Sonhar a paz e a justiça :: Pe Idalino Simões

Sonhar … a paz e a justiça

Quando lemos os textos do Papa Francisco, o sonho é uma palavra recorrente nas suas intervenções. É exatamente por isso que ele é homem do futuro. Porque aponta para lá de si. Porque abre insuspeitados caminhos de renovação na vida milenar da Igreja. Hans küng escrevia que «quando não há utopias servem-se melancolias…»

Neste tempo de conflitos, sem horizonte de paz, só temos o Sonho da Paz. É um sonho que deve continuar a perseguir-nos, provocando-nos a uma atitude de compromisso pela justiça e pela misericórdia: Fulton Sheen comparava a paz a um rio alimentada pela fonte que fluía de cada coração de paz. Se o rio deixa de correr é porque foram secando as fontes. Se olharmos para o panorama do mundo percebemos que estamos numa sociedade onde o culto da violência se vai manifestando em locais improváveis: família, escolas, ruas das nossas cidades, estradas… mas também, e sobretudo, numa economia geradora de injustiças. E a injustiça é o caldo apropriado para cultura da violência… 

Do outro lado da guerra:

  1. Ecumenismo e diálogo inter-religioso e intercultural

De 18 a 25 de janeiro celebra-se a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. É uma experiência amadurecida desde que começou a ser celebrado em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson. «Se formos guiados pelo Espírito Santo, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca provocam conflito» afirma o Papa Francisco. O diálogo ecuménico foi avançando e cada vez mais se transforma num diálogo inter-religioso e intercultural. Mas não é um caminho fácil. Javier Melloni em «Para um Tempo de Síntese» avança propostas e experiências de encontro e de enriquecimento entre as diferentes experiências religiosas. Mas também a grande dificuldade: «As identidades religiosas caracterizam-se por algo que torna difícil a convivência entre elas: na medida em que remetem para o absoluto, tendem a absolutizara si mesmas». Para avançarmos para um tempo de paz, afirma Melloni, são necessários profetas: «Próprio dos profetas é palavra e a denúncia do que devia ser e que, contudo, não é. Mais do que nunca precisamos da voz de todos os seres lúcidos que viveram na terra e que interpelaram a sua geração para avançar no crescimento e na sensibilidade pelo que é humano e para aprender como solucionar o abuso de uns contra os outros». 

O papa Francisco, na Exortação Apostólica «Querida Amazónia deixa este desafio: «É a partir das nossas raízes que nos sentamos á mesa comum, lugar de diálogo e de esperanças compartilhadas. Deste modo, a diferença, que pode ser uma bandeira ou uma fronteira, transforma-se numa ponte» (37).

A vigília da Assembleia Sinodal em 30 de outubro é, no dizer de João Maria Carvalho, que entoou o «cântico das criaturas de São Francisco, «uma semente mas também um fruto». O simbólico rio de paz escorrendo por entre a Assembleia de vária Igrejas é uma excelente etapa de um caminho que as Igrejas vão percorrendo para que as diferentes experiências se vão tornando um património comum. Dizia Frei Aloísio da Comunidade de Taizé: «Este tempo comum de oração foi um Kairós, uma abertura, um momento que nos permite avançar no ecumenismo espiritual… todos fazemos parte do mesmo corpo».

2. O Amor universal

 A Fratteli Tutti, tendo como referência o Samaritano debruçado sobre o estrangeiro ferido, recorda o amor universal como outro sonhador, Luther King, dizia desta parábola. «Feitos para o amor, existe em cada um de nós uma espécie de lei de  “êxtase”; sair de si mesmo para encontrar nos outros um acrescimento de ser» (FT 48).  Abrindo o horizonte convida a não ficar no pequenino grupo ou na família mas para avançar para «uma teia ampla de relações: e não só do momento atual, mas também as relações aos anos anteriores que me foram configurando ao longo da vida» (FT 89). Com a Laudato Si esse amor universal tinha já sido alargado aos que hão vir e têm necessidade de uma Terra onde se possa viver.

  1. A misericórdia e perdão

Não é possível sonhar a paz sem desenvolver atitudes de misericórdia e de perdão. Enquanto a forma de resolver os conflitos for a retaliação, está bloqueado o caminho da paz justa. As guerras costumam terminar à mesa das negociações para impor a paz do vencedor. Mas essa não é a paz. É um apaziguamento parcial, porque, no subterrâneo, a violência da vingança continua em ebulição. É por isso que António Guterres tinha razão ao dizer que os ataques do Hamas não surgiram do nada.

Como da paz só temos o sonho, é urgente continuar sonhar. É a forma de alimentar a Esperança que «Vê o que ainda não é e o que será. /Ama o que ainda não é o que será…/É ela que faz andar o mundo inteiro, /Que o arrasta…» (Charles Péguy) 

Idalino Simões (CDJP)

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