O que são os métodos de
auto-observação?
Os métodos de
auto-observação são métodos de Planeamento Familiar segundo os
quais o casal usa os dados que a mulher obtém através da
observação de sinais que o seu corpo lhe dá sobre a sua
fertilidade, para regular o nascimento dos seus filhos
conforme o seu projecto de vida.
Pode explicar
brevemente os métodos de auto-observação mais significativos?
O Método Billings (ou
Método da Ovulação) foi desenvolvido pelos Drs. Billings,
um casal de médicos australianos. O Dr. John Billings foi o
primeiro a reconhecer e verificar cientificamente a
importância do muco cervical para a fertilidade da mulher.
Este muco é produzido nas criptas do colo do útero na fase do
ciclo menstrual em que o aparelho reprodutor se prepara para a
ovulação, e é essencial para a sobrevivência dos
espermatozóides no corpo da mulher. Sem muco fértil os
espermatozóides não sobrevivem. A mulher pode aprender a
observar este muco que, pela força da gravidade, desce na
vagina e aparece na vulva, parte exterior da vagina, e assim
averiguar a fase do ciclo menstrual em que está fértil. Convém
sempre que a mulher seja ajudada por alguém com experiência
neste campo a interpretar as suas observações até se sentir
segura.
O Método da Temperatura
foi desenvolvido nos anos 1920 quando se descobriu que após a
ovulação a temperatura basal da mulher sobe uns décimos de
grau. A mulher tira a sua temperatura todas as manhãs antes de
se levantar. Quando verifica que a temperatura subiu 3/10 em
relação à sua média baixa, se manteve alta durante três dias e
não tem mais do que 1/10 de diferença entre a primeira e a
terceira temperatura, sabe que já se deu a ovulação e que
entrou na fase infértil do seu ciclo. No entanto, como a
temperatura não indica o início da fase fértil este método não
deve ser usado por si só, mas sim em conjunto com a observação
do muco cervical.
O Método Sintotérmico
combina a observação do muco fértil com a medição da
temperatura e a interpretação de outros indicadores de
fertilidade.
O LAM (“Lactational
Amenorrhea Method” ou Método da Amenorreia na Lactação)
pode ser usado no pós-parto durante o período de amamentação.
É baseado no facto de a hormona segregada durante a
amamentação, a prolactina, inibir a ovulação. Para seguir este
método têm de estar reunidas várias condições: o bebé ter
menos de 6 meses e ser exclusivamente amamentado, sem
suplementos nem outras “papas”, e a mãe não ter tido nenhuma
perda de sangue após a cessação dos lóquios. Nestas condições,
a taxa de eficácia do método é de 98%. No entanto, se a mulher
tem prática na observação do muco fértil e continua com essa
observação nesta fase, a taxa de eficácia aumentará pois
notará logo algum sinal de retorno da fertilidade. Pode
precisar de algum apoio técnico nesta fase.
O Método do Calendário (de
Ogino-Knauss, das contas ou da tabela) já não é
considerado um método de planeamento familiar. Não tem bases
científicas e não tem validade.
Métodos de
auto-observação, métodos naturais, planeamento familiar
natural: são tudo sinónimos?
Todos estes termos descrevem o
mesmo grupo de métodos. Actualmente prefere-se o termo
“métodos de auto-observação”.
Qual a eficácia dos métodos de
auto-observação relativamente à dos métodos artificiais?
A eficácia do Método
Billings e do Método Sintotérmico é comparável à
eficácia da pílula. Os estudos demonstram uma eficácia de
99,2% para a pílula quando esta é tomada seguindo todas as
indicações e de 99% para os métodos de auto-observação quando
o casal está motivado, foi bem ensinado e segue as regras.
[ver caixa]
Mas não se
ouve tantas vezes dizer que os métodos naturais são pouco
eficazes? Porquê?
Infelizmente existe
muita ignorância sobre a evolução científica no campo do
planeamento familiar natural. A maioria das pessoas acha que
só existe o método das contas (ou de Ogino-Knauss). Os meios
de comunicação social estão muito mal informados neste campo e
são raros os artigos sobre planeamento familiar que descrevam
correctamente os Métodos de Auto-Observação. Infelizmente
identificam estes métodos como “Métodos de Igreja”, pensados
para que as pessoas tenham muitos filhos! Ora a Igreja defende
uma paternidade responsável e não “tem” métodos de planeamento
familiar podendo, no entanto, recomendar certos métodos como
sendo aqueles que melhor defendem os seus valores. Não são só
os valores da Igreja que são respeitados pelos utentes dos
métodos de auto-observação, mas também valores ecológicos. São
muito procurados por mulheres que estão “cansadas” dos métodos
artificiais.
