Homilia da Missa da Ceia do Senhor 2014

“Fazei isto em memória de Mim”.

A mais antiga narração da instituição da Eucaristia, na Última Ceia, que ouvimos ler na Primeira Epístola aos Coríntios, repete a exortação, “fazei isto em memória de Mim”. Esta insistência de Jesus pretende transmitir aos seus discípulos o desejo de imitação do Mestre, pois essa é a única memória que lhes aproveita.

A memória que Jesus nos convida a fazer é uma memória viva, eficaz, sacramental, que realiza aquilo que significa e que opera a salvação que proclama por meio das palavras e dos gestos litúrgicos. A memória de Jesus que a Igreja preserva, atualiza o mistério da sua entrega ao Pai, a oferta do seu Corpo e do seu Sangue por todos nós. Por meio da Igreja, sacramento Universal da Salvação, Jesus, o Único Salvador continua a fazer chegar a sua salvação a todos os povos da terra.

Todos nós que celebramos a Eucaristia, em Igreja, podemos participar desse mistério e levar outros a conhecê-lo, a amá-lo e a participar dele. Somos servos numa Igreja Serva, portadores dos maiores e mais excelentes dons. Somos sinal da salvação oferecida a toda a humanidade.

A liturgia deste dia leva-nos a conhecer os diferentes modos que temos de realizar o mandato do Senhor, o de fazer memória da sua paixão, morte e ressurreição, celebradas na Última Ceia, que hoje comemoramos.

Trata-se, em primeiro lugar de uma memória litúrgica. Reunimo-nos hoje, cada domingo, muitas vezes ao longo do ano litúrgico, como assembleia cristã, para celebrar, na fé, a entrega de Jesus ao Pai. Repetimos as fórmulas sacramentais sobre as espécies do pão e do vinho: “isto é o meu Corpo”, “este cálice é a nova aliança no eu Sangue”; por elas e pela força do Espírito Santo, o Senhor torna-se presente e nós podemos participar da graça do encontro salvador.

Realizar este gesto sacramental é algo de essencial à vida da Igreja, pois ela não existe nem subsiste sem esta presença sacramental e real de Cristo morto e ressuscitado. Fazer memória litúrgica da paixão, morte e ressurreição de Cristo é condição de vida para a comunidade cristã; enquanto Corpo de Cristo, ela não vive sem a Eucaristia.

Em segundo lugar, fazemos memória de Jesus Cristo morto e ressuscitado pelo anúncio do Seu Evangelho, ou seja, no trabalho de evangelização, igualmente essencial na vida da Igreja.

O mandato de Jesus, “ide por todo o mundo e anunciai a boa nova a toda a criatura”, está também compreendido na sua exortação da Última Ceia, completada com as palavras: “todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”.

Juntamente com a Eucaristia, a Igreja sempre venerou a Palavra da Escritura como verdadeira Palavra de Deus, que deve ser proclamada, acolhida, rezada e vivida. Particularmente no nosso tempo, caraterizado por um crescente desconhecimento de Deus e por uma grande ausência de fé, o anúncio explícito, ousado e firme, contrastante com tantas outras palavras, desafiador de atitudes novas, é uma urgência reconhecida pela voz da Igreja.

A nova evangelização, com novo ardor, novos métodos e novas experiências, não pode ser adiada, pois toda a Igreja é, por natureza, missionária. Na família, na escola, na comunicação social, no espaço litúrgico ou na catequese, é preciso fazer memória da páscoa de Cristo por meio da palavra e do anúncio. Sacerdotes, consagrados e leigos, numa atitude de corresponsabilidade pastoral, temos como primeira missão a evangelização.

 

O evangelho da Missa da Ceia do Senhor faz-nos ir mais longe e não nos permite ficar pela celebração do culto cristão ou pela evangelização por meio de palavras, mas aponta-nos o amor e o serviço aos irmãos, que são uma só coisa, como o elemento unificador de tudo o que somos em Cristo e de tudo o que vivemos na Igreja e no mundo.

A forma mais completa e mais perfeita que temos enquanto cristãos e enquanto Povo de Deus de fazer memória do seu Corpo entregue e do seu Sangue derramado é a caridade com que nos amamos.

Levantar-se da mesa, tirar o manto, tomar uma toalha e pô-la à cintura, lavar os pés aos discípulos, e enxugá-los com a toalha, são os passos descritos pelo Evangelho de João, que nos falam de toda a vida de Jesus mais do que de um simples momento.

Este é o modo de ser de Jesus, Mestre e Senhor, no serviço e no amor aos seus irmãos. Esse é o modo de ser dos seus discípulos, dos que O seguem e que deixou bem expresso na exortação conclusiva: “dei-vos o exemplo, para que assim como Eu fiz, vós façais também”. No gesto de lavar os pés aos discípulos como atitude de toda a vida exprime-se o significado quotidiano dos gestos e palavras da Última Ceia: isto é o meu Corpo, isto é o meu Sangue; na exortação, “também vós deveis lavar os pés uns aos outros”, revela-se o sentido existencial do mandamento da Última Ceia, “fazei isto em memória de Mim”.

A Páscoa revela-se, assim, como celebração da fé, como anúncio do Evangelho da salvação e como vida no amor, as três componentes da memória que fazemos do Senhor Jesus, morto e ressuscitado.

Que a contemplação dos mistérios deste dia nos levem a um compromisso sério e profundo com o Senhor, dispondo-nos a oferecer-nos com Ele pela salvação do mundo, acolhendo os apelos de anunciar o Evangelho a toda a terra e fazendo de todas as nossas atitudes uma expressão de amor e serviço.


Coimbra, Sé Nova, 17 de abril de 2014

 

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