Vigília Pascal na Noite Santa - Homilia de Dom Virgílio

VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA
SÉ NOVA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Nesta Vigília Pascal na Noite Santa acompanhamos Jesus Cristo que sai vitorioso do túmulo. Diante do amor manifestado na sua entrega, na paixão de toda a sua vida e na sua morte, o Pai não ficou insensível e calado, mas respondeu com o mesmo amor, o amor divino.

Jesus orou instantemente ao Pai durante o desenrolar do seu ministério, quando anunciava a Boa Nova, perdoava os pecados e curava todas as doenças e enfermidades entre o povo, como orou intensamente no Getsémani e no alto da cruz. A sua confiança no amor do Pai de quem vinha e para quem voltava, nunca O deixou desanimado, mas sempre O fez entrar mais intimamente nessa comunhão do amor de Deus, que nunca se esgota.

A ressurreição de Jesus constitui a confirmação que foi dada de que a sua oração foi atendida. Deus não podia deixar o Filho entregue ao poder da morte, pois Ele cumpriu sempre e em tudo a vontade do Pai, como meditámos quando acompanhámos o seu percurso narrado pelo Evangelho, especialmente na Quinta e na Sexta-feira Santas.

O amor de Jesus manifestou-se, a Sua obra foi realizada, a Boa Nova foi anunciada, os pecados foram perdoados, os doentes foram curados, as multidões foram saciadas, os corações foram consolados. A missão de Jesus estava consumada, a sua vida terrena, como tudo o que a preencheu, estava entregue, a humanidade tinha visto o grande sinal. No entanto, esse sinal estaria incompleto e ficaria-se-ia por uma dimensão terrena, material, psicológica, social e imperfeita se a promessa da vida eterna não tivesse o seu cumprimento.

Nesta Vigília na Noite Santa, celebramos a força da oração de Jesus ao Pai, que foi atendida, a autenticidade da sua relação de comunhão com o Pai, que não era uma estratégia nem um último recurso de quem caiu na desgraça, mas sim o triunfo do amor de Deus sobre tudo o que oprime e mata.

Por este motivo, estamos a celebrar o mistério pascal como o mistério da fé, a entrar no sinal maior, o que fora referido por Jesus diante dos seus opositores: destruí este templo e em três dias o reedificarei; o Filho do Homem estará três dias no seio da terra, mas ao terceiro dia ressuscitará dos mortos. Este é o terceiro dia, que se torna a manhã do primeiro dia da semana, a aurora do amor e da vida eterna para todos nós, que o acolhemos na fé.

Jesus não nos disse que esqueçamos a totalidade da vida, com a entrega dolorosa no amor e com a paixão e a morte, que pesam duramente sobre nós, mas diz-nos que podemos confiar no Pai, pois Ele, com amor divino, sempre responderá à nossa oração. Deus terá  a última palavra diante da nossa paixão e diante da morte, e a sua palavra é a ressurreição de Jesus, porta aberta para a Vida Eterna e promessa da nossa própria ressurreição, como ouvíamos na Epístola os Romanos: “Se, na verdade, estamos totalmente unidos a Cristo por morte semelhante à sua, também o estaremos por uma ressurreição semelhante à sua”.

Esta é a verdadeira entranha do cristianismo, este é o verdadeiro âmago da nossa fé, esta é a Boa Nova de Jesus para nós e o Evangelho que nos mandou acolher e anunciar a todos os povos da terra. Por outras palavras, podemos dizer que esta é a verdade que distingue a fé cristã de todas as outras crenças ou sistemas religiosos e, inclusivamente, de todas as expressões de humanismo que povoam os caminhos da humanidade - e são muitos os caminhos que o Espírito vem sugerindo ao longo dos séculos como lugares de aproximação à fé em Cristo e a Deus, por meio da busca do bem, do amor e da verdade.

No entanto, como ensinou o Concílio vaticano II, “o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”, e, uma vez que Cristo morreu por todos, “o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido” (Gaudium et Spes, 22).

A páscoa anuncia a certeza de que a oração da Igreja e a nossa oração de cristãos é escutada. Deus não nos abandona ao poder da morte, antes, como Pai de amor, assim como escutou a oração de Seu Filho, escuta a nossa oração, provinda do mais fundo do nosso coração de filhos.

Quando falamos de oração, falamos de toda a vida do cristão, uma verdadeira paixão orante, animada pela confiança em Deus. Os momentos litúrgicos e celebrativos, os silêncios diários na calma do lar ou na azáfama laboral, os tempos de escuta e de diálogo apaixonado passados a sós ou na comunidade, dão o sentido crente à nossa vida, manifestam e fazem crescer a nossa fé. Não podemos, por isso, prescindir dessa dimensão orante, sob pena de nos excluirmos da comunhão com Deus, Aquele que atendeu as preces de Seu Filho e atende as nossas preces. Se prescindimos da dimensão orante reduzimos a fé a um sentimento e a Igreja a uma sociedade, fazemos da ação pastoral uma técnica e da caridade uma mera ação social. A oração no Espírito que reza em nós dá-nos o sentido sobrenatural e cria em nós os laços de comunhão efetiva com Deus e com a Igreja.

A marca distintiva do cristão é a sua atitude orante, que o situa na comunhão com Deus e na comunhão e solidariedade com os irmãos. Quando rezamos uns com os outros, uns pelos outros e por toda a humanidade, unimo-nos à oração de Jesus, que veio para dar vida, numa comunhão total e numa solidariedade universal.

A caridade, como atenção, auxílio, cuidado para com os irmãos faz parte da nossa atitude orante, pois é atuação concreta e visível da nossa comunhão e solidariedade para com aqueles que Deus quer salvar.

Os tempos duros que estamos a experimentar dão-nos a oportunidade de orar pela humanidade nas suas debilidades de toda a espécie por meio do louvor e da súplica dos nossos lábios confiantes e crentes, e dão-nos a possibilidade de orar pela humanidade nas suas dores por meio da caridade em ato.

Na pandemia que nos assola ou fora dela, o cristão acompanha Jesus que ora ao Pai por toda a humanidade que quer salvar, no culto e na caridade, sempre firme na confiança de que é escutado e de que Ele responde com a oferta da vida nova pela ressurreição.

Como será a Igreja depois desta pandemia e depois desta Páscoa? Só pode ser uma Igreja mais orante na assembleia que celebra os mistérios da fé e uma Igreja mais orante na comunidade que testemunha a caridade de Deus para com os irmãos.

Feliz e Santa Páscoa!

Coimbra, 3 de Abril de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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