Em Janeiro de 2001 esteve em Portugal o Pe. Peter West dos “Padres pela
Vida” (Priests for Life). Percorreu todo o país, de Braga ao Algarve a
explicar o que é a sua instituição, quais as actividades que realiza nos E.U.A.,
e o que padres e leigos podem fazer também em Portugal em defesa da vida humana.
Mais tarde pusemos-lhe algumas questões.
O que são os “Padres pela Vida”? Qual é a vossa missão?
“Padres pela Vida” é uma Associação de Fiéis formada por padres que
visa encorajar os nossos colegas padres a porem em prática essa dimensão do seu
ministério sacerdotal que envolve a defesa da vida humana, especialmente das
grandes ameaças a que está sujeita hoje – o aborto e a eutanásia. Os Padres pela
Vida estão abertos a todas as pessoas de boa vontade que se queiram juntar a nós
nesta luta.
O propósito dos Padres pela Vida é o de infundir a estrutura que já
existe na Igreja Católica com o vigor, o entusiasmo, e os melhores recursos para
pôr em prática esta missão de defender a vida.
Os Padres pela Vida prosseguem este objectivo ajudando os padres que já
estão envolvidos activamente no movimento pró-vida, dando-lhes apoio e os
recursos que precisam para defender a vida eficazmente. Os Padres pela Vida
ajudam a construir uma “rede” de padres pelo país que podem ajudar-se uns aos
outros, compartilhando ideias, recursos e experiências que digam respeito ao seu
ministério pró-vida.
Um segundo aspecto da missão é o de dar assistência a padres que podem
estar hesitantes em falar sobre o aborto e sobre a eutanásia. Por meio de
literatura e cassetes, seminários e assistência pessoal directa, a associação
Padres pela Vida pode ajudar um padre a identificar os seus receios, incertezas,
ou equívocos sobre as questões envolvidas ou sobre o próprio movimento pró-vida.
Uma das nossas publicações, por exemplo, é “Padres, Enfrentemos os Medos Sobre o
Aborto”. A publicação fala sobre vinte e dois tipos de medos, descobertos no
decurso dos seminários que damos a padres por todo o país, e dá respostas claras
e construtivas às dúvidas que esses medos podem causar.
O terceiro aspecto da missão dos Padres pela Vida é o de ajudar os
padres a trabalharem com os grupos pró-vida, e também ajudar os grupos pró-vida
a trabalharem com os seus padres. Desde o início dos Padres pela Vida tem havido
um forte apoio por parte dos leigos, e a associação tem membros auxiliares
leigos. A queixa de que os padres não falam muito sobre o aborto é ouvida com
frequência. Os Padres pela Vida ajudam activamente os grupos e pessoas leigas a
transformarem a frustração, o desapontamento e a zanga que possam sentir, num
esforço construtivo de perceberem e trabalharem com o seu clero. Algumas das
nossas brochuras, gravações e seminários falam sobre isso.
Quais são as principais actividades dos Padres pela Vida?
Os Padres pela Vida dirigem seminários para padres e diáconos, para
dar-lhes informação sobre o aborto e a eutanásia, e ideias sobre o que eles
podem fazer para construir uma cultura de vida. (...) O nosso boletim
informativo é recebido por cerca de 40.000 padres e 50.000 leigos. Temos uma
página web, à qual foi atribuído um prémio, que recebe diariamente 7000
visitantes. Esta página web é actualizada quase todos os dias. Também produzimos
numerosos panfletos, cassetes áudio e vídeo que visam ajudar-nos a proclamar a
verdade da santidade da vida. Os nossos padres viajam principalmente nos Estados
Unidos a promoverem a mensagem pró-vida. Falamos dentro das escolas, Igrejas e
em todo o lado onde sejamos bem recebidos. Promovemos alternativas ao aborto,
como a cura e a reconciliação pós-aborto, ajudando aqueles ou aquelas que se
envolveram no pecado do aborto a encontrarem a cura e a paz. Procuramos também
as pessoas de outras religiões que queiram defender a santidade da vida. O nosso
trabalho situa-se maioritariamente nos Estados Unidos, mas temos esperança de
que padres de outros países formem associações semelhantes e estamos desejosos
de os ajudar a começarem.
Pensa que defender a vida – da concepção
à morte natural – é uma missão para toda a Igreja Católica ou só para
alguns padres e leigos que se possam sentir mais inclinados para essa missão? O
Santo Padre tem dito alguma coisa sobre isso?