Além disso os métodos de
auto-observação não dão dinheiro a ninguém pois não há nada
para vender. No entanto, talvez os piores “inimigos” destes
métodos sejam aqueles casais que os usam sem os ter aprendido
devidamente e, ao terem uma gravidez “não planeada”, não
assumem a sua ignorância perante aqueles que os rodeiam,
preferindo “culpar” o método usado.
Os métodos
naturais, relativamente aos artificiais, trazem benefícios ou
prejudicam a saúde?
Os
métodos naturais são totalmente inócuos em relação à saúde
porque não interferem com o funcionamento normal do aparelho
reprodutor. Embora não se possa dizer que tragam benefícios
para a saúde — a mulher não se vai tornar mais saudável
simplesmente porque usa estes métodos — têm uma grande
vantagem: a mulher, por vir a conhecer tão bem o seu corpo e o
seu ciclo menstrual, detecta logo qualquer anomalia, o que a
pode levar a procurar apoio médico precocemente e assim evitar
que o problema se torne mais grave. (...)
O Planeamento
Familiar Natural é apenas uma forma de evitar ou espaçar os
filhos, ou acaba por ser uma filosofia de vida a dois?
Realmente aquilo que começa
muitas vezes por ser simplesmente “um método” torna-se numa
filosofia de vida. O uso dos métodos de auto-observação obriga
a uma comunicação constante entre o casal. Quase diariamente
precisam de falar sobre a sua vida a dois, as suas
prioridades. Tudo o que estimula a comunicação entre o casal é
positivo. Com estes métodos olham um para o outro de frente,
aceitando-se mutuamente no seu todo, que inclui a sua
fertilidade, gerindo-a responsavelmente. O marido muitas vezes
maravilha-se com a beleza e a complexidade do ciclo da sua
mulher. Em cada ciclo, ambos são confrontados com o facto
maravilhoso de poderem ser os co-criadores de um novo ser
humano, se assim o desejarem.
Qual a
utilidade dos métodos para quem tem problemas de
infertilidade?
A taxa de casais inférteis tem
vindo a aumentar no mundo ocidental. O “stress” que muitas
mulheres e homens sofrem no seu dia-a-dia afecta o
funcionamento do aparelho reprodutor. Habituámo-nos de tal
maneira a “controlar” a nossa fertilidade que achamos que
basta querer engravidar para que isso aconteça, mas muitas
vezes não é assim e o casal torna-se ansioso.
Uma mulher que usa os métodos de
auto-observação aprende a conhecer o seu corpo e sabe
identificar os dias mais férteis do seu ciclo em que é mais
provável que engravide. Nem todos os ciclos são ovulatórios e
nesse caso é importante saber identificar aqueles que são. Ao
acompanhar vários casais de noivos na sua aprendizagem dos
métodos tem-nos sido possível identificar pequenas anomalias
nos ciclos que se resolveram com tratamentos simples, evitando
que o casal chegasse mais tarde a um estado de angústia por
não conseguir engravidar. Sem esta observação dos sinais de
fertilidade nunca teriam dado por isso.
Como é que um casal pode aprender os
métodos em Portugal?
Ao
contrário de muitos outros países, há poucos locais onde se
ensinem os métodos de auto-observação em Portugal. Era óptimo
que mais pessoas se oferecessem para receber formação como
monitores destes métodos. É importante que quem ensina seja
também utente, embora não tenha de ser profissional de saúde.
Na zona de Lisboa organizam cursos [tanto em Lisboa como em
outros pontos do país]:
Movimento de Defesa da Vida
Rua da Beneficência, 7 -1º, Lisboa
Tel. 21 799 4530
Email: mdv@clix.pt
Fundação Família e Sociedade
Rua Viriato, 23 – 6.º Dto, Lisboa
Tel. 21 315 2657;
Email:
familia.sociedade@netc.pt
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