Ordenação diaconal de António José Sebastião - Homilia de Dom Virgílio

ORDENAÇÃO DIACONAL DE ANTÓNIO JOSÉ JESUS SEBASTIÃO
XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM B
SÉ NOVA DE COIMBRA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Quis Deus dar-nos um novo diácono para servir o Seu Povo, que caminha na nossa Diocese de Coimbra. Será no futuro um presbítero a juntar-se àqueles que já animam e conduzem as comunidades cristãs, a anunciar a Boa Nova da Salvação, a celebrar os mistérios da fé e a tocar, com as mãos e o coração de Deus, as pessoas que esperam esse contacto humano e divino.

Como os pobres do Evangelho e como Porção deste Povo Santo de Deus, acolhemos felizes e agradecidos esta oferta do Pai da misericórdia, do Cristo redentor e do Espírito santificador. Estremecemos de comoção sempre que a Palavra de Jesus, vem e segue-Me, ecoa e encontra resposta fiel, amiga e generosa no coração de alguém, sempre que se levanta alguém para dizer “sim” com amor humano ao amor divino que se lhe manifesta irresistível e poderoso, apesar de sempre proposto e não imposto, discreto e não ruidoso.

A Igreja Diocesana de Coimbra reconhece, hoje, solene e alegremente, que Deus a acompanha com a solicitude de um Pai, que Deus a chama a uma fé viva, que Deus a envia ao mundo vasto de homens e mulheres marcados por inúmeros sentimentos, escolhas, ritmos e rumos de vida. Reconhecemos que somos Igreja de Deus, damos-lhe graças por isso e comprometemo-nos de novo a percorrer a vocação à santidade, a nossa vocação comum e a nossa vocação maior.

Este mistério do encontro de Deus com cada pessoa, no mais íntimo de si mesma, que a leva a dar-Lhe a totalidade das suas forças e a entregá-las no serviço aos irmãos em nome da fé cristã, na Igreja e no mundo, não tem outra explicação senão a graça do mesmo Deus, que encontra acolhimento humilde e verdadeiro na inteligência e na vontade de alguém.

Esta decisão, que inclui e preenche a totalidade da vida de uma pessoa, é, de facto, um grande mistério, acessível a qualquer um, por estar inscrita na nossa comum condição de criaturas de Deus e por termos recebido as sementes do Verbo, que nos abrem ao Criador e nos enviam para a convivência fraterna com todas as outras criaturas.

O Apóstolo S. Paulo depois de elogiar a comunidade a que se dirige, toda a Igreja, destaca a fé, a eloquência, a ciência e a caridade que a animam. Depois, faz um forte apelo à generosidade, própria de quem partilha a condição humana com todos os outros e de quem está alicerçado no Cristo que se fez pobre por nossa causa e para nos enriquecer com a sua pobreza.

A generosidade é, em si mesma, uma realidade inscrita em todas as pessoas, que se constroem na relação com as outras pessoas com quem partilham a sua vida, a sua pobreza de criaturas, para enriquecer este tecido humano, social e eclesial que somos. A fé está sempre no início, no meio e no fim de todo o percurso, mas não dá frutos de fraternidade e de serviço se não é engrandecida pela decisão pessoal, se não é potenciada pela generosidade.

Muitas pessoas com fé fecham-se em si mesmas, pensam em curar-se e salvar-se a si mesmas, desejam até uma vida pessoal santa e segura, mas carecem da generosidade que as poderia levar a aproximar-se dos outros e a realizar essa mesma fé em modo de serviço. Nessa altura, a eloquência e a ciência procuradas, são para consumo próprio – ficam a falar consigo mesmas num discurso para autoconsumo; a caridade fica-se por gestos de satisfação pessoal e apaziguamento da consciência, negando-se a si mesma, uma vez que carente do seu endereço único, o próximo, os outros, aqueles que Deus ama e pelos quais, em Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre.

