Missa do Dia da Universidade de Coimbra 2022 - Homilia de Dom Virgílio

MISSA DO DIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
CAPELA DE SÃO MIGUEL - 2022.03.01

Caríssimos irmãos e irmãs!

Estamos a celebrar a Eucaristia no dia da Universidade de Coimbra, a ação de graças a Deus por esta realidade marcante na vida dos jovens estudantes e na vida da comunidade humana que se preparam para servir.

É também dia de ação de graças por todos os que aqui trabalham ensinam, estudam ou apoiam com o seu saber e a sua humanidade.

Todos juntos sentimos o dever de edificar um mundo de paz e de justiça, um mundo em que a vida seja possível e tenha as melhores condições, um mundo que respeita e promove a sua bondade e a sua beleza, aquilo a que chamamos a nossa casa comum.

S. Pedro, na primeira leitura, convida-nos a não nos conformarmos com os desejos de outrora, quando vivíamos na ignorância. Podemos supor pelas suas palavras que a ignorância é raiz de muitos males que nos afligem e destacamos, neste dia, de um modo especial a escalada da guerra, os atropelos à vida do nosso semelhante e a os ataques ao equilíbrio sustentável da terra que nos acolhe. Podemos também supor que o conhecimento e a sabedoria, que contrariam a ignorância e a insensatez, são proposta da cultura do progresso e caminhos para a justiça e a paz, numa procura incessante da realização humana mais plena de todos.

O texto do Evangelho segundo S. Marcos ao referir-se à mudança de perspetivas de vida pelos apóstolos e discípulos, que deixam o velho mundo da sua ignorância para seguir as vias da sabedoria de Deus, convida-nos a aprofundarmos tudo o que de bom a nossa humanidade nos oferece e a deixarmo-nos iluminar pelo Espírito de Deus que renova todas as coisas.

Numa atitude responsável, precisamos de nos por ao serviço destas realidades novas, sabendo que somos construtores de um mundo em que todos receberão “cem vezes mais, já neste mundo... e, no mundo futuro, a vida eterna”. Aceitamos esse desafio porque sabemos que, com conhecimento e sabedoria, iluminados pela graça de Deus, somos força de amor capaz de transformar o mundo e de dar a todos “cem vezes mais”, no tempo e, depois de ele passar, “a vida eterna”.

A escola, a universidade, bem integrada no tecido cultural, económico e social, em estreita ligação com a família, assume uma particular relevância neste percurso, porque é está radicalmente vocacionada para o conhecimento, a educação, o progresso a todos os níveis, para ser fator decisivo na promoção de verdadeira humanidade. Uma sociedade que luta contra a ignorância e promove o conhecimento, tem imensamente mais possibilidades de se edificar na verdade, na justiça e na paz.

Qualquer pacto educativo que possamos definir, não pode fechar-se nas questões meramente técnicas e científicas do conhecimento, mas tem de considerar tanto ou mais relevantes as dimensões culturais, sociais e éticas, uma vez que se trata de formar pessoas conscientes, livres, responsáveis e felizes e não somente técnicos, cientistas ou mentes racionalistas e frias.

O nosso mundo só pode salvar-se com pessoas integralmente bem formadas, em que a inteligência e o coração, o conhecimento e a humanidade não são mais realidades separadas, mas se fundem harmonicamente para continuar a gerar e aperfeiçoar a nossa originária condição humana.

A Universidade tem um papel único e insubstituível na formação da comunidade. Ela é uma escola de vida, a escola da vida e a escola para a vida. Espera-se que seja o tempo oportuno para os jovens se enraizarem na defesa de toda a vida humana e que os ajude a perceber a sua igual dignidade, numa atenção especial aos mais frágeis, aos mais pobres e aos que correm maiores riscos de ser deixados para trás.

A Universidade tem a missão de ser a escola da paz, assente na justiça e na oferta de possibilidades de desenvolvimento integral, que criem as condições de realização de todos. Nas variadas circunstâncias que o mundo tem vivido ao longo da sua história e n situação presente, voltamos a ver como este equilíbrio é sempre frágil e como são precisos homens e mulheres formados nos valores da paz e da justiça para que este caminho seja percorrido.

A Universidade é ainda a escola da ecologia integral, enquanto valor a preservar, no respeito pelo mundo em que habitamos e na busca do maior bem de todos. Assente no conhecimento científico e nos dados que apontam para os percursos de morte que inadvertidamente ou mesmo conscientemente se podem desenvolver, é urgente formar os jovens para as escolhas que se impõem e que têm o poder de transformar hábitos pequenos do dia a dia, mas também de definir mudanças altamente significativas para a sustentabilidade do planeta e de toda a vida que nele tem a sua morada.

Estamos num tempo em que a ignorância deve dar lugar ao conhecimento, em que a insensatez tem de dar lugar à sabedoria, em que as vias desumanizantes têm de dar lugar à verdadeira humanização.

Quando os Apóstolos se decidiram a seguir Jesus deixando para trás tantas outras realidades boas, precisaram de fazer uma escolha responsável e cheia de sabedoria. Ele significava para eles muito mais do que a procura imediata de sucesso ou do que uma aposta no bem pessoal. Jesus significava para eles uma abertura à bênção de Deus e ao bem dos outros enquanto critérios fundantes de um novo estilo de vida.

A proposta do Evangelho continua a ser a mesma, pois oferece-se como escola de vida, de paz e de justiça, de procura do bem integral de toda a humanidade que habita nesta casa comum.

Damos, hoje, renovadas graças a Deus por não cessar de nos oferecer os meios necessários para, de forma clarividente e sábia, ajudarmos as novas gerações a alicerçarem as suas vidas nos valores perenes e universais, nos valores do Evangelho proclamado por Jesus Cristo.

Coimbra, 1 de março de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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