Defender a vida é missão de toda a Igreja, não somente dos padres ou de
movimentos específicos. Os padres em especial precisam de tomar a liderança da
defesa da vida dentro da Igreja e na sociedade, mas lutar pela vida é uma tarefa
essencial para todos aqueles que se consideram seres humanos
decentes.
Na sua carta Encíclica “Evangelium Vitae” ou “O Evangelho da Vida”,
entregue no dia 25 de Março de 1995, o Papa João Paulo II escreveu “O
Evangelho do amor de Deus pelo homem, o Evangelho da dignidade da pessoa e o
Evangelho da vida são um único e indivisível Evangelho.”
A 14 de Fevereiro de 2000, quase cinco anos após o lançamento do
“Evangelium Vitae” ele disse: “Um plano pastoral pela vida genuíno não pode ser
simplesmente delegado aos movimentos específicos que operam no campo
socio-político, por mais mérito que estes tenham. Terá que ser sempre parte
integrante do plano pastoral eclesial, que tem a responsabilidade de fazer
avançar a proclamação do “Evangelho da Vida”. Com vista a levá-lo efectivamente
à prática, é importante tanto pôr em prática planos educativos, como serviços e
estruturas de acolhimento concretos.”
Algumas pessoas – tanto leigos como
padres – talvez sintam que se falarem abertamente contra o aborto podem magoar
ou ofender mulheres que o tenham feito, ou outras pessoas que tenham estado
envolvidas num. Talvez pensem que se devem calar por amor ao próximo. O que é
que pensa sobre isto?
Nós pregamos sobre o aborto para SALVAR essas mulheres, e também para
proteger outras de cometerem o mesmo erro. Uma carta recebida duma mulher que
fez um aborto suplica-nos para NÃO termos medo de tratar deste tema
publicamente. “Eu não consigo parar de pensar, se eu tivesse ouvido dizer na
igreja que o aborto estava errado... eu talvez tivesse feito a opção de ficar
com o meu bebé em vez de o matar”. Ao mesmo tempo que condenamos a prática do
aborto, também proclamamos o perdão
e a cura interiores. Os peritos no tratamento pós-aborto dizem-nos que é
absolutamente ESSENCIAL que a mulher “pare de usar os mecanismos de defesa, tais
como a negação, auto-repressão, e a racionalização do aborto. (Dr. Philip Mango,
“As Consequências do Aborto e o Seu Tratamento”, Agosto 1990)”. Ela tem de
enfrentar o facto de que o seu bebé foi morto. Nós podemos ajudá-la no seu
caminho para a cura proclamando a verdade sobre o aborto e a realidade do
perdão. Quando falamos sobre o aborto, estamos a dizer-lhe “Nós preocupamo-nos”.
O nosso silêncio diz-lhe “Nós não nos preocupamos”.
Podia falar-nos brevemente sobre o Projecto Gabriel?
O Projecto Gabriel
ajuda mulheres grávidas em risco por meio de uma rede de igrejas numa cidade. No
exterior de cada igreja é colocado um sinal que diz que é prestada toda a ajuda
a uma mulher que considere estar nessa situação. As mulheres são convidadas a
telefonarem para um número telefónico de apoio. À mulher é atribuído um “anjo
Gabriel” que actua como seu confidente. Este “anjo Gabriel” dirige-se ao pároco
ou a outro padre a quem tenha sido atribuída a tarefa. O padre depois apresenta
as necessidades da mulher às pessoas da paróquia. Isto é muito semelhante ao que
fazem os centros de apoio a grávidas, mas a diferença é que as pessoas na Igreja
ajudam através da Igreja, e a mulher que é ajudada sabe que a ajuda vem da
Igreja. E as pessoas que estão lá, que acreditam na vida, que acreditam que o
aborto é errado, passam realmente das palavras actos, fazem o que há a fazer,
ajudam-na, e dão tudo o que ela necessitar. Os que levaram o Projecto Gabriel à
prática descobriram que o que as mulheres precisam sobretudo é de apoio
emocional. Mas por vezes precisam também de apoio financeiro, de transporte, de
ajuda médica, qualquer coisa que aquela comunidade eclesial pense que ela
precise para que a sua vida se mantenha estável nesse espaço de tempo, para que
possa dar luz o seu bebé.