I
"SAIU O SEMEADOR A LANÇAR A SEMENTE"
1. Jesus Cristo
encarnou e veio à terra "para trazer à unidade os filhos de
Deus que andavam dispersos" (Jo 11,52).
Com esse intuito fundou a Igreja, que está no mundo para fazer
crescer o Reino, numa atitude de fidelidade ao seu Mestre e ao
homem.
Esta missão primordial da Igreja, Paulo VI a reafirmou de modo
categórico: "Evangelizar constitui, de facto, a graça e a
vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela
existe para evangelizar" (Evangelii Nuntiandi, nº 14).
Olhando para os tempos de hoje, o II Concílio Ecuménico do
Vaticano afirmou: "No estado actual das coisas, de que surgem
novas condições para a humanidade, a Igreja, que é sal da
terra e luz do mundo, é com mais urgência chamada a salvar e a
renovar toda a criatura, para que tudo seja instaurado em
Cristo e n'Ele os homens constituam uma só família e um só
Povo de Deus" (Ad Gentes, nº 1).
Nesta e outras passagens do Concílio, e mais ainda em
múltiplos textos de João Paulo II, se acentua a urgência de a
Igreja se empenhar mais decididamente em ir ao encontro das
pessoas, nomeadamente das que não conhecem Cristo ou, tendo-O
conhecido, O esqueceram.
2. O número
destas aumenta de ano para ano. O seu afastamento leva à
diminuição da comunidade crente e praticante. Mas não deve ser
o impacto da sua redução numérica o primeiro motivo para a
Igreja sair a evangelizar. Este consistirá no mandato do
Senhor e no amor pelas pessoas: "Ide…proclamai o Evangelho" (Mc
16,15); "Ide às saídas dos caminhos e convidai para as bodas
todos quantos encontrardes" (Mt. 22,9).
Assim, para ser fiel ao Evangelho não basta que uma comunidade
cristã se preocupe apenas consigo mesma, e ponha em prática
bons propósitos, aliás indispensáveis, como os de aprofundar a
fé dos seus membros, melhorar a qualidade das celebrações,
preservar a vida cristã dos seus fiéis.
"Ide" é a ordem do Senhor, que disse também "Eu estarei
convosco".
Recolhendo da parábola do Semeador esta mesma determinação
divina, concluiremos que, para semear, é preciso "sair" de
casa e ir para o meio do terreno.
Este mandamento de Cristo torna-se hoje mais premente,
porquanto vivemos numa sociedade onde as convicções e a vida
das pessoas, enquadradas por estruturas e costumes
materialistas, se afastam cada vez mais do Evangelho.
Por isso, o Papa não se cansa de nos lançar para uma "nova
evangelização"; e, bom conhecedor de que ela supõe entusiasmo
e fé, deu-nos aquela palavra que é a matriz deste nosso Plano
Diocesano de Pastoral: "Igreja, faz-te ao largo" (Novo
Millennio Ineunte, nº 1).
3. O mar do
pescador evangélico ou o campo da sementeira representam o
mundo com toda a sua complexidade. A sociedade do nosso tempo,
com valores e desvios, aparece-nos marcada sobretudo pela
mudança. Talvez por isso, talvez porque a estabilidade é mais
atraente que o risco, os cristãos parecem ter dificuldade em
dialogar com aqueles que pensam e vivem de modo diferente.
Mas o mesmo Concílio Vaticano lembra-nos, sobretudo na
Constituição "A Igreja no mundo actual", que Deus ama as
pessoas do nosso século como amou as do passado, sintetizando
no final do texto: "A vontade do Pai é que reconheçamos e
amemos efectivamente a Cristo em todos os homens" (Gadium et
Spes, n. 93).
A Diocese de Coimbra, que experimenta agora tão rápidas
mudanças sociais e religiosas, é o campo aberto para onde
Cristo nos chama a semear o Evangelho.
