Uma Janela que se fecha :: Santos Cabral

Uma janela que se fecha

No Dubai viveu-se esta semana um tempo de opções que, necessariamente, vão condicionar o futuro da Terra. Na verdade, como se não bastassem os sinais de destruição, e morte, que emergem em tantos lugares do nosso planeta, somos agora confrontados com desafios que colocam em causa a própria sobrevivência de grande parte da Humanidade.

As alterações climáticas, e o aquecimento global, passaram a fazer parte do nosso quotidiano e os seus efeitos, que continuamente aumentam de forma insidiosa, afectam-nos cada vez mais. Sucedem na superfície terrestre, mas também nos céus a quilómetros de altura e a milhares de metros de profundidade nos oceanos. Os danos provocados na nossa Casa Comum e, consequentemente, aos seres humanos e às outras espécies que connosco partilham a Terra, aumentam de forma inexorável e são irreversíveis.

 Os limites propostos pelo Protocolo de Paris estão ultrapassados e uma subida de temperatura, aproximando-se dos três graus Celsius, assume-se cada vez mais como uma possibilidade. Se este cenário se verificar até ao ano de 2100, ou seja, daqui a 75 anos, a Humanidade terá perante si um planeta totalmente diferente e uma situação literalmente catastrófica, com centenas de milhões de refugiados desesperados e a morrer à fome, fugindo de vastas regiões do nosso planeta que ficaram inabitáveis devido às cheias, secas, tempestades e incêndios. Os conflitos aumentarão exponencialmente, com os povos a procurarem assegurar o acesso a bens essenciais numa demanda desesperada por comida e abrigo. 

Esta visão apocalíptica é uma possibilidade real. Na sua origem está a concentração na atmosfera de gases com efeito de estufa originados pelos combustíveis fósseis. O dióxido de carbono atingiu agora o seu máximo histórico com 423 partes por milhão e, considerando o total das emissões desde 1850, mais de 40% ocorreu depois de 1990.

Chegámos a este estado de degradação do ambiente pela forma como erigimos o paradigma tecnocrático como valor fundamental. Omitimos que a tecnocracia só tem sentido se colocada ao serviço do Homem. A tecnologia não pode ser considerada como um princípio e um fim, como, se pelo simples facto de existir, tal implicasse em si o sinal de um futuro com futuro. A admiração pela tecnologia sem limite, ou valores, conduziu a uma situação em que aperfeiçoámos até ao limite a forma de destruir o outro ser humano. Como confessava Oppenheimer, quando vislumbrou o potencial de destruição da bomba nuclear: “Agora eu me tornei a morte, a destruidora de mundos”.  

Para o Papa Francisco (Laudate Deum), pronunciando-se sobre este tema, houve momentos da História em que a admiração pelo progresso não nos permitiu ver o horror dos seus efeitos. Adianta que “o imenso crescimento tecnológico não foi acompanhado por um desenvolvimento do ser humano quanto à responsabilidade, aos valores, à consciência, ele está nu e exposto frente ao seu próprio poder que continua a crescer, sem ter os instrumentos para o controlar. Talvez disponha de mecanismos superficiais, mas podemos afirmar que carece de uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe ponham realmente um limite e o contenham dentro de um lúcido domínio de si”. 

A procura de alternativas que permitam evitar o pior dos cenários esteve presente no Dubai na COP28 em que se confrontam aqueles que, efectivamente, procuram alcançar um futuro de vida e aqueles que (nomeadamente os Países Produtores de Petróleo) pretendem que algo mude para que tudo fique na mesma. De um lado, quem quer proteger o futuro da Humanidade dando início à eliminação ordenada dos combustíveis fósseis e, do outro, os petroestados e os líderes das empresas de petróleo e gás que estão a alimentar a histórica catástrofe climática. Infelizmente, a declaração final da Cimeira pouco mais foi do que uma mão cheia de nada, apontando para uma longínqua e ambígua transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos. 

Enquanto não se assumir, de forma clara, o objectivo de eliminação progressiva dos combustíveis, a Humanidade continuará a caminhar em direcção ao abismo e o Mundo será, progressivamente, um lugar mais perigoso, mais caro e mais incerto. Como afirma Al Gore, “qualquer outra coisa é um enorme passo atrás daquilo que o mundo precisa para realmente enfrentar a crise climática e garantir que a meta de 1,5°C não morra no Dubai”.

Estamos numa corrida contra o tempo. Como dizia Ghandi “O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. 

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