O arcebispo primaz de
Honduras e cardeal de Tegucigalpa, Oscar Andrés Rodríguez
Maradiaga, afirma que a actual crise económica tem importantes
repercussões no desenvolvimento das famílias mas, ao mesmo
tempo, para enfrentar este momento, a unidade familiar é um
factor determinante.
Eis o que disse este Cardeal
que é também presidente da Cáritas Internacional, depois
de sua participação no VI Encontro Mundial das Famílias (EFM),
celebrado no México no passado mês de Janeiro.
– Qual é a problemática
que mais preocupa a Igreja hoje em dia?
– Cardeal Rodríguez
Maradiaga - A própria família: ela é o ponto principal, a
opção mais importante da vida do ser humano; por conseguinte,
entra nas preocupações que temos: como fazer para que as
pessoas cada vez mais se preparem para esta opção de vida.
Todas as coisas grandes são preparadas, não se improvisam, mas
muitas vezes a maior opção da vida, que é o amor e a família,
é improvisada de uma maneira assustadora. Às vezes temos
famílias que começam por um erro e não por uma opção em
liberdade. Preparar esta opção de vida é talvez o maior
objectivo de toda a evangelização e da Pastoral da Família.
– O acha do evidente
processo de pobreza e de desigualdade que a América Latina
sofre e que em muitos casos freia o desenvolvimento integral
das famílias?
– Cardeal Rodríguez
Maradiaga - No Encontro Mundial das Famílias, um
especialista em economia nos expôs as consequências que a
falta de família tem no desenvolvimento económico para a
própria pobreza. Com estudos e estatísticas, foi-nos
demonstrado que a saúde física e a mental é melhor em famílias
completas do que em famílias monoparentais ou desintegradas. A
pobreza é muito pior em famílias desintegradas que nas
famílias completas. Assim se tocaram diversos aspectos, por
exemplo, na educação superior, e nos obstáculos que surgem
quando há pais divorciados. São aspectos que a imprensa
comenta muito pouco e vale a pena lembrar isso.
Fala-se do papel educativo
da família; alguns o reduzem à educação escolar. Aqui se
sublinhou o que significa a educação moral na família, a
educação espiritual, os aspectos económicos e os testemunhos
do pai de família, quando no meio das vicissitudes da vida é
capaz de acompanhar com heroísmo a família. Estas são riquezas
inexploradas e que vale a pena dar a conhecer, porque há
pessoas que sofrem e ao conhecer estes testemunhos se sentem
fortalecidas.
A pobreza é uma realidade
que vai crescendo em nossos países ao invés de diminuir. Agora
temos esta crise financeira tão grande e se prevê que ela terá
muitas outras consequências.
– Alguns dizem que os
países pobres o são porque não regulam a natalidade. Muitos
governantes dirigem as suas forças contra a pobreza em
políticas de controle da natalidade...
– Cardeal Rodríguez
Maradiaga - Estas políticas de controle de natalidade são
na realidade de eliminação da natalidade. Contemplam só uma
das perspectivas. Pensa-se que somos pobres porque temos muita
população e isso é um sofisma. A população é necessária para
que haja desenvolvimento económico; há um país na América
Latina que foi o primeiro, já na década de 50, a aplicar
reduções de natalidade, e o que aconteceu nesse país? Não pode
crescer e, por conseguinte, não tem consumidores para que haja
empresas prósperas, tudo tem de ser importado de outros
grandes países e esse país tem apenas uma economia de
subsistência, não um desenvolvimento, como deveria ser.
A Igreja fala claramente da
paternidade e maternidade responsáveis; a transmissão da vida
é uma grande responsabilidade dos pais, não é produto de
qualquer desordem; é uma grande responsabilidade, assim como
também os governos têm a grave responsabilidade de procurar o
bem comum de todos os cidadãos, e se há cidadãos que deveriam
ser privilegiados são os pobres e não os que mais têm. E este
é o motivo pelo qual a Igreja, que é Mãe, insiste
profundamente, na sua doutrina social, em que a família não
pode ser tratada como um elemento que não entra na
problemática social.
Na doutrina social da
Igreja, a família é muito importante porque nela se toca muito
de perto tudo o que se refere à problemática social. A Igreja
fez sempre o pedido aos governos de que se preocupem também
com as famílias pobres. |