a sofrer sem pão, sem casa, sem família, sem água, sem luz, sem escola, sem esperança. Que o ofertório que se faz nas nossas celebrações do dia de Natal por ocasião do gesto de adoração do Menino Jesus possa reverter em favor dos pobres da Ucrânia.
Que as crianças, jovens, adultos e idosos das nossas comunidades que se inclinam diante da imagem do Menino Jesus sintam o coração solidário com muitos outros da mesma idade, que não podem celebrar o Natal. A Diocese de Coimbra receberá o produto dessa partilha de amor e, por intermédio da Conferência Episcopal Portuguesa, chegará um pouco do nosso Natal ao desses nossos irmãos.
Votos de um santo e feliz Natal.
Virgílio Antunes
Bispo de Coimbra