Natal do Senhor :: Missa do dia :: Homilia de Dom Virgílio (com Video)

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR 2021
MISSA DO DIA

Caríssimos irmãos e irmãs!

No Natal, quando chegou a plenitude dos tempos, “Deus falou-nos por seu Filho”, como ouvíamos na Epístola aos Hebreus. Trata-se de uma afirmação dirigida à razão humana, numa linguagem menos poética do que a do prólogo do Evangelho de João, que também escutámos, e menos marcada pelo aconchego do coração, que encontramos nos Evangelhos da Infância de Mateus e Lucas, que costumamos ouvir na missa da noite. Diferentes formas de exprimir o mesmo mistério de Deus que se cruza com o mistério do Homem, criado para conhecer e amar a Deus e por Ele encontrar a salvação que espera.

Para além da linguagem teológica sempre presente nos textos da Sagrada Escritura, há uma linguagem de alcance existencial, pois trata-se da Palavra ou mensagem de Deus, que queremos escutar ao longo da vida e é profundamente inspiradora em todas as situações que enfrentamos na nossa peregrinação sobre a terra.

Se ontem, na missa da noite, contemplávamos a beleza da ternura de Deus, que nasce na pobreza de belém, num cenário encantador de simplicidade e debilidade como é sempre o da vida que nasce, hoje somos chamados a confrontar a nossa pessoa e a nossa realidade com o amor e a misericórdia de Deus, de uma forma marcadamente adulta, responsável e comprometedora.

Surge espontânea em nós a questão: quando Deus nos falou por seu Filho o que nos disse naquele momento maior do nascimento de Jesus e o que nos diz em cada um dos momentos sucessivos, ou seja, naqueles em que agora vivemos e em que Ele está connosco?

Por meio do sinal de Jesus Menino no presépio, Deus mostra-nos, em primeiro lugar, o valor infinito de qualquer pessoa, mesmo daquelas que na sua pequenez são um sinal do seu amor criador e estão marcadas pela igual dignidade humana que a todos assiste.

A Igreja e a sociedade humana encontram naquele Menino a maior grandeza, que só com muita humildade se pode reconhecer. Faz-nos ser humildes e olhar para as pessoas com humildade, pois não somos mais do que os outros, não temos mais direitos que os outros.

Ao pensarmos nos discursos sobre a igualdade e a justiça temos em Jesus, o Filho de Deus deitado no presépio de Belém, a maior prova dessa certeza e a maior inspiração para os nossos esforços de construção de uma sociedade em que todos devem ser respeitados, amados e tratados como irmãos.

Em segundo lugar, Deus diz-nos que o cuidado com os mais pobres é o Evangelho vivo, mesmo para aqueles que, porventura, não tenham o dom da fé. Onde está uma pessoa pobre ou em situação de qualquer debilidade a precisar de apoio e carinho, de bens materiais ou de consolação espiritual, aí está Deus, que não exclui ninguém nem conhece fronteiras.

Todos os dias encontramos o Evangelho vivo nas ações de muitas pessoas que pensam nos outros, que são justas nas relações humanas, laborais, económicas, familiares e sociais. Quando alguém sai do seu espaço de conforto para consolar alguém, torna presente o próprio Deus – foi a Mim que o fizestes. Quando a caridade se torna a maior de todas as virtudes na vida de uma pessoa, Deus torna-se presente, porque Ele é caridade, Ele é amor.

Deus diz-nos, em terceiro lugar, que havemos de olhar com mais realismo para a nossa condição, a fim de reconhecermos que todos precisamos uns dos outros, porque marcados pelo signo da vulnerabilidade, que não nos diminui, mas antes nos engrandece.

As situações de sofrimento, como a que atravessamos em tempos de pandemia e em tantas outras circunstâncias, ajudam-nos a compreender como os nossos sonhos podem ser fúteis e enganosos e como ninguém está acima da situação de debilidade que carateriza todas as criaturas. Nem o poder, nem o dinheiro, nem a saúde são eternos ou todo-poderosos, mas têm autênticos pés de barro. Não há autossuficiência que resista a todas as catástrofes pessoais, familiares ou sociais. Só nos salvamos uns com os outros e só nos salvamos quando salvamos os outros.

O Menino Jesus, débil e indefeso apesar da sua condição divina, oferece-se humildemente como o sinal inspirador da nossa capacidade de estarmos ao lado uns dos outros como pais, mães e irmãos, como inspiração e caminho para vencermos as nossas tentações de egoísmo. Na sua pobreza e na sua humana pequenez Ele é o nosso salvador.

No Natal, Deus quer ainda dizer-nos que todos têm direito a ser felizes e que esse é o seu maior sonho e desejo.

Ao incarnar no seio da Virgem Maria, uma pobre de Israel; ao nascer em Belém no estábulo dos animais, um lugar pobre e inapropriado; ao ser conhecido em primeiro lugar pelos pastores, pessoas de pouca relevância social; ao confiar a sua mensagem a homens pecadores como somos todos nós, Jesus faz saber que veio para todos e que ninguém pode ser excluído da sua proposta de felicidade e salvação.

Deus continua ainda hoje a dizer que todos têm direito a ser felizes e propõe-nos como carta magna da mensagem de Jesus o anúncio da felicidade ou da bem-aventurança, ensinando-nos o caminho para a alcançar.

Finalmente, Deus, no presépio, diz que a esperança é sempre possível. Nas trevas, abriu-se um raio de luz, segundo a linguagem dos profetas; nas ruínas de um povo, irrompem sinais de alegria; num mundo entristecido e perdido pelos seus erros e desventuras, surge o mensageiro da alegria; no desânimo, gera-se o gosto de viver.

O presépio é o lugar da esperança, porque a Vida que nele se encontra é a maior esperança: “a vida era a luz dos homens”, referia o Evangelho de João aludindo ao Verbo Incarnado e já presente no meio de nós.

Estamos precisados de esperança, daquela esperança que nos leva a fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos levantarmos e nos pormos a caminho, mas confiando sempre, pela fé, no amor de Deus, do qual nada nos pode separar, que nos leva a vencer todas as dores e nos abre as portas de um presente e de um futuro cheios de luz.

Neste Natal, em que a nossa Igreja Diocesana de Coimbra vive no contexto de um Plano Pastoral voltado para os jovens, deixo-lhes o especial desafio de serem um sinal do Deus Menino que fala a todos e que lhes fala diretamente a eles com o amor próprio de um Irmão a falar aos seus irmãos.

Que os nossos jovens estejam sempre disponíveis para mostrar o Jesus simples e humilde do presépio aos outros jovens; que, pela sua capacidade de consolação e presença fraterna, sejam sinal de Deus na vida dos seus amigos; que, pela sua alegria e gosto de viver a fé, contagiem os outros jovens e lhes abram a possibilidade de vislumbrarem a esperança maior, aquela que o Natal de Jesus nos oferece.

Coimbra, 25 de dezembro de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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