Missa Vespertina da Ceia do Senhor - Homilia de Dom Virgílio

MISSA DA CEIA DO SENHOR
SÉ NOVA DE COIMBRA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Estamos muito sensibilizados com a onde de amor potenciada pela situação de extrema debilidade que varreu a humanidade em tempos e pandemia. No meio de tão grandes sofrimentos e males que tocam as pessoas e as famílias no mais íntimo da alma, no seu corpo e nas condições que enfrentam, a voz do coração tem-se feito ouvir falar mais alto. Não se resolvem todas as dificuldades e problemas, mas faz-se caminho sempre que saímos de nós para irmos ao encontro dos outros que jazem caídos à beira da estrada. Não se muda o mundo de um momento para o outro, mas estes são pequenos passos de alcance gigante na nossa história pessoal e comunitária.

Todos os que têm ousado arriscar a sua saúde e a sua vida para socorrer os necessitados produzem gestos de consolação e alívio para o seu próximo e são um testemunho da mais autêntica humanidade, que é a nossa identidade e dignidade comum, tanto dos que assistem, acolhem, cuidam e amam, como dos que são assistidos, são acolhidos, são cuidados e são amados.

Nesta menção, não podemos nem devemos privilegiar ou excluir nenhum grupo de pessoas, profissões ou vocações, pois da dimensão espiritual e religiosa à dimensão física, económica ou social, todos os campos onde se experimentam necessidades e debilidades são relevantes e em todos esses lugares se decide a alegria de viver ou, porventura, o desânimo que mata. No entanto, algumas pessoas, pelas funções que desempenham, têm estado mais no centro do furacão, tanto no âmbito familiar, como sanitário ou em lugares de acolhimento e residência de idosos e doentes.

A comunidade humana e a Igreja que somos, felicita e agradece a todos os que diante do sofrimento e da morte não recuaram um passo, mas avançaram com coragem e amor para a linha da frente, pararam para socorrer o irmão, a irmã, como seu verdadeiro próximo.

Nesta Missa da Ceia do Senhor, em Quinta-feira Santa, e num tempo tão especialmente denso de significado, é quase impossível não estabelecer uma relação próxima entre o sacrifício de Jesus Cristo, que se oferece ao Pai para dar vida aos homens, e o sacrifício daqueles que se oferecem quotidianamente para aliviar os males humanos muito concretos e que têm um nome e um rosto em cada pessoa.

Quando ouvimos Jesus dizer “isto é o meu Corpo... este cálice é a nova aliança no meu Sangue” e sabemos que aquele gesto ritual está suportado pela totalidade da sua vida, percebemos o valor da sua oferta. Quando acolhemos o seu convite “fazei isto em memória de Mim”, compreendemos que se trata de dar continuidade à celebração desse sacramento que nos deixou como memorial da sua paixão, morte e ressurreição, na Eucaristia. Mas compreendemos também que se trata de um pedido que sai do seu coração que ama e nos quer levar a oferecer a nossa vida em favor dos outros, um gesto que só pode sair do nosso coração que ama.

A verdade da Eucaristia torna-se mais evidente quando se dá a união entre o momento sacramental que celebramos, em que escutamos a Palavra, damos graças a Deus, oferecemos o Pão e o Vinho, o Corpo e Sangue de Jesus que por nós morreu e ressuscitou, e os momentos anteriores e posteriores de oferta de nós mesmos na vida quotidiana, em união com o mesmo Cristo.

Agradecemos, hoje, a Deus, por muitas vidas verdadeiramente eucarísticas, que se têm manifestado nestes tempos em que nos encontramos, e pedimos a graça de todos nos unirmos na oferta do sacrifício de Cristo, pela descoberta cada vez mais profunda da fé e da celebração do Sacramento do amor, que salva.

A Eucaristia é o sacramento do amor e a fonte da vida. De entre todas as realidades que experimentamos, esta é o maior mistério e nada a supera de tudo o que nos é dado celebrar e viver.

O amor de Deus, ao qual pode unir-se o amor da humanidade, foi-nos revelado por Jesus na véspera da sua paixão e morte, quando reuniu os seus discípulos para a ceia pascal e se ofereceu ao Pai. O pão e o vinho, o seu Corpo e Sangue, a sua vida, toda ela amor, redime e salva a humanidade, resgatando-a dos laços da morte em que jazia, consequência do seu pecado. Pelo amor podemos associar-nos a Ele. Manifestamo-lo quando promovemos a vida, dando a vida.

O gesto do lava-pés, narrado no Evangelho segundo São João, ajuda-nos a concretizar a atitude dos discípulos que são chamados a deixar-se purificar interiormente pelo amor de Deus. Nenhum de nós, seja qual for o seu estatuto, está dispensado de acolher esta purificação do coração, pois todos participamos do mesmo pecado de Adão, que se repercute em nós, nas nossas decisões, ações, pensamentos, palavras e omissões. Nem sequer os Apóstolos, escolhidos para levar a mensagem da salvação a todos os povos, a começar por Pedro, o primeiro deles, porque um só é o que purifica e salva, o Senhor Jesus Cristo.

Por sua vez, também ninguém está dispensado de acolher o mandamento do amor e o mandato do Senhor: “Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros”. O cumprimento deste preceito, unido ao do amor a Deus, traça as linhas da condição do cristão e define os contornos da grandeza da nossa fé e da nossa humanidade.

Eucaristia é mistério da caridade de Deus e impele-nos ao compromisso da nossa caridade, com contornos muito concretos e reais, de acordo com a nossa condição.

Esta Páscoa, que vivemos em tempos conturbados, há de levar-nos a um compromisso verdadeiramente eucarístico de celebrar e viver na caridade de Deus, que se tem de refletir na nossa caridade.

Como nos ensina a Primeira Epístola de João, “não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade” (1Jo 3, 18). É esse o testemunho de Jesus, e deve ser esse o nosso testemunho de amor que, unido ao Seu amor, salva o mundo.

A entrega de amor de todos os que estão junto dos mais pobres e sofredores, de todos os que se sacrificam nas famílias, na comunidade cristã ou nas várias instâncias da sociedade, não é em vão. Estão a lavar os pés aos seus irmãos e, dessa forma, a cumprir o mandato de Jesus Cristo, o Único Salvador.

Coimbra, 1 de Abril de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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