4. "A semente é
a Palavra de Deus" (Lc. 8,11). Por indiferente que pareça o
nosso mundo à verdade de Jesus Cristo, é dela que tem
necessidade. Mas importa que lhe demos semente verdadeira; que
seja doutrina evangélica aquela que queremos semear. Por isso,
este Plano Pastoral, que nos impele para acções generosamente
apostólicas, pede a indicação de conteúdos genuínos e
pressupõe a formação cuidada dos semeadores. Os conteúdos
doutrinais serão os da sã doutrina da Igreja. Haverá o cuidado
de elaborar e publicar textos que ajudem a apresentá-los de
modo justo, actual e atraente.
5.
Por último lembremos os semeadores.
O primeiro é o próprio Senhor Jesus, que veio ter connosco
enviado pelo Pai. Ele mesmo mandou os seus Apóstolos, cujos
nomes e vidas ficaram nos alicerces desta Igreja Mãe a que
temos a alegria de pertencer (Ap 21,14) Pelo baptismo que ela
nos deu, fomos "enxertados em Cristo" e tornámo-nos, com Ele,
profetas para o nosso tempo; Deus Pai unge-nos, pelo Espírito
Santo, com o Crisma da Salvação, para que permaneçamos,
eternamente, membros de Cristo, sacerdote, profeta e rei
(Ritual do Baptismo).
Por isso todo o baptizado é enviado E evangelizador.
A Diocese de Coimbra espera que o sejam, de modo convincente,
os seus leigos mais comprometidos, especialmente os que foram
instituídos em ministérios laicais, os que integram conselhos
paroquiais e os que pertencem a movimentos apostólicos.
Correspondendo ao pedido mais insistente que se recolheu das
Assembleias preparatórias do Plano, a formação dos cristãos,
formação cuidada e actualizada, feita em níveis diferentes,
formação doutrinal, espiritual e pedagógica, será uma
constante durante os cinco anos previstos para o Plano.
Semeadores serão também alguns organismos diocesanos que
adiante se referem, bem como as comunidades cristãs e outros
grupos existentes.
II
GÉNESE E DIMENSÕES DESTE PLANO PASTORAL
6. Reunir os
filhos de Deus que andam dispersos, anunciar-lhes Jesus
Cristo, nosso Salvador. Alimentá-los com as fontes da graça,
encaminhá-los para a casa do Pai…será o plano universal da
Igreja ao longo de todos os séculos.
Mas, para o realizar, nós que somos limitados e dispersos,
temos de fazer o que também o Evangelho nos propõe:
sentarmo-nos e deitar contas, antes de começarmos a construir
a torre ou sairmos para o combate (Lc 28,32). Que é mais
urgente? Que verdades é necessário lembrar? Que estruturas
importa cristianizar? Quem são os que trabalham?…
Ao longo do ano pastoral, a Diocese reflectiu, em assembleias
representativas, estas e outras questões. E foram bastante
coincidentes as respostas.
Tendo-as presentes e dando sequência à Carta Pastoral "A
sombra dos seus ramos", publicada há um ano pelo Bispo da
Diocese, elaborou-se o Plano Pastoral para os anos que vão de
2002 a 2007.
Um Plano supõe os caminhos a percorrer e os meios a adoptar.
As acções concretas irão sendo determinadas em programas
sucessivos para cada ano, que poderão variar conforme os
lugares e as pessoas de que dispomos.
7. O XII Sínodo Diocesano de Coimbra e já antes o
Congresso Diocesano dos Leigos fizeram suficiente análise da
situação sociológica, cultural e religiosa da nossa Diocese. E
foi também cuidada a reflexão teológica e pastoral que então
se desenvolveu e publicou.
Por isso mais do que reflectirmos é hora de actuarmos.
Prolongar demasiadamente análises e reflexões poderá ser uma
fuga a "sairmos para semear"…Que em todas as paróquias e
outras comunidades se vença esta tentação.
8. Não queremos
enredar-nos em análises, mas não podemos ignorar a realidade.
