Missa Ação Graças Venerável Irmã Lúcia - Homilia de Dom Virgílio

MISSA DE AÇÃO DE GRAÇAS – DECRETO DAS VIRTUDES HEROICAS – IRMÃ LÚCIA
CARMELO DE COIMBRA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Damos graças a Deus pela Irmã Lúcia, agora declarada Venerável pelo Papa Francisco, que acolheu a notícia da sua fama de santidade. O processo de beatificação e canonização pedido pelas irmãs do Carmelo de Santa Teresa e que correu nesta Diocese de Coimbra manifesta o sentir do Povo de Deus, que foi acolhido pela Igreja e a levou a declarar as suas virtudes heroicas.

Com base nos seus abundante escritos da Irmã Lúcia, onde se os censores teólogos verificaram que há conformidade com a fé e os costumes do património da Igreja, e com base no testemunho de muitas pessoas que conviveram diária ou ocasionalmente com ela, pôde concluir-se que viveu as virtudes humanas e cristãs de forma exemplar. Segundo o juízo da Igreja, é, por isso, Venerável entre os filhos da mesma Igreja e, quando houver um sinal forte de Deus a manifestar que é poderosa intercessora, a que chamamos milagre, poderá vir a ser beatificada, para ser apresentada ao Povo de Deus como um modelo a seguir no caminho de fé e de vida a que somos chamados.

Coimbra já conta com alguns dos mais conhecidos e veneráveis da Igreja, que aqui viveram e se santificaram - S. Teotónio, Santa Isabel de Portugal e Santo António. Vê agora abrir-se a porta a uma mulher do nosso tempo, que aqui viveu cinquenta e sete anos de forma simples e discreta, mas que deixou atrás de si o grande rasto da vivência das virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, assim como da vivência das outras virtudes, que manifestam grandeza de alma e coração, ou seja, a verdadeira humanidade de uma pessoa.

Para o Carmelo de Santa Teresa, para a Diocese de Coimbra e para o mundo que acolhe a Irmã Lúcia como mulher e cristã que acolheu a mensagem do Evangelho através da Virgem santa Maria e que a viveu com profundidade e heroicidade, este momento de graça constitui uma grande alegria e um verdadeiro motivo de júbilo.

Nesta celebração, dizemos obrigado a Deus que é grande e faz grandes coisas, agradecemos à Igreja na pessoa do Papa Francisco pelo seu ministério com grandes sinais de amor ao Povo de Deus e que sempre nos propõe caminhos de santidade e modelos de santidade, agradecemos à Virgem Maria por ter escolhido a Irmã Lúcia para a fazer mensageira do convite à conversão e agradecemos à Irmã Lúcia por ter acolhido a vocação e missão que lhe foi confiada com fé, com esperança e com amor.

Queremos agradecer ainda a todos os que mantiveram firme a sua devoção e fizeram perdurar e crescer a fama de santidade da Irmã Lúcia, por acreditarem que Deus continua a operar maravilhas também no nosso tempo; do mesmo modo, estimulamos todos os que continuam a pedir a sua intercessão junto de Deus para renovarem as suas vidas a partir da fé em Cristo e da fidelidade ao Seu Evangelho, num caminho de conversão que será disponibilidade para acolher todas as graças no tempo presente e a salvação de Deus na eternidade.

Finalmente, agradecemos a todos os que, arduamente, com rigor e com sentido de missão deram corpo a todas as fases deste longo processo: as Irmãs do Carmelo de Santa Teresa, a Comissão Histórica e o Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima, os Censores Teólogos, os biógrafos e redatores da Positio, o Tribunal Diocesano, a Postulação da Ordem dos Carmelitas Descalços, a Vice-Postulação em Portugal que conduziu todos os trabalhos, o Dicastério para as Causas dos Santos e a Comissão que propôs ao Santo Padre a aprovação das Virtudes Heroicas. Todos, sob o juramento prescrito, realizaram a sua missão de forma exemplar, pelo que, hoje, lhes dizemos um grande obrigado e confortamos com a nossa estima, gratidão e oração.