Sem fé pessoal e amadurecida, não há vocações; sem caridade, não há vocações; mas sem a generosidade, que exprime a fé e caridade e lhes dá o dinamismo do serviço; também não há vocações. A generosidade consiste em dar o passo seguinte: tenho fé em Deus, acredito no seu amor, ofereço a minha pobreza para com ela enriquecer a Igreja.

Recordamos a passagem do Evangelho em que o jovem rico responde a Jesus decididamente acerca da fé que possui, acerca dos mandamentos e acerca da sua condição religiosa sincera. No momento em que Jesus lhe oferece o desafio seguinte, “vem e segue-Me”, afastou-se por outro caminho. Não deu o passo decisivo, faltou-lhe a generosidade para se entregar totalmente. Ficou, porventura, com a mesma fé, continuou talvez a conhecer a eloquência e a ciência dos mandamentos de Deus, realizou certamente algumas obras de caridade, mas guardou para si o melhor que possuía. Faltou generosidade para o seguimento integral de Jesus, pois esta implica a inteligência, a vontade, o coração, as mãos, o corpo e o espírito, ou seja, a totalidade da pessoa.

Estamos a preparar um plano pastoral, que pretende envolver toda a nossa Diocese numa atenção especial aos jovens, ao seu crescimento na fé e ao seu discernimento vocacional. Desejamos que toda a Diocese se sinta em comunhão de fé e de objetivos pastorais, uma vez que é necessário um novo impulso evangelizador dos crentes e não crentes.

Os caminhos a percorrer hão de incluir todos os elementos necessários a uma pré-evangelização, que contam com o despertar das caraterísticas inatas que eles possuem, como são a sua grande humanidade, os seus anseios por mais e melhor, os seus desejos de superação e de edificação de uma sociedade mais justa e fraterna. Convocar os jovens e propor-lhes programas de descoberta e crescimento, são urgentes.

Oferecer-lhes lugar na Igreja, momentos e lugares de encontro são frequentemente o princípio de uma simpatia que abre caminho ao anúncio claro e explícito de  Jesus Cristo. Não nos podemos ficar pela atração humana, embora ela seja necessária, nem pela ação concreta, que pode ter muitas modalidades. Os jovens precisam de conhecer Aquele mesmo Jesus que conheceu o chefe da sinagoga ou a mulher doente que nos apresentava o Evangelho. Eles precisam de encontros salvíficos com o Mestre, que diz “a tua fé te salvou”, “Eu te ordeno, levanta-te”, pois, por dentro, podem estar a definhar da doença ou da morte espiritual, que tanto afeta a alegria de viver e de amar.

A fé cristã, proposta com verdade, nas ações evangelizadoras, orantes, litúrgicas e sócio-caritativas, precisa de ter qualidade tanto humana como espiritual. E eles terão a humildade necessária para aderir e seguir o Mestre, na Igreja, a partir da sua generosidade caraterística. Quando um jovem quer dar-se na totalidade a partir da fé em Jesus Cristo, encontra na vocação cristã e nas vocações específicas o melhor lugar de entrega.

As vocações sacerdotais são sempre o fruto desse encontro de fé do qual brota a generosidade e o serviço aos irmãos, que precisam desse toque divino que cura, ressuscita e salva. Se um jovem cheio de entusiasmo dá a sua pobreza, acolhe com alegria a abundância e a riqueza do dom de Deus.

Caríssimos jovens, este é o momento oportuno para as grandes decisões de fé. Não é amanhã nem num futuro próximo ou distante, quando estiverem preenchidos todos os requisitos ou satisfeitas todas as condições que, normalmente, fazem adiar as respostas.

Caríssimos irmãos e irmãs, leigos, consagrados, diáconos e presbíteros, com o testemunho da nossa fé e da nossa generosidade, abramos-lhe todas as possibilidades que Deus lhes quer oferecer, neste tempo de graça que o nosso Plano Pastoral e a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 nos trazem.

Coimbra, 27 de junho de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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