XXV DOMINGO COMUM A
ABERTURA SOLENE DO ANO PASTORAL 2023-2024
Caríssimos irmãos e irmãs!
Um novo ano pastoral é sempre motivo de nova esperança para a comunidade diocesana, que precisa de renovar o ânimo e a fé de que é portadora. Não podemos pura e simplesmente programá-lo como todos os outros, nem repetir exatamente da mesma maneira as fórmulas a que estamos habituados, porque o mundo corre e a Igreja não quer simplesmente correr atrás dele, mas quer ir à frente e iluminar com a luz do Evangelho de Jesus todas as suas sombras. A Igreja está no mundo para dar Cristo ao mundo e, por meio da evangelização, apresentá-l’O como o Caminho, a Verdade e a Vida.
No encontro com a Igreja em Portugal, no Mosteiro dos Jerónimos, durante a Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco incentivou-nos a não ficarmos presos aos desânimos e insucessos, mas a levantarmos o olhar para um futuro de esperança que vem do Alto. Diante das estatísticas da prática religiosa ou diante de qualquer realidade mais feliz ou mais sombria, só podemos ver as oportunidades e sementes de futuro, que o Espírito Santo nos faz ver como desafios. Não ignoramos nenhuma das realidades que estão patentes diante de nós, pois a Boa Nova a anunciar e viver é muito mais arrebatadora do que essa realidade.
Este novo ano pastoral, tendo em conta o que conhecemos por meio do recenseamento da prática religiosa, por meio dos estudos sobre a religiosidade dos portugueses e, em especial dos jovens, mas tendo também em conta a experiência inesquecível da Jornada Mundial da Juventude, é verdadeiramente um novo ano. Há algo de bom e de grande que não podemos esquecer; há sementes lançadas à terra que havemos de fazer dar fruto abundante, com a cooperação de muitos trabalhadores chamados para a vinha do Senhor.
A Igreja Diocesana de Coimbra está diante de uma oportunidade que não pode perder, pois não veremos tão depressa uma onda de entusiasmo como a que acabamos de ver. A Diocese moveu-se em todas as suas estruturas e pessoas, houve colaboração de muitos homens e mulheres de boa vontade, o dinamismo da fé fez-se sentir e a união entre as pessoas foi uma realidade.
A leitura do Livro de Isaías que escutámos chamava-nos a atenção para os momentos de graça que se não podem desperdiçar: “Procurai o Senhor, enquanto se pode encontrar, invocai-O enquanto está perto”. O Senhor pode sempre encontrar-se e invocar-se; Ele está sempre perto de nós e vem continuamente ao nosso encontro. Nós, porém, nem sempre temos as mesmas condições e a mesma vontade para nos aproximarmos d’Ele ou para irmos ao seu encontro. Este é verdadeiramente um tempo favorável e esta é, de facto, uma hora apropriada para nos pormos a caminho, todos juntos, com Maria.
Quando dizemos no lema do nosso Ano Pastoral, “O caminho continua...”, “Com Maria seguimos juntos” ao encontro de Cristo, estamos mais a manifestar um desejo e um sonho do que queremos ser do que propriamente a proclamar uma realidade já alcançada. Queremos, no entanto, fazer decididamente esse caminho, com o auxílio da Virgem Maria, juntos, unidos, com amor.
Quando repetimos a frase chave que dá luz ao nosso Plano Pastoral, “Jovem, levanta-te! Cristo vive”, estamos, por um lado a apelar à força da nossa fé, que nos faz tomar uma atitude ativa, e, por outro, a reafirmar a nossa certeza quanto à meta a alcançar: Cristo Vivo.
“Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro”, afirmava o Apóstolo Paulo na Segunda Leitura, definindo com toda a clareza a meta que nos faz avançar: a identificação cada vez mais perfeita com Cristo. É o Senhor quem nos faz levantar, quem nos faz pôr a caminho, quem nos move a dar a vida voluntária e livremente no serviço à Igreja sem calcular o que se ganha com isso ou se outros têm maiores sucessos e benefícios.
Fixemo-nos na expressão paulina: “para mim viver é Cristo”. Ela é a expressão da nossa identidade cristã, é a meta do nosso caminho em Igreja, é o fruto do anúncio e do acolhimento do Evangelho, é a expressão do nosso amor maior, é o que desejamos e procuramos a partir da fé.
O Evangelho segundo São Mateus, hoje proclamado, convida-nos a sentirmo-nos chamados a ser Reino de Deus presente no mundo. Só quem aceita o convite de Jesus para ser Reino de Deus, aceita trabalhar na Igreja com entusiasmo, com uns olhos bons e com um coração bom; só quem se sente amado e ama Jesus, está disposto a ter lugar e a dar lugar aos outros nesta Igreja, que convida todos a entrar e a ter lugar.
A última frase de Jesus e conclusão da parábola dos trabalhadores da vinha, “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”, é fortemente elucidativa para a ação da Igreja: primeiro, porque transtorna as nossas seguranças acerca da importância das pessoas, depois porque abre as portas do Reino aos que são considerados mais pequenos, e ainda porque nos ajuda a compreender que o caminho da conversão e da adesão interior a Cristo não está vedado a ninguém.
A proposta de Jesus dirige-se aos trabalhadores contratados na primeira hora, a meio da manhã, ao cair da tarde – pessoas em situações diferentes, com caminhadas diversas e até com disponibilidades maiores ou menores. Até os olhos e o coração podem estar já sintonizados e purificados ou ainda em estado de grande confusão ou perversidade. A proposta de Jesus é um convite para fazer caminho com Ele, para entrar no aconchego do seu amor, para uma abertura confiante à fé, para uma integração mais plena na Igreja, para o acolhimento feliz do Evangelho; numa palavra, trata-se do convite à conversão, que não deixa ninguém na mesma quando experimenta estar com Cristo, que leva a progredir interiormente quando se trabalha na Igreja.
Este modo de agir de Jesus sugerido pela parábola inspira o nosso novo ano pastoral e a atitude nova que ele nos pede. A Igreja diocesana precisa de chamar, formar e enviar novos trabalhadores para realizarem a sua missão.
Este ano, focamo-nos especialmente na pastoral dos jovens e na necessidade de os chamar a serem ativos na missão junto dos outros jovens. Pensamos na urgência de animadores da pastoral dos jovens a nível diocesano e a nível local, ou seja, nas Unidades Pastorais. Pensamos também especialmente nos que hão de conduzir os adolescentes nos últimos anos da catequese, em ordem à celebração do crisma e depois desse acontecimento da graça do Espírito Santo.
É preciso chamar, formar e enviar membros de todas as Unidades pastorais para que a Igreja tenha propostas concretas, bem estruturadas e adequadas aos jovens. Confiamos em vós, nos sacerdotes, diáconos, catequistas, famílias e comunidades em geral para que a renovação da Igreja, com os jovens, tenha lugar.
“Irmãos e irmãs, com a Maria, seguimos juntos. O caminho continua...” Acompanhemos toda a peregrinação da nossa Igreja com a oração e com o desejo da fidelidade a Deus e a inspiração do Espírito Santo. Sigamos juntos, partilhando a alegria de acreditar e o entusiasmo da edificação da Igreja, que oferece a todos a possibilidade de fazerem caminho e de serem trabalhadores do Reino. Vamos com novo ardor, novos métodos e novas expressões.
Coimbra, 24 de setembro de 2023
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra