Homilia da Solenidade de São Pedro e São Paulo - Ordenações Presbiterais

ORDENAÇÕES SACERDOTAIS NA SÉ NOVA DE COIMBRA

Irmãos e irmãs!

A nossa Igreja diocesana de Coimbra está em festa, porque o Senhor olhou para nós com o seu coração rico de misericórdia e chamou dois membros da nossa comunidade para o sacerdócio ministerial, na ordem do presbiterado.
Hoje, ecoam de novo neste lugar as palavras de Jesus outrora pronunciadas junto ao Lago da Galileia, quando passou e viu alguns homens ocupados com as tarefas quotidianas e, cheio de misericórdia, quis que andassem com Ele de perto para os associar ao seu ministério de pastor: vem e segue-Me! O mesmo Senhor passou pela nossa terra, olhou com bondade para dois jovens, o André e o Manuel, chamou-os nas circunstâncias comuns da sua vida; tocou-os com sua graça e quis associá-los a Si, para que, permaneçam consigo, entrem na sua intimidade e partam a proclamar a Boa Nova do Reino de Deus.
Conhecer o amor do Senhor, ouvir a sua voz, acolher o seu chamamento e pôr-se a caminho é um milagre da graça, que só Deus pode realizar. Damos-lhe graças por tomar a iniciativa e agradecemos-lhe por suscitar no coração e na vontade destes dois jovens o desejo de O seguir pelo caminho do sacerdócio: obrigado, ó Deus, obrigado, André, obrigado, Manuel, obrigado, caríssimos irmãos, familiares, formadores, comunidades cristãs, Povo de Deus, pelo apoio, pela oração e pelo testemunho de fé, que nos permitiram chegar a este dia e contar com dois novos membros no presbitério diocesano.

A Solenidade litúrgica de S. Pedro e S. Paulo, que estamos a celebrar, conduz-nos ao âmago daquilo que é a vocação sacerdotal dentro do contexto eclesial em que Jesus chama e envia os seus escolhidos.
O nosso discurso sobre vocações acentua frequentemente a dimensão individual do encontro, do chamamento e da vontade de seguir o Mestre. Se toda a vocação é pessoal, porque toda a fé é pessoal e é fruto de um encontro efetivo com Cristo, que toma a iniciativa e dá a graça do seguimento, ela dá-se sempre na comunidade cristã e tem um essencial significado eclesial. Nunca se trata de uma relação exclusiva entre Deus e uma pessoa, mas sempre de uma relação de Deus com o Seu Povo Santo, que é constituído por muitos membros, bem enquadrados e disponíveis para colaborar no seu crescimento e santificação, dando aí o seu contributo pessoal.
A vocação sacerdotal supõe uma relação muito profunda de amizade com Jesus Cristo, é fruto de um chamamento divino e de uma decisão pessoal, mas resulta também sempre da abertura aos irmãos e da disponibilidade para servir a Igreja. Hoje, facilmente se confunde vocação com intimismo, com busca de felicidade e realização, com gosto pessoal pelas coisas de Deus ou com a atração por algum dos elementos constitutivos da ação ou da espiritualidade eclesial.
A figura de Pedro, o discípulo que confessa Jesus como o Messias e o Filho de Deus vivo, a pedra sobre a qual o Senhor quis edificar a sua Igreja, dá-nos a perspetiva da eclesialidade do discipulado missionário e do ministério sacerdotal. A sua resposta ao chamamento de Jesus junto ao Lago da Galileia insere-o na comunidade dos Apóstolos e situa-o, unido a Cristo, no centro da Igreja nascente; a sua confissão de fé em Cesareia de Filipe, compreende a confissão de fé dos Apóstolos e da comunidade cristã, dos quais se torna porta-voz autorizado em virtude da sua relação privilegiada com Jesus.
O coração de Cristo bate na sua Igreja e o coração do padre tem de pulsar ao ritmo do coração da Igreja e ao ritmo dos seus desafios de sempre, atualizados à luz do Espírito para cada tempo da história. O coração de Cristo bate na Igreja de hoje, e o coração do padre tem de bater na Igreja de hoje, que é autêntica Igreja fiel à sua identidade Católica e Apostólica. Também aqui se pode parafrasear a palavra de Jesus quando pergunta aos seus ouvintes: como podes dizer que amas a Deus que não vês se não amas o teu irmão, que vês? (cf Jo 4, 20). Como amar a Cristo sem amar o seu corpo, que é a Igreja, santa na sua cabeça, mas frágil e pecadora em todos nós os seus membros?

A figura de Paulo oferece-nos a perspetiva do discípulo missionário ou discípulo evangelizador, que é todo o cristão e, de um modo particular, o padre. Ao chegar ao fim da vida, Paulo pôde reconhecer que, por seu intermédio, a mensagem do Evangelho foi plenamente proclamada e todos os pagãos a puderam ouvir.
No contexto em que vivemos, marcado pela diversidade de opções, de perspetivas de vida e de experiências culturais, sociais, religiosas e humanas, o padre precisa de ser alguém profundamente enraizado em Cristo e no seu Evangelho, de estar doutrinalmente preparado, de viver uma espiritualidade profunda e de ter um imenso sentido de Igreja.
O padre não pode exercer bem a sua missão se não conhece as questões humanas mais marcantes do nosso tempo, as situações com que as pessoas se debatem tanto a nível social, como económico, político, moral, familiar ou outro. Desencarnado da realidade, fechado no seu pequeno mundo, encerrado nas igrejas, reduzindo a sua ação à celebração do culto ou à dimensão sacramental, não pode sentir-se um perfeito discípulo de Jesus Cristo, pois ser discípulo inclui sempre a dimensão missionária e evangelizadora.
Com razão o Documento de Aparecida, em parte retomado pela Exortação Apostólica do papa Francisco, insistiu em afirmar que não podemos falar dos cristãos como discípulos e missionários, como se de duas realidades se tratasse, porventura acidentalmente reunidas na mesma pessoa, mas preferiu falar de discípulos missionários, como uma só realidade.
O Padre é, por excelência, discípulo missionário, e tudo o que faz deve estar ao serviço dessa sua radical condição: na liturgia ou na catequese, nas tarefas administrativas ou na condução espiritual do povo, na pastoral especializada ou na piedade popular, no acompanhamento individual, nos pequenos grupos ou na pastoral das massas.

Caros irmãos, André e Manuel, procurai ser sacerdotes, discípulos missionários que, levando Cristo no coração e na vida, partilham alegremente com o Povo de Deus a graça que receberam. Escolhidos de entre os homens, procurai estar entre os homens a quem sois enviados, numa relação de proximizade, como irmãos e como amigos. Neles encontrareis o suave odor da santidade que vos há-de edificar e ajudar a viver a vossa vocação; encontrareis também neles o odor do seu desalento, da sua miséria e do seu pecado, que vos poderá perturbar e trazer a tentação de desistir.
Num caso ou noutro, conforte-vos a certeza de que, no entusiasmo ou nas tribulações, o Senhor estará sempre a vosso lado com a sua força, de modo que nunca desfaleçais. Se perseverardes fielmente até ao fim e guardardes a fé, Ele vos livrará de todo o mal e vos dará a salvação no seu reino celeste, como Paulo confessava na Segunda Epístola a Timóteo.
Não vos faltarão os sinais da proteção de Deus de que falava o Livro dos Atos dos Apóstolos, no meio das perseguições, calúnias e insultos por causa do seu nome, como promete a derradeira bem-aventurança aos que incarnarem com amor o espírito do Evangelho. Não vos faltará também o apoio e o carinho do Povo de Deus, alegre e agradecido, se o servirdes fielmente e numa dedicação total, como o serviu Cristo com um amor tão grande, que o levou até à cruz.

Unidos na oração, todos imploramos para vós a proteção de Nossa Senhora, a Mãe dos Sacerdotes, para que o seu coração seja sempre o vosso refúgio. Entregai-vos nos seus braços, consagrai-lhe a vossa pessoa e a vossa vida e ela vos conduzirá sempre ao coração de Deus por meio de seu Filho Jesus Cristo.

Coimbra, Sé Nova, 29 de junho de 2014

 

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