XII DOMINGO DO TEMPO COMUM (A)
ORDENAÇÃO DE PRESBÍTERO – VÍTOR PAUSEIRO
O sacerdócio está no coração de Cristo Crucificado. Ele nasce do lado aberto de Cristo pregado na cruz, donde corre toda a graça, toda a paz e todo o amor que Deus, como Pai, tem para dar aos seus filhos.
O sacerdócio está no coração de Cristo Ressuscitado. Ele nasce da vida que Cristo que comunicar aos que renascem para a vida por meio do batismo.
O sacerdócio está no coração de Cristo Bom Pastor. Ele nasce da sua missão de salvar a humanidade, cuidando do Povo que o Pai lhe deu para o levar à da salvação.
De tal maneira o sacerdócio está no coração da Igreja e das comunidades cristãs que elas rezam continuamente pelas vocações sacerdotais e por aqueles que Deus chamou, escolheu, ungiu e enviou para darem continuidade à missão de anunciar o Evangelho, partilhar o Pão da Vida e convocar a assembleia cristã para o louvor e para a prática da caridade com os irmãos.
Hoje damos graças a Deus pelo sacerdócio ministerial que Jesus deixou na sua Igreja e queremos dar graças por todos e cada um dos que aceitaram esta vocação a partir da fé em Deus e do amor à Igreja, disponíveis para dar continuidade ao ministério de Jesus em favor de todos. Hoje damos graças a Deus por aqueles que Jesus uniu a Si a fim de darem continuidade à Sua missão, particularmente no tempo em que vivemos, na Igreja em que vivemos e com os rostos que conhecemos na proximidade das comunidades.
Neste dia de ordenação de um novo presbítero para a Igreja de Coimbra, deixo uma palavra de gratidão e encorajamento ao Vítor Pauseiro pela decisão de abraçar Cristo e a missão da Igreja; deixo uma palavra de felicitação e reconhecimento a todos os presbíteros da nossa Diocese, pela sua entrega, fidelidade e grande espírito de sacrifício no exercício do ministério em condições a todos os títulos difíceis. Que nenhum de vós desista do amor de Deus, da busca contínua de uma mais profunda vida em Cristo, de um serviço melhor, mais livre e mais dedicado ao povo que vos foi confiado.
Por sua vez, dirijo-me também ao Povo de Deus, repartido pelas diversas comunidades, paróquias e unidades pastorais, para lhes assegurar que o amor a Cristo leva sempre ao amor aos seus sacerdotes e conduz sempre a estar presente e ativo na Igreja onde cada um assume a sua vocação e missão. Sendo a Igreja dom de Deus, ela é casa de todos, é construção do Espírito com a colaboração de todos, é comunidade de partilha dos dons recebidos, onde todos devem ser queridos e amados, no respeito por cada um e pela vocação que recebeu. Agradeço às comunidades a disponibilidade para construírem a Igreja com muito trabalho e dedicação e agradeço-lhes também a amizade que nutrem pelos pastores que lhes foram enviados e o suporte humano e espiritual que lhes dão nestes momentos em que mais precisam.
O Evangelho agora escutado oferece-nos três certezas, que partilho convosco.
Em primeiro lugar, a confiança em Deus, que acompanha toda a nossa vida e cuida de nós, como um Pai. Esta confiança nasce de uma amizade que Ele nos oferece como verdadeira proposta de amor. Quanto mais caminharmos nesta relação pessoal de amizade com Jesus, que nos ama incondicionalmente, mais a nossa vida se enraíza n’Ele e mais nos sentimos acompanhados nas nossas alegrias e dores.
Em segundo lugar, pensamos no cuidado pessoal que Deus tem connosco, porque nos conhece e nos acolhe como seus filhos. Somos o seu Povo Santo, mas Ele trata-nos como pessoas com a sua identidade própria e não nos trata simplesmente como uma massa humana indiferenciada. Acreditamos que Jesus deu a sua vida por mim e por todos, olha por mim e pelos outros, cuida de mim e dos meus irmãos com um amor eterno, como só Deus pode amar e cuidar, uma vez que Deus, amando a um e a outro infinitamente, pode amar a todos sem esgotar o seu amor divino.
Em terceiro lugar, tomamos consciência de que somos peregrinos na busca da verdade da fé e da vida como modo de assumirmos a grandeza do dom que que nos foi dado, bem como a liberdade e a responsabilidade que nos foram confiadas. Quando nos declaramos por Cristo a partir da fé que Deus nos concedeu, assumimos até às últimas consequências uma vocação e uma missão, que manifestam o nosso desejo íntimo de acolhermos a salvação que Ele nos oferece para partilhar.
A vocação do sacerdote encontra nas palavras de Jesus proclamadas no Evangelho os seus caminhos de concretização.
A vocação sacerdotal nasce sempre de um encontro com o amor de Deus, a partir de uma relação pessoal experimentada na Igreja. É um caminho que tem o seu início às vezes de forma tranquila e linear, mas outras vezes de forma inesperada e no meio de grandes turbulências. De uma forma ou de outra, torna-se um percurso que nunca mais pode ter um fim, uma vez que o amor e a fidelidade andam sempre juntos e se mantêm num contexto de relação pessoal de amizade, caraterística da fé em Jesus Cristo. O segredo da fidelidade para sempre, encontra-se no amor, que de Deus recebemos e diariamente vivemos no encontro com Cristo e na dedicação aos irmãos.
A vocação sacerdotal constitui um sinal de que Deus cuida de mim porque me conhece e me ama incondicionalmente, apesar das minhas debilidades e pecados. Precisa o sacerdote de uma redobrada humildade para reconhecer o dom que recebeu, a bondade de Deus que lho concede, e para dia após dia se manter seguro e confiante nas mãos do mesmo Deus. No cuidado de Deus por mim enquanto sacerdote, radica a minha vocação para cuidar dos outros, como irmãos e como filhos, realização da vocação de pastor, atento a cada um e a todos os que Deus pôs no meu caminho.
A vocação sacerdotal manifesta sempre que somos chamados a ser servos da verdade, servos de Deus, servos da Igreja e servos da humanidade. É enquanto servos que Deus nos convida a darmos a nossa vida, num processo de entrega e dedicação inspiradas por Jesus, Aquele que está disponível para ser um só a dar a vida por muitos. De facto, a vocação sacerdotal só pode ser retamente acolhida por quem está disponível para dar a vida por amor. As motivações humanas boas, são necessárias, mas não são suficientes nem preenchem o requisito fundamental para aceitar a vocação sacerdotal, a saber: a experiência do amor de Deus que chama para servir e dar a vida segundo o estilo de Jesus e no seguimento de Jesus.
Caríssimo Vítor, entrega-te totalmente nas mãos de Deus, que te amou, te chamou e te envia como presbítero da Igreja. A nossa Diocese de Coimbra acolhe-te com muita estima e gratidão; esperamos que sejas um pastor que cuida de cada pessoa com zelo humano e cristão, segundo o coração de Cristo; reza para que o ministério sacerdotal que hoje recebes pela imposição das mãos e pela unção do Espírito Santo ajude a muitos a conhecerem Cristo e a serem muito felizes.
Entrega-te diariamente ao cuidado e proteção da Virgem Maria, a Mãe da Igreja e de todos os sacerdotes que recebem a graça de se configurar com a Pessoa de Seu Filho Jesus Cristo. Nós rezamos por ti, reza também por nós e oferece a Deus o sacrifício pascal no culto e na vida, sempre na caridade.
Coimbra, 25 de junho de 2023
Virgílio do Nascimento Antunes, bispo de Coimbra