Conhecê-la, tê-la presente, é condição indispensável para bem
semear. Antes de julgar e agir, importa ver.
Jesus referiu campos que são caminhos pisados, pedragais,
terras de espinho. Sem os ignorar, olharemos sobretudo para as
terras abertas à semente…
As populações, a vida social, a família, estruturas marcantes
na nossa Diocese como as escolas ou a saúde, são agora um
campo aberto que nos interpela…
9. Pretende-se
que este Plano Pastoral seja conhecido por cristãos de todos
os níveis culturais. Por isso se cuidou de não alongar a sua
redacção, simplificando a apresentação dos objectivos, dos
obreiros ou evangelizadores e dos meios a empregar. Textos
complementares ajudarão a concretizar e cumprir, com a luz e a
força do Espírito Santo, aquilo que nos propomos.
III
O PLANO DE PASTORAL PARA A DIOCESE
A - Um grande objectivo
10. Conforme se
explicitou na primeira parte, os cristãos da Diocese de
Coimbra sentem o apelo que a Palavra de Deus lhes fez, perante
a sociedade em que vivem, nas vilas e aldeias tal como nas
cidades: é preciso ir ao encontro das pessoas e testemunhar- -
lhes o Evangelho. É preciso que as comunidades cresçam como
cresceu o grão de mostarda, de modo que a árvore cative as
aves para a sombra dos seus ramos (Mt 13,32)
Por isso, respondendo ao apelo que João Paulo II faz à Igreja
no começo do milénio, a Diocese de Coimbra toma como seu
grande propósito, para os próximos cinco anos, a ordem do
Senhor Jesus: Sair, para "lançar a semente". Sair para levar a
todos a fé num Deus que é Pai e a alegria da vida com seu
Filho.
11. Todas as
estruturas sociais são campo aberto à sementeira e todas as
pessoas hão-de merecer o nosso interesse em ajudá-las no
caminho para Deus.
Todavia, queremos ser fiéis ao trabalho feito nas assembleias
preparatórias do Plano, que reuniram representantes das
Regiões Pastorais, dos Consagrados, dos Movimentos
Apostólicos, Serviços Diocesanos e Clero. Assim, indicam-se
quatro campos da vida da sociedade e da Igreja que se
escolheram como aqueles em que vai incidir a nossa acção.
Nada se exclui de tudo quanto é válido e ninguém se despreza
dos bons e maus sobre quem o Pai do Céu manda o sol e a chuva
(Mt 5,45). Mas a importância do que eles representam para a
evangelização, levou a que desejemos concretizar o grande
objectivo de lançar a semente primeiramente em ordem a:
- Ajudar a família
- Evangelizar os jovens
- Servir os que mais sofrem
- Fomentar o diálogo entre a fé e a cultura.
B - Os Campos escolhidos
12. Para cada
um destes quatro sectores da actividade pastoral da Igreja
Diocesana de Coimbra, elaborou-se um projecto pastoral, que se
apresenta de modo sucinto, referindo os respectivos contextos,
objectivos, prioridades, agentes privilegiados e meios.
a. Ajudar a família
13.
Contexto
Vivemos num época da história caracterizada por profundas
alterações de hábitos culturais e sociais, em que a mudança
parece ser a única coisa que é verdadeiramente estável…
Neste contexto - nem bom nem mau, mas bem diferente do
tradicional - a família, como célula-base e fundamental da
organização da sociedade, é naturalmente afectada pelas
mutações que a envolvem, abalando-a até na sua essência. Esta
mudança manifesta-- se não só em novas formas de
relacionamento entre os seus membros, mas também em novas
situações: famílias monoparentais, uniões de facto, segundos
casamentos e outras.
E, se até há alguns anos atrás as consequências desta crise
abrangiam quase exclusivamente famílias pouco receptivas à
mensagem cristã, hoje em dia são já muitos os lares cristãos
também afectados por este ambiente de secularismo e
permissividade.
