MENSAGEM À ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE COIMBRA - NATAL 2011

A pessoa humana traz dentro de si tudo o que de bom existe. É, por natureza, o cume da criação. Precisa, no entanto de assumir conscientemente aquilo que é e que traz dentro. Ao assumi-lo livre e responsavelmente, explode num mar admirável de possibilidades de construção do mundo e da sociedade.

Não consigo celebrar o Natal sem evocar estes pensamentos e sem olhar atentamente para o modo como estamos a viver e a assumir tudo o que de bom e belo trazemos dentro de nós. Este é um exercício obrigatório, porque não assumo o Natal somente como a celebração de uma efeméride, mas acima de tudo como um acontecimento que revela o homem no seu presente e na sua projeção para o futuro.

Enquanto celebração de uma acontecimento histórico passado da ordem da fé cristã, o nascimento de Jesus Cristo, trata-se de uma realização do pensamento do Deus que, cria o universo e homem e lhe dá todas as condições para ser feliz. Enquanto acontecimento presente, trata-se de irmos às raízes de nós mesmos e do projeto de Deus, na descoberta dos caminhos a percorrer para assumirmos a nossa humanidade.

Tanto na celebração do Natal como nas outras questões da vida, incluindo as mais banais e quotidianas, e as mais relevantes como a família, da educação, da economia, da cultura... caracterizamo-nos por nunca ir ao fundo. Falamos superficialmente, damos ideias e sugestões, mas não nos dispomos a assumir. Deixamos que tudo aconteça, siga o seu ritmo, se possível sem a nossa intervenção. As pessoas tornam-se sujeitos passivos da vida e dos acontecimentos, mesmo dos mais relevantes.

O Natal faz-nos ver que enquanto pessoas só podemos ser sujeitos ativos da vida e que não há transformação do mundo sem a nossa intervenção e o nosso contributo ativo. As crises e dificuldades de todos os tempos e do nosso tempo não têm solução técnica ou matemática que não passe pela mudança de atitude de cada pessoa, família e sociedade.

As associações humanitárias e de voluntariado nos mais variados âmbitos, são um bom exemplo de quem se não limita a ser espectador da vida, mas está decido a ser protagonista dela. Ao incarnar o ideal de estar próximo dos que se encontram em situação aflitiva, manifestam o que há de mais nobre no ser humano, a sua capacidade de se compadecer e de amar.

A dedicação séria ao trabalho, à causa da família, em favor da justiça e da paz e a muitas outras áreas da realização humana feliz, são a melhor forma de edificarmos um mundo a que possamos chamar nosso, por ser obra das nossas mãos.

Feliz Natal!

 

Virgílio Antunes, bispo de Coimbra

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