A leitura do Profeta Isaías deixou-nos hoje uma prova da confiança de Deus em todo o seu povo, que é, ao mesmo tempo o seu grande desejo, quando nos diz: “Verdadeiramente este é o meu povo, são filhos que não Me vão desiludir”. O Senhor oferece a sua graça e os seus dons ao povo, que escolheu e chamou, para ser o seu Povo fiel. Deixou-nos, porém, sempre livres, na escolha dos caminhos que queremos percorrer, mas sempre na certeza de que o amor e a fidelidade são para nós os caminhos da salvação. Liberdade no amor e fidelidade como duas realidades que andam sempre unidas e nascem da fé na sua bondade.

A santidade de vida constitui a prova da nossa confiança n’Ele e, ao mesmo tempo, o sinal de que nos deixamos conduzir por Aquele que nos libertou, tanto agora como nos tempos de outrora; como aconteceu com o Povo de Israel segundo a conclusão do texto que escutámos, assim Ele deseja que aconteça agora, com o Seu Novo Povo e com cada um de nós que nele foi incorporado pela fé e pelo batismo.

A vida da Irmã Lúcia, que hoje agradecemos como Venerável, não foi uma fatalidade. Foi uma vida livre na escolha da fidelidade e do amor a Deus e ao próximo. Nem sequer a graça das aparições da Virgem Maria podia diminuir nela a possibilidade de dizer o seu “sim” confiante. Com dificuldades e no meio de tribulações, como sempre acontece quando empenhamos a nossa vida nas grandes decisões, manteve a sua palavra e as suas primeiras opções conscientes e responsáveis.

A célebre frase que retemos das suas Memórias foi um compromisso de fidelidade e de amor para toda a vida: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” A resposta dos Três Pastorinhos, segundo o testemunho da Irmã Lúcia, foi unânime: “Sim, queremos”. Para o Francisco e a Jacinta foi uma resposta de amor e fidelidade breve no tempo; para a Irmã Lúcia teve a duração de várias décadas, a mostrar que era para sempre, nas dores e nas alegrias da sua longa vida. Foi membro de um povo que tudo fez para não desiludir Senhor, na fidelidade e no amor.

Socorremo-nos das palavras da Virgem Maria pronunciadas no Magnificat, o seu canto de louvor, que recolhe a experiência do Povo de Deus do Antigo Testamento, para realçar a obra que Deus sempre realizou no seu povo.

“O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas”, é expressão que mostra a consciência de que tudo o que é para nós a Virgem Maria, como Mãe de Deus e nossa Mãe, Santa e Imaculada, nasce da grandeza e da bondade do mesmo Deus.

O Senhor “derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” é expressão que mostra o agir de Deus, quando encontra no seu Povo a humildade necessária para realizar a sua obra de salvação.

Intimamente tocada pelas palavras da Virgem Maria narradas pelo Evangelho, assimiladas na catequese familiar e eclesial e acolhidas no coração, e mais plenamente integradas na sua vida a partir das manifestações sobrenaturais, a Irmã Lúcia quis ser parte do Povo de pobres e humildes exaltados na Escritura.

Conhecemos a sua fé profunda, primeiro infantil e depois adulta, no Deus Todo-Poderosos, que realizou maravilhas no Seu Povo e na Sua Serva, a Virgem Maria; conhecemos também a sua condição de pobre e humilde, nascida num contexto em que humana e socialmente não proporcionava grandes possibilidades. Ela acreditou que tudo devia a Deus e que nada seria sem a sua graça e pôde escutar da Virgem Maria a confirmação desse caminho, quando disse aos Pastorinhos: “A graça de Deus será o vosso conforto”.

Estamos, por isso a celebrar e a agradecer a fidelidade e o amor a Deus de uma pessoa cristã, a Irmã Lúcia, uma mulher que se insere livremente na história de um Povo que acredita que Deus faz maravilhas e exalta os humildes, na história de um Povo que não quer desiludi-l’O.

Irmãos e irmãs!

Enquanto agradecemos tão grande dom para a nossa Igreja, contemplemos o grande e belo projeto de Deus para toda a humanidade e deixemo-nos livremente fazer parte desta história de amor e fidelidade, que tem um nome: santidade, a vocação comum de todos nós

Coimbra, 1 de julho de 2023
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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