É para esta situação nova e diversificada que a Igreja deve
orientar a atenção dos cristãos, de modo a ajudar as famílias
e a torná-las protagonistas da própria mudança.
14.
Objectivos
Tendo em conta esta realidade, apontamos com principais
objectivos d intervenção da Igreja diocesana na área da
família:
- ajudar as famílias a serem comunidades de vida, de amor e de
fé e espaços de humanização;
- proporcionar às famílias cristãs condições e apoio para
serem evangelizadoras de si mesmas e de outras famílias;
- prestar atenção e ajuda às famílias em situação difícil;
- lutar por uma legislação e condições sociais que respeitem e
promovam a dignidade da família e dos seus membros.
15.
Prioridades
No âmbito destes objectivos, consideramos como prioridades
pastorais as seguintes áreas:
- preparação dos noivos para o casamento;
- acompanhamento dos casais novos;
- acompanhamento dos casais em situação difícil.
16.
Agentes Principais
- casais pertencentes a movimentos de espiritualidade
familiar;
- equipas da Pastoral da Família a nível arciprestal ou de
unidades pastorais; importa dinamizar as já existentes e criar
outras;
- padres e leigos com melhor preparação na área familiar;
- movimentos de espiritualidade familiar.
17.
Meios a adaptar e acções a promover
- implantação de centros de preparação de noivos para o
matrimónio, em todos os arciprestados ;
- elaboração de um plano de formação de animadores e de
casais;
- constituição de Centros de Aconselhamento Familiar;
- continuação, valorização e alargamento de actividades
costumadas, como retiros e encontros.
b. Evangelizar os jovens
18.
Contexto
Para a Igreja, tal como para a humanidade, os jovens são a
esperança. Inquietam- - nos, mas trazem renovação. As
comunidades cristãs necessitam da sua presença.
O mundo juvenil tem uma presença grande e relevante na Diocese
de Coimbra. São muitos os que se reconhecem como cristãos, mas
é preocupante o número daqueles que, tendo conhecido Jesus
Cristo. D'Ele se esqueceram.
Verifica-se, porém, que, não obstante uma prática irregular,
são bastantes os que se ligam à paróquia e nela desempenham
alguma actividade, como catequistas, cantores, escuteiros,
membros de movimentos e de outros grupos juvenis; sobretudo
são numerosos os que na sua paróquia caminham até ao crisma.
19.
Objectivo
Ir ao encontro dos Jovens para que conheçam Cristo e Ele viva
nos seus corações, em experiência autêntica de fé.
20.
Prioridades
- criar grupos que acompanhem os jovens no seu crescimento
pessoal integral;
- educar para os valores, tendo Jesus Cristo como modelo;
- lançar os jovens para a vivência de um compromisso em
Igreja, transmitindo aos seus colegas de grupo, e sobretudo de
escola, os valores que nos definem como seguidores de Jesus
Cristo.
21.
Agentes
Serão realizadores privilegiados deste plano as pessoas e
estruturas de que a Diocese dispõe ligadas à pastoral juvenil:
Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil, Secretariado
Diocesano da Educação Cristã, Movimentos Juvenis, Animadores
de Grupos de Jovens, Catequistas e outros.
Contudo, os grandes evangelizadores deverão ser, com a ajuda
daqueles, os próprios jovens.
Acrescente-se a importância de haver adultos, padres e leigos,
que a Diocese prepare e forme neste evangelização e liderança.
22.
Meios
Dependem bastante da imaginação e da criatividade os meios a
usar na concretização deste Plano. Dê-se relevo aos seguintes:
- formação humana, espiritual e teológica dos líderes,
nomeadamente através do Ciclo de Formação Trienal, conduzido
pelo Secretariado da Juventude;
- envolvimento de grupos na revitalização de outros grupos;
- trabalho com os pais e animadores dos crismandos, na altura
do Crisma;
- comprometimento de jovens em acções de responsabilidade, na
escola, na paróquia e a nível regional.
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