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DEVER DE
INFORMAR |
in Ecclesia,
9/3/2004
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Está
em Portugal o primeiro advogado a ter avançado com processos
contra médicos que não informaram mulheres que abortaram sobre as
consequências negativas desse acto. Vem para participar num colóquio sobre “Direito à informação na saúde
reprodutiva”.
Charles Francis, jurista australiano, revelou à
Agência ECCLESIA a sua convicção de que “quanto mais se
souber a verdade, menos abortos haverá”. O advogado luta, desde
1996, para que os médicos informem as mulheres dos “riscos que o aborto envolve”.
“Tudo começou quando a Ellen (nome
fictício) chegou ao meu escritório, deprimida e incapaz de
trabalhar, lamentando-se de nunca ter sido informada dos riscos
psicológicos que um aborto envolvia”, recorda Francis. O caso
avançou com a clínica que fez o aborto a ser acusada de negligência, tendo as partes chegado a acordo “por uma quantia
razoavelmente grande”, assegura o advogado.
Desde então outros
casos se sucederam, chegando aos EUA e à Inglaterra, com a novidade
de, a partir de 2000, a acusação juntar à negligência a ausência de
informação sobre o aumento do risco de sofrer cancro da mama que
está
associado ao aborto.
Babette Francis,
licenciada em Microbiologia e esposa de Charles, lidera o “Endeavor Forum”, uma ONG com estatuto consultivo especial junto do Conselho
Económico e Social da ONU.
“Os movimentos pró-vida já trabalham para defender a vida do bebé mas queremos
também olhar para a questão do ponto
de vista da mãe e fazê-la perceber que o aborto é igualmente mau para ela
própria”, assegura à Agência ECCLESIA.
Além de acentuar a ligação
entre o aborto (em especial na primeira gravidez) e o risco de
sofrer de cancro da mama (ver
Abortion and Breast Cancer), Babette
Francis lembra que há outras sequelas, como “hemorragias,
perfuração, infecções, esterilidade, risco de futuros bebés serem
prematuros, depressão e trauma pós-aborto”.
Apesar de toda esta
quantidade de inconvenientes, os dois reconhecem que “quem está a
promover o aborto fá-lo pelo dinheiro e não está interessado em
esclarecer as mulheres”. Aliás, o casal mostra-se chocado por, neste
caso, a cirurgia não ser considerada “a última opção”.
“Esta é a
área da prática médica em que mais informação relevante é
deliberadamente escondida às mulheres e em que mais se ignora o
seu verdadeiro interesse”, acusam.
A experiência dos Francis, na luta
contra o aborto, permite-lhes afirmar que a implementação de medidas
de apoio à gravidez, de tempos de “espera” antes do aborto e de uma
adequada instrução sobre as consequências que o acto acarreta, ajuda
a diminuir drasticamente o seu número, apresentando como exemplo “os
dados disponíveis nos EUA”.
“Também é fundamental que trabalhemos com a mulher, promovendo um
olhar a longo prazo sobre a sua vida: há que fazê-las pensar no que elas
serão daqui por 20 anos depois de perderem o filho
que agora querem abortar”, esclarece Babette Francis. |
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